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Alemanha fará entrega controlada de heroína a dependentes extremos

Thiago Barbosa26 de janeiro de 2002

A distribuição vai começar no final do próximo mês nas salas de acompanhamento de consumo de drogas. Especialistas criticam a medida, alegando que chegou tarde demais e pedindo atenção do governo para outras drogas.

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Abuso de drogas pesadas causa mais de duas mil mortes por ano na AlemanhaFoto: AP

A partir do final de fevereiro, uma iniciativa do Ministério da Saúde da Alemanha vai introduzir a distribuição controlada de heroína a determinados dependentes biológicos extremos. O objetivo é reduzir o número de mortes pelo uso do produto ilegal.

Os dependentes serão cadastrados e selecionados nas 20 salas de acompanhamento de consumo de drogas espalhadas pelas grandes cidades da Alemanha. Em Hamburgo, por exemplo, existem oito destas repartições, onde os viciados recebem seringas e têm acompanhamento médico.

A primeira cidade a abrigar o programa será Bonn, onde os dependentes começarão a receber as doses de heroína no final do mês de fevereiro, as demais salas de acompanhamento ainda estarão se preparando e listando os usuários.

A iniciativa pretende alcançar 1120 dependentes e fornecer doses controladas de heroína para a metade deles, os demais serão tratados com o produto sintético Metadona, que supre o viciado com os componentes químicos de que o corpo sente falta.

"O projeto quer atingir o tipo de dependente que até agora não foi alcançado por todos os outros programas de ajuda aos viciados", explicou Michael Krausz, especialista em dependentes do Ministério da Saúde.

Já vem tarde –

O programa será implantado um ano após a diminuição no número de mortes decorrentes do uso das drogas. Em 2001, o número de casos, ainda não divulgados oficialmente pelo governo, não vai atingiu 2000 em toda a Alemanha, enquanto o número de mortes no ano anterior havia sido de 2030.

Porém, a notícia não é vista como animadora por muitos especialistas. De acordo com a secretaria de segurança pública da Baixa Saxônia, a redução não passa de uma oscilação normal.

A situação mais crítica com relação ao uso de drogas está na antiga Alemanha Oriental, onde o consumo teve um alto crescimento nos últimos dez anos. Segundo informações do departamento federal de combate às drogas, enquanto a cocaína e a heroína passaram a ter um papel secundário, o êxtase passou a ser a maior preocupação do órgão.

Em novembro, um carregamento de 1,6 milhão de comprimidos do ácido alucinógeno foi interceptado pela polícia alemã em Lübeck, o que não diminuiu a rapidez e agilidade com que o êxtase é comercializado em toda a Alemanha, principalmente no Leste do país.

Um levantamento do Instituto de Estudos e Pesquisas Terapêuticas de Munique feito em 2000 com jovens entre 18 e 29 anos dos estados do Leste, revelou que 6,5% deles reconhecem já terem experimentado o êxtase. No oeste, o resultado foi cerca de dois pontos percentuais menor.

Álcool e cigarro –

O responsável pelo departamento antidrogas do estado de Schleswig-Holstein, Wolfgang Kröhn, chama a tenção para as drogas legais. "Há casos de crianças que começam a beber com 12 anos e aos 13 anos dão suas primeiras tragadas. Cerca de 10% dos adolescentes bebem regularmente".

Na opinião de Wolfgang Kröhn, as drogas legais precisam ser combatidas, por serem a porta de entrada do círculo vicioso das drogas pesadas. Estatísticas do governo federal mostram que cem mil pessoas morrem anualmente por causa do fumo e outras 40 mil perdem a vida pelo abuso das bebidas alcoólicas.

A preocupação dos órgãos públicos no Leste do país não poderá parar por aí. O mesmo estudo do instituto bávaro apontou o crescimento de uma nova droga, os cogumelos alucinógenos. Pouco mais de 4% dos jovens já tiveram acesso ao produto. "Assim como outros itens comerciais legais, os jovens da antiga Alemanha Oriental experimentam tudo o que é novo para eles", explica o psicólogo Wolfgang Heckmann, da Escola Técnica Superior de Magdeburgo.