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A luta antirracista três anos após a morte de George Floyd

25 de maio de 2023

Crime em Minneapolis despertou alerta contra a violência policial racista nos EUA. Há quem concorde que houve avanços, agentes envolvidos foram condenados e presos, mas promessa de reforma da polícia não foi cumprida.

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O afro-americano George Floyd é retratado em grafite pintado no local em que ele foi agredido e morto por policiais em 25 de maio de 2020. Sobre o peito dele, pode-se ler: "I can breath now"(Posso respirar agora). Abaixo do mural, flores prestam homenagem à vítima.
No local da agressão, mural relembra a violência policial contra George Floyd e outros afro-americanosFoto: imageSPACE/ZUMA/picture alliance

Nove minutos e 29 segundos chocaram o mundo exatos três anos atrás. Um vídeo feito com celular por um transeunte em Minneapolis, nos Estados Unidos, se tornou um documento do horror. Ele mostrava o policial branco Derek Chauvin pressionando o joelho contra o pescoço de George Floyd, que, por sua vez, implorava para que pudesse respirar e pedia ajuda à mãe. Enquanto isso, os colegas de Chauvin – Alexander Kueng, Tou Thao e Thomas Lane – observavam inertes. Em decorrência disso, segundo a conclusão da autópsia, Floyd ficou inconsciente e morreu.

O crime desencadeou protestos contra o racismo e a violência policial que acabaram ultrapassando as fronteiras dos EUA. Em muitas cidades americanas, o estado de emergência decorrente daquele 25 de maio de 2020 durou dias ou semanas. A raiva acumulada ao longo de décadas de assédio cometido por policiais brancos e a frustração com oracismo estrutural incansavelmente denunciado irromperam em revoltas violentas, barricadas em chamas e cidades do interior devastadas.

Chauvin e colegas condenados

Joe Biden, que menos de um ano depois do crime sucedeu o então presidente Donald Trump na Casa Branca, prometeu justiça, reformas estruturais na polícia e até o fim do racismo se fosse eleito.

Três policiais inativos de Minneapolis -Tou Thao, J. Alexander Kueng e Thomas Lane - aparecem sentados ao lado de seus advogados durante o julgamento no caso George Floyd nesta ilustração do tribunal feita em 2022.
Além de Derek Chauvin, outros três policiais foram condenadosFoto: Cedric Hohnstadt Illustration/REUTERS

Outros dois anos se passaram, e muito aconteceu. Em dois julgamentos diferentes, Chauvin foi condenado por assassinato e violação dos direitos constitucionais de Floyd, com penas que somam mais de 40 anos de prisão. Ele já está cumprindo a sentença, assim como seus colegas, que também foram condenados por violar direitos civis constitucionais. Outros processos ainda estão pendentes.

É pelo menos um vislumbre de justiça. Muitos especialistas concordam que o veredito provavelmente não teria sido tão claro se não houvesse um vídeo como prova. Até hoje, policiais brancos costumam se livrar de seus atos desumanos porque muitos acreditam neles, e não nas vítimas negras ou seus familiares.

Lutas de poder burocráticas

Há alguns dias, o jornalista Robert Samuels recebeu o Prêmio Pulitzer por seu livro His name is George Floyd (Seu nome é George Floyd). Em entrevista à DW, ele afirma que Biden, inclusive após assumir a presidência dos EUA, prometeu diversas vezes implementar grandes reformas na polícia, mas nada aconteceu.

Mulher com máscara cobrindo a boca onde se lê "Silêncio branco é violência".
"Silêncio branco é violência": caso Floyd provocou indignação mundial, como mostra o protesto desta mulher na IrlandaFoto: Brian Lawless/PA Wire/dpa/picture alliance

"As coisas nunca são tão fáceis em Washington", diz Samuels. "Embora haja muita solidariedade neste país para acabar com o racismo estrutural e evitar que algo assim volte a ocorrer, a reforma ficou atolada em lutas de poder burocráticas."

Segundo o jornalista, nem mesmo as inúmeras pessoas que saíram às ruas seriam capazes de mudar isso. "Eles acreditavam que, depois de um assassinato tão horrível, poderia ter surgido uma chance de o mundo mudar", afirma, mas foram confrontados com a triste realidade dos EUA. "Assim que se fala em racismo estratégico, as pessoas se sentem acusadas, expostas e não querem falar sobre o assunto de verdade."

Imagens mostram Floyd implorando pela vida

Samuels aponta para o fato de a cor da pele, ainda hoje, continuar determinando quem vai ser preso pela polícia ou até mesmo levar um tiro. "Vemos que a história se repete", lamenta, citando o ressurgimento das discussões sobre o direito de voto, que há muito eram tidas como superadas. "Existem leis e projetos de lei que dificultam o voto dos negros neste país. Realmente não está claro como as coisas serão daqui para frente."

"Americanos negros estão mais vigilantes"

No fim das contas, foi em vão a luta por justiça após o caso George Floyd?

Na política, alguns nomes se destacaram por colocar no topo da agenda o combate ao racismo estrutural e à discriminação. Um deles é o de Zaynab Mohamed. No início de 2023, a então jovem de 25 anos chegou ao Senado representando o estado de Minnesota, onde fica Minneapolis, como a primeira parlamentar de ascendência somali.

Zaynab Mohamed, senadora pelo estado americano de Minnesota
Para a senadora Zaynab Mohamed, houve avanços no combate ao racismo estruturalFoto: Trisha Ahmed/AP/picture alliance/dpa

Para Mohamed, houve avanços desde a morte de Floyd. "Os americanos negros em nosso estado, mas também no resto do país, tornaram-se muito mais vigilantes", disse ela à DW. "Também conseguimos melhorar algumas leis. Conseguimos, por exemplo, impedir que grupos neonazistas se infiltrassem em nossas autoridades policiais."

A senadora ainda considera adequada a jurisprudência do caso Floyd: "Que bom que Derek Chauvin foi condenado e está atrás das grades."

Mas ela destaca que a verdadeira justiça ainda está longe de ser alcançada: só existirá "quando fizermos mudanças sistêmicas em todos os departamentos e na política como um todo. Somente quando formos capazes de entender por que essas pessoas estão cometendo esses crimes e quando pudermos responsabilizá-las. Essa é a verdadeira mudança de que precisamos."

Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl