Alemanha vai transformar arma química da Síria em sal
9 de abril de 2014Décadas após o final das duas Guerras Mundiais, armas químicas daquela época ainda são encontradas na Alemanha. Esse arsenal foi constituído para a guerra de gás, que aconteceu entre 1915 e 1918, ou para a Segunda Guerra Mundial. Embora essas armas praticamente não tenham sido usadas entre 1939 e 1945, tanto os Aliados quanto os alemães possuíam um grande arsenal de gases mostarda, tabun e sarin. Após o final do conflito, dezenas de milhares de granadas e tambores com esse armamento mortal foram jogados no mar ou enterrados.
Atualmente, quando a herança dessa fase retorna à terra firme ou é encontrada durante construções, as armas químicas são enviadas para uma empresa especializada em Munster, no norte do país. Na sede da Sociedade para Eliminação de Armas, Resíduos e Armamento Químico (Geka), armas químicas e também toneladas de munições convencionais são destruídas em fornos de incineração especiais há décadas.
O prédio da empresa está localizado dentro de uma área de treinamento militar, que fica entre Hamburgo e Hannover, e possui cerca de 167,5 quilômetros quadrados – o equivalente a mais de 23 mil campos de futebol. A Geka pertence ao governo alemão e está subordinada ao Ministério da Defesa, é a única instalação na Alemanha que destrói armamento químico.
Por esse conhecimento, o governo federal alemão se ofereceu para destruir o arsenal químico da Síria. A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) aceitou a colaboração e a Geka deve receber uma parte dessas armas químicas no segundo semestre deste ano.
Hidrólise em alto mar
A instituição alemã irá receber os resíduos das 21 toneladas de gás mostarda, engarrafados em tanques de aproximadamente seis metros, que serão transportados por navio e depois caminhão ao norte da Alemanha.
O gás mostarda não será neutralizado em Munster. A neutralização, por meio da hidrólise, será realizada em um navio de guerra dos Estados Unidos que se encontra no Mediterrâneo. A Geka receberá apenas a água residual desse processo.
Por meio da pressão, água quente e soda cáustica, as 21 toneladas de gás mostarda serão transformadas em 370 toneladas de hisdrolisado, composto que leva 72% de água. "A água residual da hidrólise do gás mostarda equivale a resíduos industriais tóxicos", afirma o especialista em armas químicas Jean Pascal Zanders.
Teoricamente, esse resíduo poderia ser queimado em incineradores comuns. Para Zander, é sensato trazer esse líquido para a Alemanha, pois o thiodiglycol resultante da hidrólise poderia ser novamente usado para a fabricação de gás mostarda, embora essa reciclagem seja extremamente complicada. Além disso, a experiência e o conhecimento da Geka seriam outra vantagens.
Anos de experiência
A destruição do arsenal químico sírio no Mar Mediterrâneo foi alvo de protestos na região. Em Munster, no entanto, a operação não teve oposição – além de ser rotineira para os funcionários da Geka. "Nós trabalhamos há muitos anos com a destruição de armas químicas e estamos preparados para isso", afirma o gerente técnico da instituição, Andreas Krüger.
Segundo o gerente, o desafio no atual trabalho é a grande quantidade. "Nós precisamos instalar uma alimentação extra para esse resíduo líquido, pois a unidade não possuía isso. Mas não foi um grande problema técnico", afirma Krüger.
A queima desse líquido no forno de incineração especial deve durar cinco meses. No final do processo, restarão apenas vapor d'água e alguns sais.
"São sais do próprio processo, nesse caso, o cloreto de sódio – sal de cozinha – da neutralização. Além disso, há os sais que vêm da lavagem da fumaça dos gases. Ou seja, quando os gases da combustão estão limpos, os sais caem", conta Krüger, acrescentando que esses sais são sempre armazenados no Geka. Eles são guardados em tambores e levados ao depósito de longo período.
Atualmente, o gás mostarda da Síria está em um navio localizado em águas internacionais. A neutralização deve começar em maio no navio de guerra norte-americano, quando os outros elementos utilizados para fazer armas químicas forem retirados da Síria. Para a neutralização de todo o material, especialistas do Exército dos Estados Unidos precisariam de 45 a 90 dias.
Depois do transporte até a Alemanha e do trabalho na Geka, que deve durar cinco meses. Provavelmente em 2015, os resíduos das armas químicas da Síria serão guardados no depósito subterrâneo de Sonderhausen, no estado da Turíngia.