A grande corrida de François Fillon
21 de novembro de 2016François Fillon é um apaixonado fã do automobilismo. Em sua cidade-natal, Le Mans, famosa pela corrida 24 Horas, ele gosta de testar suas habilidades dando voltas num carro de alta potência. Politicamente, porém, costuma ficar no batalhão intermediário em vez de arriscar ultrapassagens.
Durante muito tempo, Fillon desempenhou o papel de um político recatado. Trabalhador, leal, mas não no centro dos holofotes. A carreira do ex-premiê lembra a de um herdeiro do trono que fracassou. No entanto, no primeiro turno das primárias da centro-direita na França, neste domingo (20/11), ele surpreendeu e ultrapassou os favoritos Alain Juppé e Nicolas Sarkozy.
De repente, Fillon tem boas chances de vencer o segundo turno contra Juppé, no próximo domingo (27/11), e ser o candidato presidencial dos conservadores. Aí o político de 62 anos teria, finalmente, uma chance de se mudar para o Palácio do Eliseu. Mas quem é esse homem que há tempos pertence ao primeiro escalão da política francesa e cujo êxito repentino, mesmo assim, surpreende a todos?
Seriedade em vez de escândalos
"François Fillon representa a seriedade absoluta", afirma o cientista político Dominik Grillmayer, do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg. Em suas aparições públicas, ele age de forma "ponderada, modesta e soberana", acrescenta.
Durante cinco anos, entre 2007 e 2012, Fillon serviu como primeiro-ministro sob o governo de Sarkozy sem provocar nenhuma manchete negativa. Ele foi, assim, o primeiro premiê francês a ficar no cargo durante todo um mandato presidencial. Anteriormente, Fillon havia ocupado o cargo de ministro dos Assuntos Sociais e, depois, a pasta da Educação.
Continuidade e confiabilidade são as características de Fillon, resume Grillmayer. Ele é considerado um político idôneo, embora haja a história de uma viagem luxuosa pelo rio Nilo, em 2010, quando ele foi convidado pelo ex-presidente egípcio Hosni Mubarak. Mas, em comparação com Juppé, que foi condenado por financiamento partidário ilegal, o fato se assemelha mais a uma nota de rodapé para alguns observadores.
Católico conservador
Nascido em Le Mans, no noroeste da França, Fillon representa os valores católicos tradicionais. O jurista é considerado profundamente conservador. Ele rejeita o mariage pour tous (casamento para todos), ou seja, o casamento gay e o direito de adoção por parte de casais do mesmo sexo. Fillon é casado há 36 anos e tem cinco filhos com sua esposa. O casal mora num castelo do século 12 no departamento de Sarthe, no sudoeste do país.
Fillon defende uma linha política de direita, crítica do islã. Recentemente, ele publicou um livro sobre o islã radical. O ex-premiê pretende controlar mais rigorosamente as mesquitas e prender pessoas que tiveram contato com organizações como o grupo terrorista "Estado Islâmico". Além disso, deverá ser dificultado o acesso de estrangeiros aos sistemas de bem-estar social e de saúde. Ele também defende uma cota máxima para a entrada de refugiados.
Liberalismo econômico linha-dura
O programa político de Fillon também defende um rígido liberalismo econômico. Ele é um admirador da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. O ex-premiê francês pretende reduzir as despesas estatais em 100 bilhões de euros, cortando para tal 500 mil postos de trabalho no serviço público.
Ele também não se deixa intimidar pelas "vacas sagradas" da França: Fillon quer abolir a lei de 35 horas semanais de trabalho, em vigor há décadas na França, e elevar a idade de aposentadoria. Ao mesmo tempo, defende reduzir significativamente os impostos e encargos corporativos, para aumentar a competitividade do país.
Solucionador de problemas ou divisor social?
Fillon gosta de se apresentar como solucionador de problemas, como alguém que colocará a Grande Nation de volta nos trilhos, comenta Grillmayer. No entanto, com sua controversa linha econômica liberal, ele "promete coisas que talvez não possa cumprir", afirma o cientista político do Instituto Franco-Alemão. Não somente os esquerdistas, mas também os seus próprios correligionários o acusam de dividir ainda mais a sociedade.
Afinal, Fillon entrou para a corrida eleitoral com um programa radical. Em muitos pontos, as suas propostas se assemelham às dos populistas de direita. É uma tentativa de recuperar eleitores conservadores que passaram para a Frente Nacional. Ao contrário de Sarkozy, Fillon tem credibilidade entre os eleitores.
"As pessoas acreditam que ele pretende implementar essas medidas por uma profunda convicção e que não está agindo apenas por interesse eleitoral", avalia Grillmayer. Segundo o especialista, Fillon é uma pessoa de posições firmes e conhecidas há anos. Com a tríade católico, conservador e capitalista, o ex-premiê já circula há muito em seu país.
Segundo Grillmayer, Fillon planejou com maestria a sua candidatura à presidência. Como ele é considerado sério e confiável, muitos franceses o veem como alguém capaz de personificar a "dignidade do cargo de presidencial". Ainda não se pode prever se, no final, Fillon vai mesmo conseguir realmente ultrapassar Juppé e também deixar para trás Marine Le Pen. A corrida pela presidência ainda está longe do fim.