Agenda econômica empurra degelo entre Dilma e Obama
8 de abril de 2015A presidente Dilma Rousseff terá um encontro com Barack Obama neste sábado (11/04), às margens da Cúpula das Américas, no Panamá. A reunião pode marcar a quebra definitiva do gelo instaurado nas relações bilaterais desde meados de 2013 – numa reaproximação que, segundo analistas políticos, tem pano de fundo econômico.
No auge do escândalo, Dilma condicionava uma visita oficial a Washington a um pedido de desculpas de Obama. Recentemente, porém, tem evitado fazer – ao menos em público – qualquer exigência. Sem grande alarde, o degelo já vem, aos poucos, acontecendo.
Sinais disso são as recentes visitas do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, a Washington, e do subsecretário do Tesouro americano, Nathan Sheets, ao Brasil. Assim como o telefonema do vice de Obama, Joe Biden, a Dilma em março, reforçando o convite para uma visita à Casa Branca.
"A questão da espionagem é delicada. Não se sabe se Dilma continuará exigindo desculpas ou deixará o assunto cair no esquecimento. O ponto central são os negócios. O Brasil quer fortalecer sua economia aumentando as exportações para os EUA, que está se recuperando", afirma o cientista político Adriano Gianturco, do Ibmec/MG.
Enquanto nos últimos dois anos a relação de Dilma com Obama era marcada pela frieza, atividades de consultas entre os dois países continuaram acontecendo. Porém, algumas pautas dependem do impulso a nível presidencial para se concretizarem.
Uma delas é o acordo de facilitação de comércio entre os dois países, que está bem encaminhado. Assim como a liberação da exportação de carne in natura brasileira para os EUA, que ainda enfrenta alguns obstáculos. Outra pauta seria o chamado Global Entry, sistema que facilita a entrada de turistas cadastrados. O anúncio oficial era esperado para a visita de outubro de 2013 que Dilma cancelou.
"Há forças conjunturais que empurram os dois países a uma reaproximação. Do lado brasileiro, muitas das apostas de política externa se mostraram infrutíferas, tais como o Mercosul e o acordo com a União Europeia", diz Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia. "Já os EUA não podem pensar numa política para o Hemisfério Sul sem levar em consideração a segunda maior democracia do Ocidente e o segundo maior mercado das Américas."
Esforço americano, reticência brasileira
Quando o caso do monitoramento de comunicações como telefonemas, e-mails e mensagens de celular do Planalto, de empresas como a Petrobras e de cidadãos brasileiros pela Agência de Segurança Nacional (NSA) veio à tona, Dilma exigiu explicações do governo dos EUA. Porém, não ficou satisfeita com as respostas dadas pelos americanos.
Obama tentou colocar panos quentes no caso de espionagem, mas não obteve sucesso após encontros com Dilma nas reuniões do G20 na Rússia, em 2013, e na Austrália, em 2014. Nas duas últimas assembleias da ONU, eles se cumprimentaram, mas não tiveram reuniões bilaterais. Além disso, Obama telefonou a Dilma pelo menos duas vezes – logo após a eclosão do escândalo e, no ano passado, para parabenizá-la pela reeleição.
Em 13 de março último, Biden telefonou para Dilma e refez o convite à presidente. O vice-americano teria oferecido uma visita de Estado em 2016 – que inclui um jantar de gala na Casa Branca e é reservada a aliados mais próximos de Washington – ou uma visita de trabalho ainda neste ano.
A agenda da Casa Branca está cheia e não comportaria mais uma visita de Estado em 2015 – nos próximos meses, Obama vai receber o presidente da China, Xi Jinping, e o premiê do Japão, Shinzo Abe. O último presidente brasileiro a realizar uma visita de Estado aos EUA foi Fernando Henrique Cardoso, em 1995, quando Bill Clinton estava no poder.
"Os dois países são os maiores das Américas e importantes players no que tange a região", afirma o cientista político Leonardo Paz, coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). "É importante que os países tenham um canal aberto para procurar soluções compartilhadas para caso haja outras crises na região, como Venezuela e Honduras."
Apesar da reaproximação, espera-se que Dilma faça um discurso na cúpula do Panamá com críticas a Obama por aplicar sanções à Venezuela. Para o governo brasileiro, é um contrassenso os Estados Unidos encerrarem um embargo de meio século a Cuba e, simultaneamente, congelarem contas de autoridades venezuelanas. O tema espionagem não deve ser mencionado.