A habilidade da máscara
14 de abril de 2003No palco, a pouca luz iluminava um enorme e velho baú. Algumas coloridas peças de roupa cuidadosamente posicionadas aqui e ali, as paredes ao fundo do palco desnudas. Em clima de alvorada, o pernambucano adentra o teatro pela porta dos fundos, entoando uma melancólica melodia. O público ouve atento a voz distante.
Misturando música, dança, pantomima e poesia, Nóbrega procura estabelecer um elo entre o erudito e o popular. Ele devolve à experiência dramática o ritual: o público participa da criação de um personagem a cada nova máscara que ele veste. Os arquétipos que encarna são para ele "pequenas iluminuras do baú da nossa memória coletiva".
Entre o circo e o cangaço —
Os primeiros esquetes são recebidos com cautela pelo público, que não sabe se deve ou não aplaudir entre um número e outro, quando Nóbrega, em silêncio, se despe e troca o vestuário. A quebra do gelo veio com Tonheta, o "rabeteiro", o "sedutor de moças", o "calça-frouxa", o "tampa de furico", o "bam-bam-bam da zona", "aquele que matou o Mar Morto" e "entortou a Torre de Pisa".Após chamar ao palco duas "criaturas femininas", uma brasileira e uma alemã, para que lessem sua história — ao que o público reagiu positivamente, Tonheta, em algum lugar entre o circo e o cangaço, mostrou a Berlim como se dança o frevo e foi-se embora cantando, com a mesma melancolia com que havia chegado, pela porta dos fundos.
Aula espetáculo -
Além de Figural, Antônio Nóbrega apresenta em Berlim Sol a pino, uma espécie de oficina na qual mostra ao público como constrói seus personagens. Ele apresentará cantigas e histórias com a ajuda da bandola, do violão e do pandeiro, passando por danças populares como frevo, maracatu e capoeira, além de mostrar como fabrica e utiliza seu figurino e suas máscaras.