A polêmica da árvore de Natal
Todos os anos, cerca de 22 milhões de árvores de Natal enfeitam as residências alemãs. Na maioria dos casos são pinheiros naturais de vários tipos, formatos e tamanhos. Sempre decorados com velas de cera ou modernas correntes de luzinhas elétricas, além de bolas coloridas de vidro fino espelhado e enfeites de todos os tipos.
Para os alemães, independentemente da religiosidade de cada um, a árvore de Natal é um símbolo de paz, tranqüilidade e introspecção. Quando se pergunta às pessoas sobre o motivo de tal ligação com o pinheiro natalino, a resposta é quase sempre a mesma: o Natal é uma festa das crianças. E dela faz parte a árvore, que alegra as crianças. Para os adultos, o pinheiro enfeitado suscita ternas recordações da infância…
Origens
Existem muitas histórias para explicar a tradição secular da árvore de Natal. Uma delas diz respeito à festa de Santa Bárbara, comemorada no dia 8 de dezembro. Era uma antiga tradição cristã cortar galhos de macieira ou cerejeira nessa data, para que florescessem antes do tempo como enfeite dentro das casas aquecidas. Posteriormente, o pinheiro enfeitado teria assumido o lugar dos galhos com flores de maçã e de cereja.
A etnóloga Christel Köhle-Hetzinger, da Universidade de Jena, conhece toda uma série de histórias que tentam explicar a origem da tradição medieval: "Sabe-se também que árvores verdes eram postas nas igrejas na época de Natal. Era, sem dúvida, uma alusão à árvore do paraíso, que desempenha um papel próprio em toda a liturgia cristã. Ou seja, uma árvore cristã da vida. Como na história de Adão e Eva. Hoje, nós acreditamos que a árvore é o ponto central do Natal cristão. Mas não é bem assim. Ao pé da letra, esse papel caberia ao presépio com o Menino Jesus. A árvore de Natal é na verdade um produto e um objeto leigo."
Relutância
No início, a Igreja refutou inteiramente a tradição de origem pagã. Somente há cerca de 100 anos é que o pinheiro natalino passou a enfeitar também os templos cristãos. Até então, ele estava mais ligado a costumes dos povos germânicos, anteriores à cristianização: no inverno, eles penduravam galhos de pinheiro sobre as portas das casas, no estábulo e nos tetos das moradias.
Com suas folhas em forma de agulha, o pinheiro devia espantar maus espíritos, raios e doenças. Além disso, o verde dos ramos simbolizava então a expectativa em relação à chegada da primavera e ao fim do inverno.
Na Idade Média, árvores enfeitadas faziam parte de todas as grandes festas – por exemplo, das festas da cumeeira. A origem dos pinheiros natalinos também pode ser atribuída a tal costume. Sua primeira menção data de documentos do ano de 1419.
Pela ferrovia
O surgimento da ferrovia também contribuiu para consolidar a tradição da árvore de Natal: através da nova possibilidade de transporte, os pinheiros puderam ser levados em grande quantidade para as grandes cidades. Com isto, o costume passou a ser também uma tradição urbana.
Foram os agricultores da região do Harz e da Turíngia que iniciaram tal processo: eles passaram a plantar pinheiros especialmente para a venda nas feiras de Natal em Berlim. A partir de 1851, os jornais berlinenses ofereceram um novo serviço a seus leitores, anunciando a chegada de novas partidas de árvores de Natal nas estações ferroviárias da cidade.
Antes do final do século 19, os pinheiros de Natal já tinham conquistado definitivamente o seu lugar nas residências alemãs. Só então é que a Igreja cedeu à realidade e passou a adotar o costume também nas suas festas natalinas.
Hoje, a decoração da árvore de Natal varia de ano para ano, estando submetida a um verdadeiro ditado de moda. Mas raramente uma família alemã abre mão de um pinheiro natural na sala de visitas: sem ele, o espírito do Natal não é o mesmo…