1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

A volta de uma perigosa rota de refugiados

Nina Niebergall (ca)11 de abril de 2016

Com o caminho pelos Bálcãs bloqueado e com o início das deportações da Grécia para a Turquia, dezenas de milhares de migrantes esperam na Líbia pela travessia para a Itália. E o número só tende a aumentar.

https://p.dw.com/p/1ISIG
Refugiados chegam ao porto de Messina, na Itália, após serem resgatados no MediterrâneoFoto: Getty Images/AFP/G. Isolino

O drama europeu dos refugiados não começou com as longas caminhadas através dos Bálcãs. Teve início muito antes, com gangues de traficantes humanos e botes de borracha superlotados, muitos dos quais naufragaram no Mediterrâneo, em algum ponto entre a costa da Líbia e a ilha italiana de Lampedusa. O triste ápice: na madrugada de 18 par 19 de abril do ano passado, um barco virou a caminho da Itália, matando cerca de 700 pessoas. Apenas 28 se salvaram.

A travessia ilegal pelo Mediterrâneo não é apenas muito mais perigosa, mas também muito mais cara do que a rota por Turquia, Grécia e países dos Bálcãs até a Europa Ocidental. Por esse motivo, principalmente sírios e iraquianos recorriam à rota dos Bálcãs. No entanto, devido aos controles de fronteira, os Bálcãs se tornam um beco sem saída para um número cada vez maior de pessoas.

Desde que a União Europeia (UE) fechou um acordo com Ancara, que prevê basicamente a deportação de refugiados em situação irregular da Grécia para a Turquia, muitos migrantes têm que procurar alternativas.

Não à toa a porta-voz para o sul da Europa da agência da ONU para refugiados (Acnur), Carlotta Sami, falou recentemente de um risco de "nova explosão" da rota da Líbia para a Itália.

A Acnur estima que, nos primeiros três meses deste ano, cerca de 16 mil pessoas se aventuraram na travessia, 60% a mais que no mesmo período do ano passado.

Políticos sob pressão

Diante desse novo velho desafio, a classe política está sob pressão. O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, disse ver o acordo de refugiados com a Turquia como um modelo para países norte-africanos.

Segundo ele, isso implica a deportação para os respectivos Estados e, em troca, a aceitação de um "contingente humanitário" na União Europeia. "Este método está correto, e deveríamos aplicá-lo também para a rota central pelo Mediterrâneo, a partir do Norte da África para a Itália", afirmou. "Isso, porém, vai ser muito mais complicado do que com a Turquia."

Pelo Facebook, os traficantes de pessoas já anunciaram que, a partir da primeira semana de abril, darão início de verdade aos negócios no Mediterrâneo. Normalmente, a fase de mau tempo no Mediterrâneo Central acaba no mês de abril. Mas a travessia para a Itália, de entre 450 e 600 quilômetros, não é muito mais segura nessa época.

"Tantos os botes de borracha quanto os de madeira não foram construídos para fazer um percurso tão longo", explica o capitão de corveta Bastian Fischborn, porta-voz das missões da Marinha das Forças Armadas alemãs (Bundeswehr).

Porta-voz da Marinha alemã Bastian Fischborn
Capitão de corveta Fischborn: "Botes não foram construídos para fazer um percurso tão longo"Foto: Bundeswerhr/PAO Mittelmeer/dpa

Última esperança

O padre eritreu Mussi Zerai tem que lidar com as consequencias disso. O religioso, que vive na Suíça desde meados de 2004, se tornou algo como a última esperança para refugiados que estão em barcos em perigo. Seu número de telefone circulou entre migrantes de Eritreia, Somália e Etiópia, e está pregado em paredes de campos de refugiados líbios e em convés de botes de migrantes.

Em entrevista à DW, ele afirmou ter recebido, recentemente, um telefonema feito a partir de um pequeno bote de plástico, no qual se encontravam cerca de 80 pessoas que queriam chegar à costa italiana.

"O bote adentrou uma região de fortes ventos. Muitas pessoas estavam pela primeira vez dentro de um barco e não sabiam nadar", relata Zerai.

Então entrou cada vez mais água para dentro do bote. Em casos como esse, os próprios eritreus que fugiram de seu país informam as autoridades italianas. Segundo o padre, na maioria das vezes, demora ainda cerca de oito horas até que a guarda costeira chegue ao local. A essa altura, muitos já morreram.

Recentemente, o jornal alemão Welt am Sonntag noticiou, com base em informações de diferentes serviços de inteligência, que entre 150 mil e 200 mil pessoas já se encontram em cidades costeiras ao redor de Trípoli, esperando por melhores condições meteorológicas.

Mussie Zerai Gründer Hilfswerk Habeshia
Soldados da Marinha alemã combatem traficantes e resgatam refugiados no MediterrâneoFoto: Vincenzo Pinto/AFP/Getty Images

Entre elas, estão cada vez mais sírios, informou o diário. A chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini, alertou sobre a possibilidade de que até 450 mil refugiados, devido à situação de instabilidade política na Líbia, possam tomar a rota pelo Mediterrâneo.

O porta-voz da Marinha Bastian Fischborn afirmou que, neste ano, até agora somente seis sírios chegaram à Itália através da rota pelo Mediterrâneo. O militar ressaltou, no entanto: "Não importa onde ocorram obstáculos em qualquer uma das rotas, essas pessoas vão tentar tomar outros caminhos."

Para o sacerdote Mussi Zerai, só há uma solução a longo prazo: "A União Europeia precisa criar possibilidades legais de acesso: programa humanitário, vistos, reagrupamento familiar. Este é um primeiro passo para reduzir o número de pessoas que tentam chegar à Europa pelo Mediterrâneo."