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Música

A memória de Woodstock 50 anos depois

Sertan Sanderson ca
15 de agosto de 2019

No local onde em 1969 ocorreu o lendário festival de música, museu imortaliza o evento que marcou uma geração. "Woodstock mudou a minha a vida", relata visitante que assistiu aos shows de 50 anos atrás.

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Meio milhão de pessoas prestigiaram o Festival de Woodstock em 1969
Meio milhão de pessoas prestigiaram o Festival de Woodstock em 1969Foto: picture-alliance/UPI

O local do histórico Festival de Woodstock, no estado americano de Nova York, abriga hoje o Centro Bethel Woods. Em contraste com as multidões de jovens que ocuparam caoticamente a fazenda leiteira de Max Yasgur em 1969, a organização cultural sem fins lucrativos é um espaço bem organizado, que parece estar voltado para a geração dos baby boomers, que vivenciou sua juventude nas décadas de 1960 e 1970.

Mas explorando o museu, descobre-se que o espírito do rock and roll de Woodstock ainda está vivo ali. Os fantasmas de lendas do rock, como Janis Joplin e Jimi Hendrix, que fizeram algumas de suas apresentações mais memoráveis em Woodstock, parecem ainda assombrar a área, com veteranos de Woodstock voltando ali ano após ano para reverenciar o local.

Susan, de 72 anos, foi uma das quase meio milhão de pessoas que vieram para o meio do nada, na zona rural de Nova York, durante um final de semana inteiro de "sexo, drogas e rock and roll" em agosto de 1969. Ela disse que veio ao museu para assistir a um concerto diferente, organizado como parte do programa de verão do Centro Bethel Woods.

"Woodstock foi uma experiência que mudou minha vida. Eu nunca tinha visto ou feito nada parecido", disse Susan à DW. "Realmente acho que Deus estava lá, e nem tomei nenhuma droga, eu juro. Bem, pelo menos nenhuma daquelas realmente pesadas."

Residindo agora no estado americano de New Hampshire, Susan afirmou que volta ao Centro Bethel Woods pelo menos uma vez por ano desde que o museu sem fins lucrativos e o centro de artes performáticas foram abertos, em 2006, como um local para preservar a memória e o espírito de Woodstock.

Antes disso, ela "não tinha para onde ir por muitos anos, mas apenas um campo aberto" para satisfazer seu sentimento nostálgico, afirmou. "Este é o lugar onde eu fui apresentada a muitas ideias liberais, mas também à vivência de uma vida de bondade e respeito por todos."

Inspiração para a juventude

Inscrito já há muito tempo no Registro Nacional de Lugares Históricos dos EUA, o local onde ocorreu Woodstock parece despretensioso atualmente.

"Sempre parece tão pacífico", comentou Susan diante da placa oficial no ponto de observação sobre o campo onde Woodstock aconteceu. De fato, se não houvesse placas comemorando o que ocorreu ali em 1969, um visitante passaria direto sem perceber que naquele lugar um marco tão importante da cultura popular realmente ocorreu.

Mas é nessa sutilidade que vive o espírito de Woodstock. Darlene Fedun, CEO do Centro de Artes Bethel Woods, observou que, além de deixar sua marca como um evento inigualável, Woodstock "nos deixou uma comunidade inspirada a mudar o mundo através da música".

Objetos do acervo em Bethel reacendem espírito de Woodstock
Objetos do acervo em Bethel reacendem espírito de WoodstockFoto: DW/S. Sanderson

"Como gestores do local histórico, nosso objetivo é homenagear esse legado e reacender seu espírito", acrescentou Fedun, destacando que a organização visa educar e inspirar "novas gerações a contribuir positivamente com o mundo através da música, cultura e comunidade".

E esse senso de inspiração pode ser visto até mesmo entre a equipe jovem que trabalha no Centro Bethel Woods. Victor, de 20 anos, cuida do balcão de vendas dos ingressos para a exposição permanente.

Sua vivaz paixão por Woodstock é muito contagiante: "Acabei de me informar sobre este músico chamado Arlo Guthrie, que se apresentou em Woodstock. Você já ouviu falar dele? Sua música é incrível", afirmou.

Victor trabalha ali desde que terminou o ensino médio, há três anos. Ele revelou que sua admiração pelo monumental evento musical cresceu somente ao longo dos anos.

"Adoro conversar com pessoas que estiveram lá há 50 anos. Elas se lembram disso como se fosse ontem, mas para mim, parece algo de tanto tempo atrás que não consigo imaginar que algo tão descolado possa acontecer novamente."

O verão de 1969 numa cápsula do tempo

Para aqueles como Victor que não presenciaram o evento na época, o museu do Centro Bethel Woods oferece um retrospecto abrangente da cadeia de eventos que resultou no festival de música.

O museu apresenta a evolução do Festival de Woodstock como uma extensão da narrativa geral dos anos 1960 – a década em que a geração dos baby boomers realmente assumiu seu espaço, definiu seus valores coletivos e tomou os palcos em Woodstock e em outros lugares para fazer que suas vozes fossem escutadas.

Bethel Woods Center for the Arts
Centro Bethel Woods foi erguido no local do lendário festivalFoto: Bethel Woods Center for the Arts

O museu apresenta o pouso na Lua como um momento histórico que capturou o otimismo do período. O acervo fala de uma época em que o então presidente dos EUA, John F. Kennedy, ainda não havia sido assassinado, compartilhando sua visão de um mundo mais pacífico diante do cenário da Guerra Fria.

A instituição analisa o conflito do Vietnã, o movimento dos direitos civis, de libertação das mulheres como um espectro de mudanças de paradigma que abalaram por completo a década de 1960. E o museu então mostra Woodstock como a junção acumulada de todas essas narrativas. 

Caos nos bastidores

Iniciado por três jovens investidores, o Festival de Woodstock teve que superar uma série de fracassos antes de se concretizar. Até o nome do evento reflete as dificuldades que os organizadores enfrentaram, enquanto lutavam para que o fim de semana do show acontecesse.

O pequeno vilarejo de Woodstock, situado a 112 quilômetros a nordeste de Bethel, rejeitou abrigar o festival. No entanto, ainda assim se beneficia até hoje de estar associado a ele: na cidadezinha homônima de Woodstock, podem-se comprar mais produtos relacionados à música do que em Bethel.

Atualmente, o produtor local de laticínios que acabou concordando em disponibilizar seus pastos para os três organizadores ainda se beneficia de um culto que prossegue até hoje, apesar de o fazendeiro ter morrido há 45 anos. O nome de Max Yasgur continua vivo em círculos hippies. No entanto, pouca menção é feita ao fato de que ele apoiou durante toda a sua vida o Partido Republicano dos EUA.

Embora o museu também destaque tais narrativas menos conhecidas, mas a maneira elegante como apresenta o Festival de Woodstock não transmite exatamente a experiência de pessoas como Susan, que testemunharam o evento:

"Não estou reclamando, aprecio o ar-condicionado, os elevadores e tudo mais, mas em 1969 tudo do que precisávamos para manter a calma era lama."

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