Referendo na Bolívia
14 de agosto de 2008DW-WORLD.DE: Cerca de 4 milhões de eleitores compareceram no último dia 10 de agosto às urnas na Bolívia para ratificar ou revogar, por referendo, o mandato do presidente Evo Morales e de oito governadores de províncias, sendo Morales ratificado no cargo da Presidência. Como o senhor avalia os resultados dessa votação?
Stefan Jost: Os resultados desta votação não me surpreenderam. De acordo com os dados disponíveis até agora se vê uma clara disparidade entre cidade e campo, ou seja, quanto mais rural a camada de eleitores, maior o apoio a Morales.
Uma possível razão para essa boa aceitação nas camadas rurais tem a ver com o fato de que Morales distribuiu durante sua campanha eleitoral muito dinheiro entre esse segmento eleitoral. Além disso, em minha opinião houve um grande interesse da própria oposição em manter Morales no poder.
Num estudo publicado pelo Instituto Alemão de Estudos Globais (GIGA) o senhor afirma que a refundação da Bolívia se encontra em um beco sem saída. Como essa afirmação pode ser entendida?
Sim. O país se encontra em um "empate catastrófico", como disse o vice-presidente Lineras. Governo e oposição têm a mesma quantidade de poder, e enquanto essa situação não mudar o projeto de refundação da Bolívia, indiferente de como ele seja constituído, estará em um beco sem saída.
O governo de Morales será capaz de sair deste beco?
Esta é a minha esperança, pois mais radicalização não fará bem nem ao país nem ao povo. As primeiras declarações do presidente Morales, assim como a de alguns prefeitos, indicam uma certa disposição ao diálogo.
Sem dúvida há ainda posturas radicais em ambos os lados, tanto do governo quanto da oposição, que não estão abertos ao diálogo, e há o perigo de que esses radicais não consigam nem mesmo compreender o porquê da necessidade de dialogar, de discutir com o outro lado.
Também por isso eu não acredito, no momento, que o diálogo vá acontecer, apesar de eu esperar muito por isso.
Qual é a proporção da influência da aliança Morales-Chávez na Bolívia?
Meus interlocutores bolivianos afirmam que a influência exercida diretamente por Chávez na Bolívia é diferente da influência que sempre foi atribuída aos Estados Unidos.
Um dos motivos que levaram Morales em 2005 à Presidência foi ter apostado na carta "anti-EUA", seguindo seu lema de dignificar o país.
No entanto, essa supostamente almejada independência está a ponto de perder-se. A Venezuela de Hugo Chávez tem prestado um forte apoio financeiro à Bolívia. Há três semanas o presidente Morales manifestou expressamente o desejo de que toda a verba oriunda da Venezuela destinada a projetos na Bolívia seja repassada diretamente a ele e não mais primeiramente contabilizadas através dos orçamentos públicos.
Isto prova que há uma quebra institucional e uma perda em transparência, algo que não faz bem nem à Bolívia nem a nenhum outro país.