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Acordo de Zurique

11 de outubro de 2009

Mais de um ano de negociações sigilosas na Suíça levaram a acordo de normalização das relações entre Turquia em Armênia. No entanto agora começa a parte mais difícil, pois resistência em ambos os países é grande.

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Ministros do Exterior Nalbandian e Davutoglu, na cerimônia de assinaturaFoto: AP

Após décadas de animosidades, a Turquia e a Armênia deram importante passo no sentido da normalização de suas relações diplomáticas. Os ministros das Relações Exteriores Edouard Nalbandian (Armênia) e Ahmet Davutoglu (Turquia) fecharam na noite de sábado (10/10), na Universidade de Zurique, um acordo que prevê a abertura das fronteiras entre seus países e a retomada dos contatos diplomáticos num prazo de dois meses. Porém isso não significa o fim dos problemas entre os dois Estados.

Diplomacia sigilosa

Aufnahme diplomatischer Beziehungen und die Wiedereröffnung der Grenze zwischen beiden Ländern Unterzeichnung in Zürich
Universidade de Zurique foi palco da cerimônia de firmaçãoFoto: AP

Após a firmação das atas, os chefes de diplomacia presentes – Hilary Clinton, Serguei Lavrov, Bernard Couchner, Micheline Calmy-Rey, Javier Solana – se abraçaram aliviados. E no domingo as agências de notícias comunicaram grande satisfação em Bruxelas e Washington.

Na realidade, a cerimônia só foi salva graças à intervenção pessoal de Clinton e com a renúncia a declarações finais. E, como aponta Murat Yetkin, do jornal liberal turco Radikal, o atraso de três horas na assinatura dos protocolos foi um sinal de que o processo de aproximação está longe de se completar.

Ancara e Erevan ainda têm a etapa mais difícil diante de si. As duas atas firmadas por seus ministros do Exterior, após mais de um ano de intensiva diplomacia sigilosa na Suíça, ainda têm que ser ratificadas pelos respectivos parlamentos. E lá a resistência deverá ser considerável, sobretudo por parte dos nacionalistas.

Problema Alto Karabakh

Na Turquia, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan teria como conseguir a ratificação formal, acionando a maioria absoluta garantida por seu partido, AKP. Porém, uma mera imposição do acordo desencadearia uma tempestade de indignação. Pois, como lembra Murat Yetkin, no Bósforo se diz que "a estrada para Erevan passa por Baku".

Em outras palavras: do ponto de vista turco, uma verdadeira normalidade com a Armênia só poderá se estabelecer quando estiver resolvido o problema do Alto Karabakh. O enclave no Cáucaso, de população majoritariamente armênia, foi anexado por Erevan, embora, de acordo com o direito internacional, pertença ao Azerbaijão.

Como a Turquia possui estreitos laços culturais e linguísticos com os azeris, há muitos turcos, mesmo entre os mais moderados, que só aceitam uma normalidade com os armênios quando estes se retirarem do Alto Karabakh. Nesse sentido, Onur Öymen, vice-presidente do partido de oposição CHP, classificou o acordo de Zurique como "muito preocupante para o futuro de nosso país".

Massacre de 1915-17

Também do lado armênio a crítica é incontestável. Um membro do "Partido do Patrimônio Cultural", de oposição, afirmou à agência AFP que as atas assinadas trazem "grandes riscos", e que para seu país começa agora um "tempo de insegurança".

Numerosos armênios temem que os massacres de armênios pela Turquia em 1915-17, tachado de "genocídio", não seja condizentemente avaliado pela comissão binacional de historiadores, cuja formação está também prevista no acordo de normalização.

As deportações, execuções, estupros e outros atos de crueldade perpetrados nos últimos anos do Império Otomano custaram a vida de 1,5 milhão de armênios.

"Recompensas" e "traição"

Armenischer Protest gegen Vertrag über Wiederaufnahme der diplomatischen Beziehungen
Protestos em Erevan: 'Nenhuma concessão aos turcos!'Foto: AP

Antes mesmo de ser firmado o acordo com a Turquia, faziam-se ouvir veementes protestos, sobretudo da diáspora armênia nos Estados Unidos, França, Líbano e Rússia. Na véspera da cerimônia, 10 mil pessoas foram às ruas de Erevan.

A liberação da fronteira entre os dois países não está, portanto, assegurada. Ela é de grande importância econômica para a Armênia. Seu fechamento foi decretado por Ancara em 1993.

A União Europeia, representada por seu alto representante para Política Externa, Javier Solana, prometeu em Zurique melhorar as relações com os signatários, em reconhecimento aos esforços de normalização. No entanto, é justamente esse tipo de "recompensa" que os nacionalistas de ambos os países rejeitam como "traição".

Autor: U. Pick / B. Güngor / A. Valente
Revisão: Carlos Albuquerque