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Agência dos EUA vai revisar processos de barragens da Vale

14 de fevereiro de 2019

Presidente da mineradora admite que medidas de monitoramento da barragem em Brumadinho "não funcionaram", mas diz que Vale "não pode ser condenada por rompimento, por maior que tenha sido a tragédia".

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Brasilien l Schlammlawine nach Dammbruch
A barragem da Vale em Brumadinho antes do rompimentoFoto: Reuters/Washington Alves

O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou nesta quinta-feira (14/02) que o Corpo de Engenheiros do Exército, uma agência federal dos Estados Unidos, deve revisar todos os processos da mineradora relacionados a barragens.

Criado no século 19, o Corpo de Engenheiros do Exército (Usace, na sigla em inglês), é ligado ao Departamento de Defesa dos EUA e é responsável por planejar e licenciar eclusas e barragens no país. Com 37 mil funcionários, entre militares e civis, o Corpo também firma contratos internacionais de consulta e elaboração projetos. Em 2012, por exemplo, o governo brasileiro contratou o Usace  para estudar o projeto de uma hidrovia no rio São Francisco.

No mesmo anúncio sobre a contratação dos americanos, Schvartsman admitiu que as medidas de monitoramento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, não funcionaram. "A Vale reconhece, humildemente, que seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, já que uma barragem caiu", disse o presidente da Vale em depoimento à comissão externa da Câmara que investiga o rompimento da estrutura em 25 de janeiro, que deixou, até o momento, 166 mortos e 155 desaparecidos.

No mesmo depoimento, Schvartsman também disse que a Vale é "uma joia brasileira" não pode ser condenada pelo rompimento da barragem em Brumadinho "por maior que tenha sido a tragédia".

Desde a tragédia, a Vale tem sido alvo de críticas sobre a forma como operava e monitorava suas barragens de rejeitos de mineração. Documentos obtidos pelo Ministério Público de Minas Gerais apontaram que a estrutura de Brumadinho e de outras noves barragens haviam sido classificadas pela mineradora como em "zona de atenção" no ano passado.

Segundo um dos documentos internos, citado pela Folha de S.Paulo, a Vale chegou a estimar os custos e o número de mortes caso a barragem de Brumadinho se rompesse. A previsão era de que mais de cem pessoas morreriam e de que os custos poderiam chegar a 1,5 bilhão de dólares (cerca de 5,6 bilhões de reais).

A barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, liberou quase 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos minerais e deixou um rastro de destruição em instalações da Vale e numa comunidade de Brumadinho. A lama e os rejeitos também atingiram o rio Paraopeba.

Segundo a Vale, a barragem havia sido inspecionada pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável. No final de janeiro, foram presos dois engenheiros da firma alemã que atestaram a estabilidade e três funcionários da Vale responsáveis pela mina e seu licenciamento. Eles foram soltos na semana passada.

Após o desastre, autoridades investigam se houve fraude nas análises que atestaram a segurança da barragem.

Na semana passada, o depoimento dos engenheiros terceirizados da TÜV-Süd à Polícia Federal vazou para a imprensa. Segundo as TVs Globo e Record, o engenheiro Makoto Namba afirmou que foi questionado por um funcionário da Vale se a TÜV-Süd iria assinar a certificação e  que se sentiu pressionado para atestar a estabilidade da barragem.

O engenheiro disse ainda que assinaria o laudo se a mineradora adotasse recomendações feitas em junho de 2018 e destacou que o questionamento pareceu uma maneira de pressioná-lo a "assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato".

De acordo com a Folha de S. Paulo, o laudo continha 17 recomendações para solucionar problemas de erosão e drenagem da barragem e, assim, garantir a segurança da estrutura.

Trocas de e-mails identificados pelos investigadores revelaram também que, dois dias antes da tragédia, a Vale descobriu problemas nos sensores que monitoravam a barragem e teria informado a TÜV-Süd e a Tec Wise, outra contratada da mineradora.

Namba disse, porém, que só soube do problema depois do rompimento da barragem.

JPS/ots

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