Partido
16 de junho de 2007A Alemanha tem um novo partido socialista. O Partido de Esquerda, do Leste alemão, e a Alternativa Eleitoral Trabalho e Justiça Social (Wasg), do Oeste do país, selaram no sábado (16/06), em Berlim, uma fusão histórica.
Após dois anos de preparo, cerca de 800 delegados votaram a favor da união partidária, com apenas duas abstenções. O novo partido, com 72 mil filiados, terá uma presidência dupla, a ser exercida por Oskar Lafontaine e Lothar Bisky.
Reunificação selada
Para o chefe da bancada da Esquerda no Parlamento alemão, Gregor Gysi, esta é a primeira autêntica fusão alemã-alemã após a reunificação, pois até então o país só teria vivenciado a adesão dos alemães orientais às estruturas ocidentais. A constituição de um partido único de esquerda na Alemanha sela o processo de reunificação alemã do ponto de vista organizacional, assinalou Gysi.
Garantir a igualdade de chances no Leste e no Oeste do país é uma das prioridades do novo partido. Gysi, que presidia o Partido Socialista Unitário da Alemanha [Oriental] (SED) quando este foi transformado no Partido do Socialismo Democrático (PDS), acha que o Leste alemão é instrumentalizado como um mero campo de experimentação para os cortes sociais ditados pelo Oeste do país.
A Esquerda defende o socialismo democrático, um regime que – na visão do líder da bancada Gysi – condiz muito mais com a Constituição alemã do que o capitalismo. "Liberdade através do socialismo" é uma das convicções que norteiam o novo partido.
"Ousar mais democracia"
Outra meta da Esquerda é reforçar os mecanismos de democracia direta. Para Lafontaine, a democracia está em crise. Ele sente falta da iniciativa de greve política entre os alemães: "Precisamos de novas formas de combate através das quais a população consiga impor sua vontade", declarou ele. Ex-presidente do SPD, Oskar Lafontaine afastou-se da política na época da ascensão de Gerhard Schröder, em 1999, e retornou à vida pública em 2005, para se candidatar às eleições parlamentares pela nova aliança eleitoral entre forças de esquerda no Leste e no Oeste do país.
A Esquerda se considera herdeira da tradição do movimento trabalhista alemão, apontando Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht como referenciais. Para ambos os ativistas socialistas alemães, assassinados pela polícia em 1919, socialismo e democracia eram indissociáveis.
Mas também o político social-democrata e ex-premiê alemão Willy Brandt, com seu lema "ousar mais democracia", representa uma importante referência para o novo partido.
Além da meta de restabelecer o Estado social na Alemanha, a Esquerda reivindica mais empenho no combate à pobreza entre crianças e jovens, sustentabilidade ecológica sem exclusão social e a retirada dos soldados alemães do Afeganistão.
"Cadáver socialista"
A fusão da esquerda de ambas as partes do país em um novo partido gerou alarmismo entre conservadores, liberais e social-democratas da Alemanha. Remetendo-se ao fato de A Esquerda provir em parte do partido único que sustentou a ditadura socialista na Alemanha Oriental, os conservadores e políticos de centro-direita reagiram à fusão com declarações anticomunistas.
"Os pós-comunistas não devem ter lugar na Alemanha", declarou o parlamentar democrata-cristão Ronald Pofalla. O presidente do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, declarou ser "contra o reavivamento do cadáver socialista".
O social-democrata Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão da Defesa, aconselhou seus correligionários a não subestimarem A Esquerda. Ele alertou que o programa do novo partido levaria a Alemanha à pobreza e ao isolamento em relação ao resto do mundo.
A maior dificuldade da Esquerda continua sendo, mesmo após a fusão, a diferente proveniência de seus correligionários, alemães do Leste que só tiveram a perder com a reunificação do país e social-democratas e sindicalistas do Oeste contrários à política neoliberal de centro-direita. (sm)