Agrishow cancela abertura após "desconvite" a ministro
30 de abril de 2023A Agrishow, maior feira de agronegócios da América Latina, que ocorre anualmente em Ribeirão Preto (SP), cancelou a sua cerimônia de abertura, que seria realizada na segunda-feira (01/05), após a repercussão de um "desconvite" para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, discursar no evento.
Tradicionalmente, o titular da pasta da Agricultura é um orador de destaque da abertura da Agrishow, ainda mais no início de um novo governo, e Fávaro já havia confirmado sua presença. No entanto, segundo o ministro, o presidente da feira, Francisco Matturro, posteriormente pediu a ele que participasse em outra data, pois o ex-presidente Jair Bolsonaro falaria no evento.
O "desconvite" significou na prática que a feira daria prioridade a Bolsonaro, que terá na Agrishow sua primeira agenda pública no país em 2023, quatro meses após ser acusado de instigar uma tentativa de golpe de estado que resultou na depredação das sedes dos Três Poderes. Em 2022, o setor do agronegócio, em sua maioria, apoiou a candidatura à reeleição de Bolsonaro.
Em reação, o Banco do Brasil, um dos principais agentes financeiros que participam da Agrishow, anunciou que retiraria seu patrocínio à feira, informação confirmada na sexta-feira pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta. A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, que falaria no evento, também cancelou sua ida a Ribeirão Preto. O banco seguirá presente na feira por meio de sua atuação comercial e atendimento aos seus clientes.
Em nota, a Agrishow disse que optou por não realizar a solenidade de abertura "em virtude de toda a repercussão gerada" pela cerimônia. "A Agrishow mantém a sua tradição de ser a principal vitrine do setor apresentando o que há de mais moderno em tecnologia para o agronegócio, soluções para pequenas, médias e grandes propriedades, estimulando a realização de negócios."
"Palanque político"
Fávaro afirmou à jornalista Andreia Sadi, da Globonews, acreditar que o episódio teria sido coordenado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um aliado de Bolsonaro, numa tentativa de constranger o governo politicamente.
"Eu fui desconvidado talvez para evitar algum mal-estar. Foi pedido se não seria melhor eu ir no dia 2. Eu entendi o recado, compreendo", disse o ministro. "Entendo que o Brasil precisa avançar, lá é uma feira de negócios não é um palanque político. Mas se em determinado momento quiserem transformar a Agrishow num palanque político isso é direito de seus organizadores que podem fazê-lo com tranquilidade", criticou Fávaro.
Já o presidente da feira negou que tivesse desconvidado Fávaro para a abertura. Ao Globo Rural, Matturro disse que era sua "obrigação informar o ministro do movimento que está acontecendo em Ribeirão Preto". "Ligamos com a preocupação de informá-lo de que o ex-presidente virá à feira e queremos apenas informar que pode haver um constrangimento para todo mundo", disse.
O primeiro movimento público para cancelar o patrocínio do Banco do Brasil ao evento foi feito pelo ministro Márcio França (Portos e Aeroportos). "Se a Agrishow não quer o governo federal no evento, não sei se Banco do Brasil e o Governo Federal deveriam continuar patrocinando o evento", escreveu ele no Twitter.
Depois, Pimenta se manifestou sobre o tema. "Na medida em que o evento perde sua característica institucional e na medida em que houve essa descortesia com o ministro [da Agricultura] e com o Banco do Brasil, que iria acompanhá-lo no evento, não se justifica mais o patrocínio", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo. "Ou é uma feira de negócios plural e apartidária ou não pode ter patrocínio público."
Bolsonaro em Ribeirão Preto
A presença na abertura da Agrishow marcará a primeira participação de Bolsonaro em um evento público no Brasil desde que o ex-presidente deixou o Planalto e foi acusado de instigar os ataques de 8 de janeiro.
Na última semana, Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro.
Ainda em abril, Bolsonaro prestou outro depoimento à PF para falar sobre sua participação no caso das joias recebidas da Arábia Saudita. Há suspeita que o ex-presidente tenha atuado para incorporar ilegalmente as joias, avaliadas em milhões de reais, ao seu patrimônio.
A agenda completa de Bolsonaro em Ribeirão Preto não foi divulgada. Ao jornal Folha de S.Paulo, ruralistas disseram que ele participará de um churrasco numa fazenda. Apoiadores do ex-presidente também têm afirmado em redes sociais que Bolsonaro pode participar de uma "motociata" na cidade.
bl (ots)