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EducaçãoBrasil

A importância do voluntariado na área da educação

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
22 de fevereiro de 2024

É óbvio que num mundo ideal o voluntariado para atenuar desigualdades sociais nem precisaria existir, mas nós não estamos no mundo ideal, argumenta Vinícius De Andrade.

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Estudantes sentados com livros e cadernos
Voluntariado na educação encontra resistênciasFoto: Imago/Jochen Tack

Há 8 anos trabalho com o voluntariado na área da educação e algo me surpreendeu: algumas pessoas não gostam do fato que ele exista.

Não me refiro ao fato de que há quem não queira fazer trabalho voluntário. Não é uma obrigação e não tem problema algum não querer fazer algo do tipo. Me refiro ao fato de que alguns realmente não gostam da existência de ações sociais de educação ou de qualquer outra área.

Esse grupo de pessoas se pauta em duas razões e quero dedicar esta coluna a falar sobre isso, pois acredito ser um assunto que merece discussão. Inclusive, para ser honesto, já me doeu muito a possibilidade de que toda a dedicação da minha vida está sendo para atrapalhar algo e não para ajudar, mas hoje tenho um pensamento mais maduro sobre e estou pronto para escrever sobre.

A primeira razão ficou muito clara quando um professor de uma universidade pública de São Paulo disse que nunca divulgaria os editais de voluntariado do projeto social no qual sou fundador. Segundo ele, isso desvaloriza a licenciatura e ninguém deve trabalhar "de graça".

A fala dele faz sentido e entendo o medo que a norteia. Aqui falarei a minha opinião e você, leitor, está totalmente convidado a pensar diferente. O que penso é que nem tudo é tão simples quanto preto no branco e que cada contexto muda toda a situação.

Concordo que é, no mínimo desaforo, uma empresa privada, com fins lucrativos, se utilizar de trabalho voluntário para tais fins. Ou, por outro lado, uma pessoa exercer um emprego formal enquanto voluntário enquanto outros, que exercem a mesma função no mesmo lugar, recebem para tal.

De fato, trabalhar na educação é um trabalho como qualquer outro e que merece uma boa remuneração, independente do propósito. No entanto, há voluntariados que podem ser feitos de forma paralela ao trabalho remunerado e com cargas horárias extremamente flexíveis e pontuais. Essas ações não se tratam de um emprego, mas sim de um grupo de pessoas que se juntam para uma causa e que a conciliam com seus empregos formais.

O fato é que nem todo voluntariado é pautado na exploração da mão de obra. Além disso, muitas pessoas, e nisso eu tenho plena experiência, conscientemente procuram ações para se voluntariar e as razões são diversas: ganhar experiência, certificado para cumprir carga horária, por puro altruísmo, e por aí vai. Aquele professor que se negou em divulgar simplesmente não se permitiu entender que alguns de seus alunos poderiam desejar se voluntariar e que isso não necessariamente culminaria na exploração deles.

Visão simplista

A outra razão é mais sutil e nunca ninguém teve a coragem de me dizer diretamente. Alguns acreditam que a existência do voluntariado é benéfica para a manutenção do sistema, que maquia os reais problemas, tira a responsabilidade do Estado e impede que reais mudanças aconteçam.

Essa é a linha de pensamento que mais me dói e é complexa, pois dá para entender a preocupação, mas é uma visão muito simplista, que considera apenas uma possível causa e desconsidera totalmente o potencial do voluntariado.

Se você me perguntar se a preocupação faz sentido e se ações sociais, sobretudo se em grande escala e bem-sucedidas, podem maquiar os problemas e tirar a responsabilidade do Estado, minha resposta será: é óbvio que existe a possibilidade, mas não é uma regra. Há como ser diferente. Nem tudo é oito ou 80 e as frentes de atuação para um mundo melhor não apenas não precisam, como não podem mais caminhar separadas.

Como assim? Usualmente quem critica o voluntariado tendo a segunda razão como justificativa, acredita que as mudanças precisam ser institucionais, via Estado, leis e políticas públicas. Esse grupo é majoritariamente composto por pessoas tão bacanas, esclarecidas e muitas delas estão atuando como docentes no ensino superior, produzindo muito conteúdo acadêmico importante para a nossa educação.

Quem disse que há apenas dois cenários possíveis? Um composto por pessoas lutando por mudanças via Estado e outro no qual programas de voluntariado atuam para tentar diminuir um pouco as desigualdades. Além disso, quem disse que um precisa diminuir o impacto do outro? Por que esses dois grupos não podem se unir e coexistir? A força das mudanças, tendo como hipótese que é o que todos queremos, não seria muito maior?

Na verdade, vou além: o efeito das ações sociais corroborarem para a isenção do Estado é impulsionado por todos aqueles que as isolam e julgam essa luta menos válida do que a sua simplesmente por estarem atuando em vertentes diferentes. Esse isolamento desconsidera que elas também são políticas públicas e que podem, e muito, ajudar aqueles que estão lutando por mudanças via legislativo. É preciso que seja criado uma ponte entre esses dois grupos e não um muro.

Falando pela minha atuação: é óbvio que quero que mudanças ocorram e é óbvio que em um mundo ideal o voluntariado no sentido de atenuar desigualdades sociais nem precisaria existir, mas nós não estamos no mundo ideal. Se temos a possibilidade de auxiliar milhares de jovens da rede pública que hoje estão precisando de ajuda e se temos pessoas dispostas a doar um pouco do seu tempo e conhecimento para a causa, por que não fazer?

Paralelo à nossa atuação, existirão pessoas que estarão lutando para que as leis mudem e para que o nosso trabalho, um dia, não seja mais necessário. Podemos e devemos trabalhar juntos e não mais separados.

Não entendo a lógica de que precisamos abrir mão de ajudar os outros hoje para que num futuro, possivelmente, o Estado faça. Quanto tempo levará? Quando irá acontecer? Vai acontecer? E mais importante: até lá, quem vai ajudar quem precisa de ajuda hoje? Que ponto estamos verdadeiramente provando ao abdicar de ajudar quem precisa hoje para fortalecer a possibilidade de ajudar no futuro? Será que não se trata mais de um ego do que de um genuíno desejo por mudanças? Vale a reflexão. Até lá, seguirei dedicando minha vida a quem precisar de ajuda hoje. Esses não podem esperar.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.