Alemanha tem maior discrepância salarial entre gêneros na Europa
23 de março de 2012Embora as mulheres jamais tenham tido uma formação profissional tão boa quanto hoje em dia, pelo menos na Alemanha elas continuam não conseguindo se impor no mercado de trabalho. "Em 2011, as alemãs ganharam 23% menos do que os homens", diz Roland Günther, do Departamento Federal de Estatísticas. Para a prestação de serviços autônomos ou científicos, por exemplo, as mulheres receberam no último ano uma média de 17 euros (brutos) por hora enquanto os homens ficaram com 25 euros/hora, em média.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) chegou à conclusão de que em nenhum país europeu a discriminação salarial das mulheres é maior que na Alemanha. "Esta é, de fato, uma injustiça gritante que ainda temos. E isso mais de 50 anos depois de a igualdade salarial ser claramente determinada pelo Tratado de Roma [documento fundamental das instituições europeias, assinado em 1957]", diz Astrid Rothe-Beinlich, porta-voz do Partido Verde para questões relacionadas aos direitos femininos.
Necessidade de medidas legais
Diante dessa situação, Rothe-Beinlich defende uma "lei de igualdade salarial", que obrigaria as empresas a analisar e acabar com a discriminação salarial, incluindo também possibilidades de sanções em casos de descumprimento. "Conclamamos os sindicatos e as empresas a definir suas diretrizes salariais coletivas de forma que tais desvantagens sejam excluídas", completa.
Segundo a representante dos verdes, outra razão importante para a triste posição da Alemanha como campeã europeia de discriminação salarial, é a legislação fiscal do país, claramente obsoleta e calcada até hoje no modelo de um mantenedor do lar, com as mulheres representando papel subordinado no orçamento doméstico.
Isso fica visível no sistema de classes tributárias, por exemplo, ou na possibilidade de assegurar gratuitamente as esposas. "Aqui, criam-se incentivos para que as mulheres fiquem em casa, em vez de participar, de fato, da aquisição de renda", analisa Astrid Rothe-Beinlich.
Mulheres na presidência empresarial: um tabu
No entanto, a Alemanha não é a última do ranking apenas na questão salarial das mulheres. Nos andares superiores das empresas do país, os homens estão praticamente entre si: apenas 4% dos cargos de presidência são ocupados por mulheres. Entre as posições de nível médio e alto, contudo, pode-se observar uma tendência de mudança.
"Depois da inserção da quota feminina na Deutsche Telekom, em março de 2010, a percentagem feminina nos cargos médios e altos aumentou de 19% para 24,7%", registra Anne Wenders, porta-voz da empresa. Nos cargos de presidência, contudo, as mulheres continuam evidentemente subrepresentadas.
As razões para tal são diversas. Se as pessoas em posição de chefia acreditam que para as mulheres família e carreira profissional não são compatíveis, elas lhes darão menos incentivo do que aos homens. Em muitas empresas, não é problema uma funcionária chegar a um cargo de média gerência. Porém encontrará uma barreira, se tentar galgar até os postos mais elevados. Isso se deve ao fato de as redes masculinas alcançarem até a presidência, enquanto para as mulheres, o "topo" fica mais abaixo na hierarquia empresarial.
Líderes do futuro
Tudo indica que apenas competência profissional e vontade não bastam para aumentar a percentagem de mulheres em posições de liderança. Enquanto anos 1990 o incentivo às mulheres se apoiava na compatibilidade entre profissão e família, hoje se apela para as quotas.
"Não acreditamos que a percentagem de mulheres em cargos altos irá aumentar pos si mesma", revela Astrid Rothe-Beinlich. Seu próprio partido, diz ela, acumulou muita experiência com o sistema de quotas, que ela considera incomparável em termos de eficácia. "Por isso defendemos a introdução de regras compulsórias de quotas", conclui a política verde.
Nos últimos anos, tem se abordado cada vez mais as questões de gênero e diversidade (gender and diversity) dentro de firmas conceituadas, principalmente nas multinacionais. Isso também se deve ao fato de que, ao que tudo indica, falta, em diversos setores, pessoal qualificado para os cargos de liderança. Outro fator é uma tendência demográfica atual, que redundará em escassez de mão-de-obra. As mulheres são consideradas uma "reserva de talentos", que se tornará indispensável no futuro.
Autora: Ulrike Hummel (sv)
Revisão: Augusto Valente