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Arte, natureza, inclusão e cidadania são pilares do Inhotim

Junto à arte contemporânea e ao jardim botânico, a parte social forma um dos três pilares do Inhotim. Analista de Inclusão e Cidadania fala sobre importância do trabalho do instituto junto à comunidade.

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Besucher vor dem Pavillon "Cosmococa" in Inhotim
Foto: Aziz Ary Ziebell

Situado em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, o Instituto Inhotim é um centro de arte contemporânea e um jardim botânico idealizado pelo empresário mineiro Bernardo Paz a partir da década de 1980.

Aproximando obras de arte e circuitos ambientais, o Inhotim foi aberto ao público em 2006, tendo recebido até agora mais de 1,2 milhão de visitantes de todo o mundo.

Hoje, o Inhotim é uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo federal como uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e que se apoia em três pilares: a arte contemporânea, a natureza e as ações sociais.

Em entrevista à DW Brasil, Juliana Oliveira, analista da Diretoria de Inclusão e Cidadania do Inhotim, falou sobre o papel do Inhotim na cidade de Brumadinho, como também sobre a importância do trabalho realizado pelo instituto junto à comunidade.

DW Brasil: Além da arte contemporânea e do Jardim Botânico, um dos três pilares do Inhotim é a parte social, o que o Inhotim faz em prol da população?

Juliana Oliveira: A Diretoria de Inclusão e Cidadania foi instituída em 2007, com o objetivo de aproximar o Instituto Inhotim da comunidade. Hoje se trabalha com três áreas principais. Uma delas é a chamada Música, Arte e Cultura, onde se descobriu que Brumadinho é uma cidade musical e isso fez que se recuperassem as corporações musicais que estavam perdidas. Também criamos alguns corais, onde crianças, adolescentes e idosos podem contribuir para a cidade musical que é Brumadinho, fazendo apresentações em Inhotim e fora daqui.

Juliana Oliveira
Juliana Oliveira: "Inhotim faz parte da comunidade"Foto: Aziz Ary Ziebell

Além disso, tem-se também outra área, chamada Desenvolvimento Territorial, onde se trabalha com o artesanato e a gastronomia, onde também se busca a descentralização do acesso ao Inhotim, e tudo em forma de rede. Descobriu-se que em Brumadinho havia dez grupos de artesãos que trabalhavam informalmente, comercializando seus produtos. Nós os ajudamos a se formalizarem, a criar outras opções de comercialização, inclusive aqui dentro do Inhotim. E, da mesma forma, fizemos isso com os empresários de hotelaria e gastronomia, onde se criou um grupo para melhorar a qualidade do serviço, da mão de obra local, contribuindo assim para o desenvolvimento do turismo na região.

E para descentralizar e democratizar o acesso ao Inhotim, criamos o programa Inhotim para Todos, onde grupos de diferentes idades, de diferentes regiões podem visitar livremente o Inhotim. Outra área de trabalho é o Centro Inhotim de Memória e Patrimônio. Em Brumadinho, há seis comunidades quilombolas, sendo quatro reconhecidas pela Fundação Palmares Visamos recuperar tradições culturais e registrar festas religiosas. Nosso principal objetivo é fazer com que a comunidade se sinta pertencente ao instituto.

As pessoas que trabalham aqui pertencem à comunidade da região de Brumadinho?

Hoje, o Inhotim é o segundo maior empregador de Brumadinho. Procura-se sempre fortalecer isso: para que as pessoas não saiam das suas comunidades em busca de outros lugares para viver, para que elas permaneçam onde estão, para que a memória e a história da comunidade não se percam.

Inhotim-Hombroich: a arte paralela à natureza

Como é feito o treinamento desse pessoal?

Depende da área aonde as pessoas vão se empregar. Se forem jardineiros, elas recebem um treinamento com os próprios jardineiros, alguns vão para a cerâmica, que é outra área que se tem aqui. Hoje em dia, elas são treinadas também por uma equipe de excelência, trabalhando com liderança e desenvolvendo habilidades.

Os funcionários têm um plano de carreira para que possam exercer outras habilidades aqui, de acordo com o que forem estudando. Também oferecemos bolsas de estudo. As pessoas têm a possibilidade de crescer aqui no instituto de acordo com o seu estudo.

O que você quis dizer com a democratização do acesso?

Besucherinnen von Inhotim
Passeio de carrinho pelo parque agradou, diz visitanteFoto: DW/C. Albuquerque

Neste programa de democratização, são favorecidas as pessoas mais humildes, aquelas que não têm condições de chegar ao Inhotim e pagar a entrada, que não têm condições de usufruir a alimentação aqui, por não ter dinheiro. São grupos mais humildes, que nos procuram ou que nós mesmos procuramos, para que venham ao Inhotim sem precisar pagar e tenham acesso livre a todo o acervo.

Que atividades desenvolve o Centro de Memória e Patrimônio?

Fazemos a coleta da narrativa de vida junto aos quilombolas, junto aos antigos moradores da vila de Inhotim, que hoje em sua maioria são funcionários daqui. Entrevistamos também ex-prefeitos, vereadores, pessoas que moraram aqui a vida inteira, para que se possa constituir a história de Brumadinho e disponibilizar isso num equipamento cultural para a comunidade.

Estamos criando esse acervo através de DVD's, fotografias, registros de festas religiosas, registros de outras festividades em que as pessoas puderam ser filmadas. A importância disso está no fato de Brumadinho ainda não ter um equipamento cultural que disponibilize a história da própria região. Além disso, pretendemos expandir para outros municípios e atingir todo o Médio Vale do Paraopeba.

Outra área de desenvolvimento é a música, que atividades se realizam aqui?

Hoje, estamos tentando estabelecer uma orquestra sinfônica a partir de uma Escola de Cordas, que é desenvolvida aqui na comunidade por meio da nossa diretoria. Como a maioria das crianças e jovens possui uma tradição musical, tendo o interesse em participar das bandas que foram dos seus avós e dos seus pais, elas também se interessam em participar da Escola de Cordas e dos corais.

Em relação aos quilombolas, nos concentramos principalmente nas festividades religiosas, como as Guardas de Congado e Moçambique, procurando fazer com que eles entendam a importância dessa identidade cultural, que passa de geração a geração, como também a importância de sua preservação pelo município.

Existe um feedback das pessoas, da comunidade em relação a esse trabalho?

Existe, sim, principalmente quando elas nos pedem para disponibilizar o acervo para elas. Quando vamos às comunidades fazer o registro de festas, por exemplo, elas nos pedem que disponibilizemos esse acervo, para que possam mostrar à própria comunidade como é a tradição cultural ali.

Nesse contexto, existe uma preocupação em não ser paternalista?

Com certeza, temos a preocupação em não ser paternalistas, assistencialistas, mas em detectar as demandas da comunidade e trabalhar junto a ela, tentando fazer com que o Inhotim faça parte da comunidade e vice-versa.

Como as pessoas de Brumadinho veem o Inhotim?

É claro que as opiniões são diversas, mas hoje as pessoas têm consciência de que o Inhotim faz parte da comunidade, e principalmente traz um número enorme de turistas, traz um número enorme de pessoas pesquisando o que a população tem para mostrar e a comunidade é grata ao Inhotim por tentar mostrar isso ao mundo.

A Diretoria de Inclusão e Cidadania surgiu em 2007, um ano após a abertura do instituto. Ela veio para mostrar como o Inhotim faz parte da comunidade, não simplesmente como um parque, como um jardim botânico com um acervo de arte contemporânea que se isola da cidade. Desde o início, a diretoria está mostrando à comunidade qual a importância de eles fazerem parte disso.

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