A polêmica das crianças que estudam em casa
28 de dezembro de 2004
Cerca de 500 crianças alemãs não freqüentam estabelecimentos convencionais de ensino conforme previsto em lei. Segundo uma reportagem publicada no jornal Westfalen Blatt, de Bielefeld, motivos religiosos os levam a serem educados à distância, por exemplo na Escola Philadelphia, de Siegen, ou na Escola Alemã à Distância, em Wetzlar.
Também a falta de confiança no sistema de ensino leva muitos pais a dar aulas para os filhos no próprio domicílio. É o caso de Dorothea Becker, mãe de quatro filhos entre 10 e 18 anos. "O que as crianças aprendem em casa, sobre moral e amor ao próximo, não é mais levado a sério nas escolas. Além disso, a pressão das notas sobre elas é tão grande que, aquilo que realmente sabem, acaba sendo menosprezado", reclama.
Problemas de integração levaram a doenças
Ao retornar à Alemanha após passar oito anos nas Filipinas, as crianças da família Becker resistiram pouco tempo numa escola alemã. "Após seis meses, estavam estragadas", diz a mãe, formada em Tecnologia de Alimentos. Segundo ela, os professores até que se esforçaram, mas as outras crianças não permitiram a integração.
Depois que as crianças começaram a ficar doentes por não quererem freqüentar a escola, os pais optaram por uma atitude radical. Dorothea comprou livros, copiou material pedagógico e assumiu o papel de professora em casa, ensinando os filhos todas as manhãs, das 8 às 12 horas. Ao comunicar a decisão à escola, começaram os problemas.
Por lei, a freqüência à escola é obrigatória também na Alemanha. Escapam a esta regra apenas os filhos de famílias circenses e crianças hospitalizadas. Muitas escolas, no entanto, "fecham o olho" e toleram as faltas das crianças às aulas. Apesar de estudarem em casa, estes alunos podem fazer exames e testes em instituições especializadas em ensino à distância.
Deficiências na competência social
As duas grandes Igrejas alemãs (Católica e Luterana ) advertem para o fato de estas escolas que lecionam à distância não estarem sujeitas ao controle do Estado. Pedagogos e psicólogos afirmam que as crianças que não freqüentam a escola ficam com deficiências na competência social e na capacidade de resolver conflitos.
O homeschooling (escola em casa) é bastante disseminado em outros países, como os Estados Unidos, onde é previsto em lei. Conforme o estudo intitulado Ensino em Casa no Brasil, elaborado em janeiro de 2002 pelo consultor Emile Boudens para a Câmara dos Deputados, em Brasília, "a impressão que se tem é que, pelo menos nos Estados Unidos, o homeschooling existe muito mais em razão do respeito ao princípio de que 'cabe aos pais escolher o tipo de educação que será dado aos filhos' do que em razão de uma legislação educacional positiva.[...] De acordo com legislação educacional brasileira, o ensino em casa será, quando muito, uma exceção, jamais uma regra. O debate sobre os prós e os contras do homeschooling, pois, é meramente especulativo".
Boudens assinala que o psicólogo Ted Feinberg, diretor executivo da Associação Nacional de Psicopedagogos dos EUA, afirma que o sistema é prejudicial. Para ele, a maioria dos pais não tem a formação necessária para ensinar.
"Não se pode deixar uma criança crescer numa bolha. Ela precisa separar pais de professores. E, depois, lidar com as diferenças entre as pessoas. Na escola, adquirem um respeito saudável à diversidade", assinala.