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Desenvolvimento sustentável

Geraldo Hoffmann9 de novembro de 2007

Consultor brasileiro da área de biocombustíveis elogia engajamento socioambiental de empresas alemãs, mas garante que também o criticado agronegócio verde-amarelo está reagindo a críticas e se tornando mais sustentável.

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Carlo Pereira, de Ribeirão Preto-SP, participa de treinamento na AlemanhaFoto: Carlo Pereira

Vinte profissionais do Brasil, Peru, Chile, México, Costa Rica e Colômbia participam de um treinamento de um ano na Alemanha, como parte de um Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. O projeto, financiado pelo Ministério alemão da Cooperação Econômica (BMZ), é desenvolvido pela InWent e pelo Centro de Gerenciamento Sustentável da Universidade de Lüneburg.

Os participantes foram selecionados entre 50 candidatos, num curso à distância com duração de seis meses. A fase de treinamento na Alemanha dura um ano. Depois disso, eles retornam aos seus países, onde completam o mestrado com um projeto de transferência de conhecimento e a elaboração de uma dissertação.

A InWent resultou da fusão, em 2002, da Sociedade Carl Duisberg e da Fundação Alemã para o Desenvolvimento Internacional. A empresa de direito público sediada em Bonn é especializada na formação de recursos humanos e organizações no âmbito da cooperação internacional, atendendo cerca de 55 mil pessoas nos cinco continentes. Uma delas é o brasileiro Carlo Linkevieius Pereira, que em entrevista à DW-WORLD.DE fala de sua experiência no mestrado na Alemanha.

DW-WORLD.DE: O que os brasileiros podem aprender dos alemães em termos de gerenciamento sustentável de empresas?

Carlo Pereira: Segundo Achim Steiner, diretor geral do Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente], 5% das exportações alemãs são de produtos relacionados à tecnologia de meio ambiente, o que retrata a responsabilidade do empresariado alemão. Portanto, no que tange a assuntos de responsabilidade socioambiental a Alemanha tem muito a nos oferecer.

Essa transferência de conhecimento pode se dar através de transferência de tecnologia, ou então, como é o nosso caso, da inserção de profissionais em suas instituições e realidades, tendo essas pessoas a oportunidade de acumular discussões e conhecimento técnico, podendo fomentar medidas para melhorar a sustentabilidade empresarial em seus países.

Quem está mais avançado no campo da responsabilidade social empresarial (CSR): o Brasil ou a Alemanha?

Para fazer essa análise podem ser tomados como parâmetros o número de certificados das séries ISO 9000 e 14000, SA8000, o índice de corrupção, etc. Segundo o ranking de responsabilidade social da ONG Accountability e da Fundação Dom Cabral, a Alemanha está na 11ª posição, enquanto o Brasil ocupa a 56° lugar.

Mas acho complicado esse tipo de comparação quando podemos observar que os países que lideram o ranking de CSR também são os que têm melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nesse índice, o Brasil é o 7° da América Latina e o 2° no bloco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Estou certo de que o Brasil, com iniciativas como as do Instituto Ethos, da Fundação Abrinq, entre outras, está no caminho certo.

"Economia sustentável" é um dos temas do treinamento da InWent. Na Alemanha e na Europa em geral se questiona cada vez mais a sustentabilidade de um dos pilares da economia brasileira: o agronegócio. Até que ponto o agronegócio brasileiro – especialmente a produção de soja e etanol – é social e ecologicamente sustentável?

Essa é exatamente a minha área de atuação. No momento, trabalho em um projeto de certificação da sustentabilidade de biocombustíveis. Historicamente, as culturas de soja e cana-de-açúcar no Brasil têm problemas ambientais e sociais, sendo que alguns desses ainda perduram.

Porém, nos últimos anos, devido a pressões de organizações não governamentais e do mercado externo, assim como à percepção por parte do governo e dos empresários do setor de que a melhora da sustentabilidade dessa cadeia produtiva está diretamente associada ao ganho de competitividade, muitos projetos têm sido desenvolvidos almejando a melhora da sustentabilidade do setor.

Há muito a ser desenvolvido, mas grandes passos já foram dados por parte de unidades produtivas e por associações, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), em direção a um agronegócio sustentável no Brasil.

Deutschland InWent Teinehmer des MBA Nachhaltige Entwicklung des CSM-Lünerburg
Participantes do Mestrado em Desenvolvimento Sustentável no BMZ, em BerlimFoto: InWent

Até agora, as empresas não são obrigadas a seguir normas e diretrizes nacionais e internacionais referentes à responsabilidade social e ambiental. E isso também não deve mudar com a ISO 26000. Essas normas deveriam se tornar leis?

Devido à globalização, as externalidades de um setor e/ou empresa estão cada vez mais visíveis à sociedade global, que se tornou muito poderosa nas últimas décadas através das ONGs. Com isso, o nível de conscientização por parte dos stakeholders [todos os segmentos que influenciam ou são influenciados por uma organização] aumentou as exigências por processos, assim como por condutas ambientalmente corretas e socialmente justas.

Portanto, as lideranças empresariais já perceberam que adotar normas e diretrizes, como as da ISO, SA8000, GRI [sigla em inglês que significa Global Reporting Initiative], não é uma estratégia apenas para nichos mercadológicos e, sim, um ponto fundamental para a manutencão da competitividade empresarial.

A série ISO 26000 não é certificável. Ela será um guia para a prática de responsabilidade social. Isso mostra que o mercado está cobrando por si a incorporação de medidas sustentáveis no cotidiano da gestão empresarial, mesmo não sendo leis.

Pela sua experiência, realmente acontece nos cursos da InWent uma transferência de know-how (norte-sul), ou é muita teoria sem proveito prático para países em desenvolvimento ou emergentes como o Brasil?

Pude perceber claramente essa transferência, mas não como sendo unilateral (norte-sul) e, sim, um intercâmbio de conhecimento e experiências entre ambas as partes. Além da parte teórica do MBA em Desenvolvimento Sustentável, participamos de vários seminários e discussões que tangem o tema.

Acrescente-se a isso o fato de termos trabalhado por quatro meses em empresas alemãs e o contato que tivemos com as mais diversas instituições para onde pudemos levar o know-how que temos em nosso campo de atuação, assim como nosso conhecimento sobre o mercado e a cultura da América Latina. Algumas parcerias e negócios foram firmados nesse período.

O programa de treinamento da InWent prevê também a execução de um projeto de transferência de know-how. Qual é o projeto que você pretende desenvolver ao voltar ao Brasil?

Meu projeto é o Operacão Gota Limpa, que está sendo desenvolvido pela empresa Petrobio e pela NESA-Prof. Leandro de Souza, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) da qual sou integrante. Com esse projeto pretendemos melhorar a conscientização socioambiental da população através de cursos e palestras em escolas e centro comunitários.

Além da formação de uma rede social de coleta de óleo de fritura para a produção de biodiesel em nossa miniusina que está sediada em Jaboticabal (SP), com apoio da prefeitura municipal, através do programa de incubadoras de empresas. Com esse programa, almejamos trazer a discussão dos biocombustíveis e de outros temas socioambientais para mais perto da população.

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Carlo Linkevieius Pereira, MBA em Desenvolvimento Sustentável e Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, é consultor na área de biocombustíveis e atualmente desenvolve um projeto relacionado à certificação da sustentabilidade de biomassa.