A vez dos pobres
21 de outubro de 2003O problema é conhecido: o dinheiro destinado aos projetos de ajuda ao desenvolvimento desaparece no meio do caminho e os pobres, que deveriam ser os reais beneficiados, raramente usufruem das benesses que os países doadores acreditam estar bancando. Isto foi comprovado mais uma vez pelo Banco Mundial. Em visitas surpresas realizadas em 200 escolas da Índia, financiadas com capital estrangeiro, os fiscais encontraram metade das salas de aula vazias.
A partir desta notória experiência, os responsáveis alemães pretendem incrementar ainda mais o controle e garantir mais transparência no gerenciamento do dinheiro doado. A idéia é excluir os intermediários, na maioria dos casos os governos, para fazer a entrega da doação diretamente aos pobres. Isto não aconteceria em forma de dinheiro vivo, mas através de bônus que poderiam ser trocados por serviços públicos, como abastecimento de água, ofertas escolares e até assistência médica. Desta forma, são os pobres que definem suas prioridades.
Critério para definir pobreza
A novidade do projeto, de acordo com Bruno Wenn, do Instituto de Crédito para a Reconstrução (KfW), é que desta maneira os pobres se tornam clientes com poder aquisitivo. Com isso, espera-se que os prestadores de serviços, sejam empresas privadas, estatais ou mesmo autoridades, acabem enxergando esta camada da população como clientes em potencial e lhes ofereça a mesma qualidade dispensada aos mais abastados.
Esse sistema de bônus já funciona com sucesso em alguns países da América Latina. O ponto crítico é a seleção dos grupos que receberão os bônus. O problema está em definir os critérios de pobreza. Bruno Wenn esclareceu que em muitos casos o controle social nas camadas mais baixas funciona entre os próprios necessitados, que sabem quem entre eles é o mais miserável.
União de esforços
A comunidade internacional pretende reduzir pela metade o nível de pobreza e fome no mundo até 2015. Para isso, as organizações alemãs decidiram unir esforços para o incremento de projetos conjuntos.
Na Alemanha, existem várias ONGs que prestam ajuda social de forma independente e isto, segundo Carola Donner-Richle, da InWent, organização internacional alemã para o desenvolvimento de recursos humanos, é um problema, diferente do que ocorre na Grã-Bretanha ou na Suécia, onde todos os projetos são coordenados por uma única instituição.
O passo seguinte seria então unir todos os projetos de ajuda ao desenvolvimento na Alemanha sob um mesmo teto, para que o trabalho seja mais coeso e não privilegie apenas uma região ou determinados grupos de pessoas. A partir de uma coordenação geral, é inclusive mais fácil manter contato com outras ONGs internacionais. Entretanto, só o futuro dirá se este é mesmo o caminho mais adequado.