'Adoro o som do alemão'
12 de agosto de 2009Deutsche Welle: A linguagem é o instrumento dos escritores, e naturalmente o seu também. Costuma-se dizer que o alemão é uma língua pouco flexível, uma camisa-de-força. O senhor sofre de vez em quando com o idioma ou antes louva suas belezas e sua precisão?
Uwe Timm: Gosto muito da língua alemã. Acho seu som maravilhoso. Quando escrevo, ouço-me falar, por assim dizer. Tenho uma voz na cabeça, embora não fale em voz alta, e acho justamente esse ritmo importante, ao escrever. Reescrevo até que o texto soe realmente bem.
O senhor se irrita com o domínio do inglês na linguagem do dia-a-dia, na ciência, também na política e na economia?
Isso nem me perturba nem aborrece. Muito mais interessante é o que a língua alemã significa e o que ela influencia – a literatura, a cultura comunicada através dela. No momento, o cinema alemão está muito interessante, a literatura alemã voltou a ficar interessante, pois deixou de ser autorreferencial, cerebral e chata, voltou a narrar histórias. Ingo Schulze, Julia Franck e muitos outros autores, também mais jovens – acho muito estimulante. E isso também está sendo percebido em âmbito internacional. De repente, volta-se a traduzir mais literatura alemã. Há muitos anos que não era assim.
Discute-se muito sobre o direito autoral e a proteção do autor na era da internet. Para o senhor, a digitalização, a disponibilização digital dos textos literários é uma chance ou antes uma incorporação hostil?
Acho que é uma grande chance. Afinal, também utilizo a internet para mim. Óbvio, a questão é como lidar com ela. No momento seria, no entanto, absurdo imprimir livros que estão na rede, um romance, por exemplo. Sairia mais caro do que comprar um livro de bolso. Com os e-books é um problema, pois não se pode controlar quem os acessa e baixa. Mas certamente haverá em breve possibilidades jurídicas para tal. O veículo em si, contudo, eu considero uma chance fantástica.
Com grande frequência o senhor trata em seus romances de temas atuais de forma crítica, lança um olhar pensativo sobre a sociedade. A época da crise financeira é interessante para um autor? Os bancos, os malabaristas das finanças, tudo isso de que também já tratou em seu romance Kopfjäger (Caçadores de cabeças, 1991)?
Sim. Justamente Caçadores de cabeças trata bem disso: a forma francamente criminosa como os bancos lidam com os investimentos alheios, todo esse mundo de aparência. Não dá nem para imaginar. O que são 500 bilhões para nós, que já temos problemas com o número 5 mil? Isso me interessou bastante na época. O problema permaneceu, é incrível. Eu me entendo como um cidadão verdadeiramente crítico da sociedade contemporânea, e o sou também escrevendo, é claro, porque isso me interessa. Pois é, a realidade infelizmente não corresponde ao que a gente deseja.
Autor: Cornelia Rabitz
Revisão:Simone Lopes