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História

A luta constante contra negadores do Holocausto

Volker Wagener ca
22 de novembro de 2016

O extermínio dos judeus na Segunda Guerra é historicamente comprovado. Mesmo assim, há pessoas que o negam veementemente. Em muitos países, isso é passível de punição. Em outros, não.

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Judeus no campo de extermínio de Auschwitz, em 1944
Judeus no campo de extermínio de Auschwitz, em 1944Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives

Ela tem 87 anos e é, aparentemente, incorrigível. Mais uma vez, a Justiça teve que lidar com Ursula Haverbeck e a sua visão da história. Desta vez, foi o tribunal de Verden. Haverbeck é conhecida nos círculos legais de toda a Alemanha. Há anos, ela está envolvida com cortes de Justiça em Detmold e Bad Oeynhausen, na região da Vestfália, em Hamburgo e Berlim. Ela é investigada regularmente por procuradores devido ao crime de incitação ao ódio. Na cena de extrema direita, a enérgica senhora de cabelos grisalhos é bastante popular. Ela nega o Holocausto e consegue, mesmo com sua idade avançada, provocar tumultos nos tribunais.

No processo contra um ex-guarda de Auschwitz em Detmold, ela tentou entrar na sala de Justiça em fevereiro deste ano. Para Haverbeck, o campo na atual Polônia não era de extermínio, mas de trabalhos forçados – e o genocídio dos judeus pelos nazistas a "maior e mais persistente mentira da história". Ursula Haverbeck pode não ser o exemplo mais proeminente da negação do crime historica e juridicamente reconhecido da Alemanha nazista contra os judeus, mas o mais atual.

Uso de documentos falsos

Há tempos David Irving ocupa a Justiça, a política e a mídia com suas teses sobre a Segunda Guerra em geral e, particularmente, o Holocausto. O britânico, que no final dos anos 1950 trabalhou como metalúrgico no Vale do Ruhr e aprendeu a falar fluentemente alemão, escreveu mais de 30 livros sobre a era nazista. Ele ficou conhecido em 1963 com A destruição de Dresden, em que ele aumentou acentuadamente o número de mortos por meio de documentos falsos.

David Irving num tribunal de Viena em 2006
David Irving num tribunal de Viena em 2006Foto: AP

Se, no início, ele era considerado um pesquisador não convencional, cujo mérito foi acessar fontes desconhecidas até então, desde o final da década de 1980 ele passou a não ser mais levado a sério pelos historiadores.

Na ocasião, ele apareceu pela primeira vez como um negador do Holocausto. Desde então, ele se mostra regularmente ao lado de extremistas de direita, principalmente na Alemanha.

No cerne de suas convicções revisionistas da história está que Hitler não ordenou o extermínio de judeus nem soube do fato. Devido à afirmação de que na Áustria não houve campos de concentração, Irving foi condenado a três anos de prisão sem direito à liberdade condicional pelo Tribunal Estadual de Viena. Ele cumpriu dois terços de sua pena e, desde então, é proibido de viajar para diversos países.

Em 1993, a historiadora americana Deborah Lipstadt classificou Irving como "um autêntico negador do Holocausto", que falsifica fatos e manipula documentos em seus livros. Irving entrou com queixa por difamação, dando início à sua ruína financeira. A Alta Corte de Londres rejeitou o processo no ano 2000. O juiz Charles Gray resumiu: "Ele é um simpatizante nazista, polemista, antissemita e racista, que se alia a extremistas de direita para promover o neonazismo."

Os custos do processo giraram em torno de 2,5 milhões de libras esterlinas e tiveram de ser pagos por Irving.

Também na Igreja Católica

Da mesma forma, as teses de um importante sacerdote da Igreja Católica chamam atenção há anos. O bispo britânico Richard Williamson nega o extermínio de judeus, tornando-se assim o representante mais conhecido da Fraternidade de São Pio 10.

Bispo Richard Williamson, em 2009
Bispo Richard Williamson, em 2009Foto: picture-alliance/dpa

Trata-se de uma irmandade sacerdotal separatista e comprometida somente com a tradição, fundada em 1970 pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre. Ela nega as reformas do Concílio Vaticano 2° (1962-1965), que abriu a Igreja Católica, entre outros, para o ecumenismo e a liberdade religiosa, e reconheceu o judaísmo como caminho válido de salvação.

Williamson, por sua vez, negou veementemente a existência de câmaras de gás em 2008. Além disso, ele afirmou que haviam sido mortos, no máximo, entre 200 mil e 300 mil judeus. Isso foi falado ao microfone de um jornalista sueco. Como Williamson sabia que negar o Holocausto é crime na Alemanha, punível com até cinco anos de prisão, ele pediu que a entrevista fosse publicada somente na Suécia e não na internet. O que foi ignorado pelo jornalista.

Em seguida, o tribunal da cidade alemã de Regensburg o condenou à revelia ao pagamento de 100 diárias a 100 euros cada. Em 2012, a Fraternidade de São Pio 10 o expulsou como membro devido a outras diferenças de opinião.

Com leis contra negadores

A forma como outros países lidam com o Holocausto é bastante variável. Nos EUA, o direito à liberdade de expressão abrange também a negação do Holocausto. Isso vale igualmente para o Reino Unido. Por esta razão, David Irving tem preferido se expressar nesses países.

Em contrapartida, a negação do Holocausto é atualmente considerada crime em diversos Estados europeus. Na Áustria, desde 1992, é passível de punição quem "tenta negar, grosseiramente minimizar, endossar ou justificar o genocídio nacional-socialista ou outros crimes nazistas contra a humanidade". Dois anos antes, a França também elevou à lei a punição desse delito.

Na Bélgica e em Luxemburgo, a negação histórica também é punível criminalmente, como também na República Tcheca e Polônia. Aqui, no entanto, com o adendo de que a negação de crimes praticados pelos comunistas também é passível de punição. Já na Espanha, a situação é diferente. Ali, até 1995, a negação do Holocausto era crime. Em 2007, o Tribunal Constitucional decidiu que essa lei violaria o direito da livre expressão.