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Pesquisa teuto-brasileira

12 de março de 2009

Capes e DAAD assinam novo acordo de parceria estratégica, buscando bases cada vez mais simétrica nas parcerias acadêmico-científicas.

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Diretores do Capes e do DAAD, juntamente com ex-bolsistasFoto: Celilia Bastos

O Convênio de Parceria Estratégica em Ciência e Pesquisa entre Brasil e Alemanha, assinado na quarta-feira (11/02) em São Paulo pelo presidente da Fundação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães, e o presidente do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Stefan Hormuth, reflete uma relação cada vez mais simétrica entre os dois países, simbolizada pelo aumento do número de bolsistas alemães que vêm fazer pesquisas no Brasil – fato impensável na época do início das parcerias entre as duas instituições, há 30 anos.

A assinatura do convênio foi prestigiada pela presença da ministra alemã de Educação e Pesquisa, Annette Schavan. Ela disse ser uma grande alegria estar num país que é um parceiro tão atraente na área de pesquisa e ensino, e ressaltou a importância do trabalho conjunto. "Quando Angela Merkel veio para cá no ano passado, ela deixou claro que ensino e pesquisa têm importância central na Alemanha, e que desejamos o aprofundamento desses laços com o Brasil. O fato de eu estar aqui hoje é mais uma demonstração dessa vontade."

Ao auditório repleto de ex-bolsistas da Capes e do DAAD na Universidade de São Paulo (USP), a ministra alemã defendeu a crescente internacionalização das universidades na palestra sobre "A importância da educação e da ciência para o desenvolvimento de sociedades modernas". Em seguida, foi assinado o convênio, que concretiza intenções firmadas em Bonn em outubro do ano passado, em outro acordo bilateral.

Brasil e Alemanha com pontes para África

Unterzeichnung eines Abkommens zwischen dem DAAD und CAPES
Na assinatura do convênio, da esq. para a dir.: Stefan Hormuth, Annette Schavan e Jorge GuimarãesFoto: Celilia Bastos

Uma das principais novidades tornadas concretas com o convênio é que agora as relações bilaterais também envolverão terceiros países, num novo caminho que leva à África. Segundo Hormuth, tanto a Capes quanto o Brasil têm ampla experiência com países africanos – a Capes, com projetos de pesquisa e ensino com países lusófonos, e o DAAD com projetos que promovem o desenvolvimento do ensino em países africanos diversos, por exemplo, ajudando escolas técnicas a se fortalecerem. "Agora vamos juntar essas experiências num projeto de enorme dimensão, tanto em termos de investimento quanto de abrangência."

Hormuth diz que "milhões de euros" serão investidos tanto por DAAD quanto pela Capes, sem ainda especificar valores. O projeto vai beneficiar pesquisadores de países africanos lusófonos, que, ao virem com uma bolsa para o Brasil, deverão ter a possibilidade de complementar a pesquisa na Alemanha. Os detalhes ainda serão definidos em breve. A largada será dada no início de 2010, e no segundo semestre deste ano já será realizado o primeiro projeto-piloto com um grupo de pesquisadores.

"Esta parceria simboliza uma nova qualidade na cooperação e vai incentivar diretamente jovens estudantes e pesquisadores de países lusófonos", resume Hormuth.

"Há muitos anos a Capes e o DAAD nutrem uma parceria de muito sucesso, e agora firmamos as metas dessa relação para os próximos anos", disse o presidente do DAAD à DW-WORLD.DE.

Mais investimentos e pesquisadores alemães

O convênio consolida as relações entre as duas instituições em bases mais simétricas, explica o diretor de Relações Internacionais da Capes, Sandoval Carneiro Júnior. "Isso vale tanto em termos financeiros quanto em relação ao intercâmbio de pesquisadores". Tradicionalmente, o Brasil investe mais do que a Alemanha nos programas bilaterais. Agora, a Alemanha deverá apresentar uma participação maior.

O convênio assinado prevê também maior esforço na consolidação da dupla titulação para doutorandos que transitam entre os dois países. "Vamos incentivar mais esse tipo de parceria, mas o convênio deve ser firmado diretamente entre as duas instituições envolvidas, já que elas têm autonomia para tal", diz Carneiro.

Outro fenômeno comemorado durante o evento é que o fato de que, na via de pesquisa entre Brasil e Alemanha, o caminho que traz alemães para estudar no Brasil está sendo cada vez mais procurado. No início, a regra era o fluxo na via oposta. "Antes, o Brasil precisava muito da Alemanha e de países mais desenvolvidos para alavancar a pesquisa no país. E continua precisando, mas temos amplas condições de realizar pesquisas de maneira que seja mutuamente benéfico para ambos os países", disse Carneiro na abertura.

Relação bilateral sem caráter desenvolvimentista

Presente na abertura da Ecogerma nesta quinta-feira (12/03), o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, falou à imprensa sobre as áreas de excelência que vêm atraindo pesquisadores para o Brasil. "Há 30 anos, a cooperação era muito unilateral, ou seja, era brasileiro indo aprender na Alemanha. Hoje, o Brasil também tem muito a ensinar, principalmente em áreas como biocombustíveis, a pesquisa no agronegócio, a exploração de petróleo em grandes profundidades, a área de aeronáutica."

De fato, foi recorde o número de alemães que vieram fazer seu doutorado no Brasil com bolsa do DAAD, em 2008, chegando a 76. Na via oposta, a média anual de bolsistas da Capes e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que foram para a Alemanha nos últimos três anos variou entre 80 e 100.

O esforço do DAAD para manter o networking entre seus ex-bolsistas era visível no evento de assinatura do convênio, que também inaugurava uma reunião de ex-alumni. O anfiteatro Camargo Guarnieri, da USP, estava lotado deles – tanto brasileiros que passaram temporadas na Alemanha no passado e hoje são professores experientes em suas áreas, quanto jovens alemães que atualmente estão no Brasil fazendo suas pesquisas.

Da Universidade de Colônia para a PUC-Rio

Unterzeichnung eines Abkommens zwischen dem DAAD und CAPES
Para bolsista Sanjay Jena, Brasil virou 'um vício'Foto: Júlia Dias Carneiro

Um deles era Sanjay Jena, que representou o grupo de bolsistas alemães com um pequeno discurso na abertura, agradecendo em nome de todos e ressaltando o alto nível acadêmico brasileiro. Jena tem 28 anos, estudou Informática na Universidade de Colônia e agora está prestes a defender sua tese de mestrado em Informática na PUC-Rio.

À DW-WORLD.DE, Jena contou que a vontade de estudar no Brasil surgiu depois de trabalhar numa colônia de férias cultural para crianças no Rio de Janeiro, aos 22 anos. A relação com o país acabou virando "um vício": "Sempre procurava motivos para voltar, até conseguir a bolsa de mestrado", explicou.

Jena destaca algumas vantagens do sistema de ensino brasileiro: "os grupos de alunos são bem menores e a hierarquia entre aluno e professor não é tão rígida, favorecendo um diálogo mais amplo". E agora, depois de três anos e meio no Brasil, para onde ele vai? "Agora quero fazer doutorado num outro país. Mas no futuro eu me vejo ou no Brasil ou na Alemanha. Ou, se for possível, nos dois."

Autor: Júlia Dias Carneiro
Revisão: Augusto Valente