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A moderna caça ao tesouro

Rafael Heiling / sv23 de abril de 2004

Sair à procura de um tesouro real é coisa do passado. Hoje, a grande jogada é encontrar, com a ajuda de receptores GPS, objetos escondidos. Desafio: chegar ao esconderijo e não tomar posse do que está dentro dele.

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Criança de 10 anos, com receptor GPS a postosFoto: AP

O receptor GPS (Global Positioning System) é um aparelho capaz de calcular localizações exatas, a partir de sinais de satélites. Sua finalidade "tradicional" é ajudar motoristas perdidos pelas ruas. Nos últimos tempos, o GPS tornou-se também a base para um jogo de esconde-esconde.

Mundo afora, milhares de pessoas escondem latinhas ou sacos plásticos com “pequenos tesouros” dentro, dão as coordenadas na internet para a busca e soltam o grito de largada: “Procurem!”

Caçadores modernos

Em tempos nem tão remotos assim, o andamento do jogo seria claro: as crianças sairiam correndo – literalmente – até encontrar o tesouro enterrado num canto qualquer. A versão moderna tem, porém, um diferencial: os chamados geocachers, em companhia de parentes ou amigos, saem munidos de um pequeno aparelho, do tamanho de um celular.

Trata-se do receptor GPS. E lá se vão todos em busca do tesouro perdido. “Uma forma moderna da caça à raposa”, descreve Stefanie Bierbaum, do Trendbüro de Hamburgo, uma instituição especializada em pesquisar e analisar tendências da vida moderna.

Uma consulta ao GPS e... pé na estrada

Geocaching mit GPS
Geocachers em açãoFoto: AP

A partir de coordenadas do tipo N 51° 14.432; E006° 53.388, o iniciante pode pensar que a busca corre o risco de se tornar uma chatice, uma vez que o aparelhinho já “contou” onde o tesouro está escondido. Ledo engano.

“O GPS tem uma exatidão de seis a oito metros. Ele não leva o caçador até o tesouro propriamente dito, mas apenas à sua proximidade. O resto depende da intuição”, diz Nicola Straub, geocacher convicta e webmaster do site www.geocaching.de. Onde estará a tão procurada latinha? A dúvida, nesse caso, é a alma da aventura.

Perdidos e sedentos

Para chegar aos esconderijos, é necessário, muitas vezes, ultrapassar um emaranhado de obstáculos. Nicola Straub, que muitas vezes sai em busca do tesouro perdido em companhia de filho e marido, conhece bem essa situação.

De vez em quando, achar o esconderijo é tão difícil, que os caçadores são até mesmo rendidos e substituídos por outros durante a busca. “Certa vez, a próxima estação de busca ficava sob um banco de praça. Ali estava sentado um casal de idosos e nós, por isso, não conseguíamos ir adiante”, conta Straub à DW-WORLD.

“Aí resolvemos contar para eles. Subimos então uma montanha, cruzamos um vale, depois caminhamos morro acima de novo...” No caminho, a bateria do GPS acabou, não tínhamos mais água para tomar, a noite caiu e, do lugar onde estávamos, não saía mais ônibus nenhum”, conta a geocacher.

Pobre papai patinho

Chegar às primeiras coordenadas já pode ser uma passo difícil. “Há algumas charadas interessantes”, fala Nicola Straub. Seu marido, por exemplo, criou uma, há pouco tempo, que custou a oito adultos, cinco crianças e dois cachorros semanas de busca.

Outros já preferem histórias singelas, como a do papai patinho, que volta para casa chorando, porque perdeu seu tesouro pelo caminho. Nesse caso, só mesmo uma equipe de geocachers ambiciosa para solucionar o problema...

No fim das contas, pode ser que o tão procurado tesouro seja simplesmente uma pequena lixa de unhas. “Nessas buscas difíceis, importante é achar o esconderijo e não o que está lá dentro”, observa a pesquisadora Bierbaum.

Geralmente, os tesoruros encontrados pelos geocachers são pequenos objetos, de pouca importância. Nicola Straub compra, para depositar nos esconderijos, objetos como sapinhos de brinquedo ou línguas de sogra”. Na Holanda, certa vez, “já encontramos até camisinhas”, conta.

Toma lá, dá cá

Geocaching mit GPS
Aparelho receptor GPSFoto: AP

Os esconderijos podem estar na Austrália ou na Antártida. Para chegar a alguns deles, pode ser necessário até mesmo estar munido de equipamento de mergulho ou alpinismo. Outros mais simples podem ser encontrados apenas com a ajuda de um automóvel.

As regras do jogo estabelecem que quem tira o tesouro de um esconderijo, deve colocar outro no lugar, para que os próximos geocachers possam encontrá-lo. Assim os esconderijos nunca ficam vazios. Nicola Straub, que esconde às vezes objetos para outros acharem, toma cuidado para que não haja apenas bagatelas nas latinhas escondidas.

Os adeptos da aventura, segundo ela, “cuidam bem de seus caches”. O mais interessante de tudo, para a adepta e especialista do jogo, são os diários (logbooks), que ficam guardados dentro de cada esconderijo e no qual são relatados todos os passos de cada “caçador” até aquele local.

Churrasquinho depois da busca

Hoje, os geocachers já se transformaram em uma verdadeira comunidade. Os chamados eventos caches, por exemplo, são uma espécie de festa: primeiro procura-se o tesouro, depois faz-se um churrasquinho em conjunto.

Se o tesouro não valer a pena, pelo menos a energia gasta para encontrá-lo, caminhando no meio do mato, compensa o esforço. “Li que há pais que usam o jogo para fazer com que seus filhos saiam de casa e se movimentem”, conta a pesquisadora Bierbaum.