1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Alemanha não deve alcançar meta de redução de emissões para 2020

André Leslie (cn)25 de julho de 2014

Ministério do Meio Ambiente admite que país deve ficar atrás do objetivo de 40% antes estipulado. Especialistas preveem quadro ainda pior. Emitindo grandes quantidades de CO2, usinas a carvão continuam a ser vilãs.

https://p.dw.com/p/1CitJ
Foto: picture-alliance/dpa

O Ministério do Meio Ambiente alemão admitiu nesta semana que o país provavelmente não vai alcançar sua meta de redução de gases do efeito estufa. A ministra da pasta, Barbara Hendricks, afirmou que a Alemanha está em vias de reduzir em 33% essas emissões até 2020, em relação aos níveis de 1990. Tal redução é inferior à meta anteriormente estipulada, de 40%.

Bärbel Höhn, deputada do Partido Verde, alega que a meta não será alcançada, porque o país não fez o suficiente para tornar a proteção climática uma prioridade. "[A chanceler federal] Angela Merkel costumava ser a rainha do clima na Europa. Mas, desde que a Alemanha ocupou a presidência do Conselho da União Europeia [em 2007], não houve avanços suficientes", considera.

A deputada afirma que os planos iniciais para a mudança da matriz energética retrocederam e que a Alemanha continua operando usinas termelétricas movidas a carvão, sem qualquer perspectiva de eliminá-las.

"O país conseguiu muitos avanços na área de proteção climática, mas deixou de ser visto como o principal exemplo nos últimos anos. E o mesmo pode ser dito da União Europeia (UE)", afirma Höhn.

Com relação às últimas estimativas do Ministério do Meio Ambiente, a deputada afirma que o déficit na meta de redução poderia ser ainda maior, considerando que as estimativas do governo alemão foram baseadas numa taxa de crescimento econômico de 1,4%.

"Nos últimos anos, a Alemanha cresceu mais do que 2%. Mesmo que esse crescimento continue a 1,7%, digamos, isso poderia significar que ficaremos a outros 2% de distância das metas de redução de emissões", diz.

Uma pesquisa da organização ambientalista WWF na Alemanha aponta para um quadro ainda pior: o país poderia ficar a 10,7% de atingir os objetivos de redução de emissões previstos para 2020.

Entretatanto, quando comparadas às metas europeias, as alemãs – de 40% até 2020 e 55% até 2030 – são bem mais ambiciosas. A Europa almeja uma redução de apenas 20% até o fim desta década.

Carvão e CO2

A notícia da estimativa deficitária foi revelada pelo Ministério do Meio Ambiente no mesmo dia em que a WWF lançou um relatório sobre as trinta usinas termelétricas movidas a carvão mais poluentes da Europa – intitulado, em inglês, Europe's Dirty 30. Entre as cinco usinas no topo da lista, quatro estão na Alemanha.

Há anos, ambientalistas afirmam que a indústria do carvão é uma pedra no caminho da mudança da matriz energética. Mas para Lothar Lambertz, da RWE Power – uma das maiores produtoras de energia a partir do carvão no país –, não é possível reduzir o problema de emissões de gases do efeito estufa focando somente num setor.

Deutschland RWE-Kraftwerk in Rommerskirchen
Quatro usinas de carvão alemãs estão entre as cinco mais poluentes da Europa, segundo a WWFFoto: picture-alliance/dpa

"Eu posso falar somente em nome da RWE, é claro, mas digo que fizemos muito no sentido de reduzir os níveis de CO2 emitidos por nossas usinas", afirma. Lambertz afirma que reformas em suas instalações levaram a RWE a produzir 9 milhões de toneladas de dióxido de carbono a menos por ano.

Ele acrescenta que o carvão é uma opção estável e barata, especialmente depois que a Alemanha decidiu desligar todas as usinas nucleares, após o acidente em Fukushima. "Se 10 mil megawatts são retirados da rede, eles precisam ser substituídos em algum lugar", completa.

Comércio de licenças

Para Juliette de Grandpré, da WWF, o motivo pelo qual a Alemanha e outros países europeus não conseguem uma maior redução das emissões de gases do efeito estufa é o principal instrumento europeu de redução, o Regime Comunitário de Licenças de Emissão (RCLE-UE).

Nesse modelo, poluidores são forçados a comprar licenças para pagar por suas emissões de dióxido de carbono que vão além do limite estipulado pela UE. Normalmente, uma licença custa cerca de 5 euros para cada tonelada de CO2 produzida a mais.

"Temos que tentar reformar o sistema de comércio de emissões. Afinal, ele tem validade até 2050, e nós precisamos dele, pois é o principal instrumento para a redução de CO2", diz Grandpré.

A maioria dos especialistas concorda que, no momento, o preço das licenças é muito baixo para motivar as empresas a realmente reduzirem suas emissões. Esses valores resultam de uma oferta excessiva de licenças, bem como do fato de que algumas empresas compram certificados mais baratos fora da UE, afirma a especialista.

Grandpré e Höhn concordam que estipular um preço mínimo para as licenças, como já acontece no Reino Unido, é o único caminho para tornar o mercado de emissões mais eficiente.

Por sua vez, o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha afirma que uma série de medidas precisa ser tomada para que o país tenha chance de alcançar a meta de redução de emissões inicialmente estipulada para 2020.