A cidade dos bonecos de Natal
23 de dezembro de 2004As montanhas ao redor de Seiffen, no Leste da Alemanha, há muito tempo já não escondem mais estanho ou prata, mas seus habitantes encontraram uma verdadeira mina de ouro: o Natal. "Ele mantém viva nossa cidade", disse o prefeito Wolfgang Schreiter. "É o nosso trunfo."
Situada na serra Erzgebirge, na fronteira da Saxônia com a República Tcheca, a pequena cidade de 2,8 mil habitantes possui uma taxa de desemprego de apenas 5% e pode ser considerada um oásis em uma região onde 15 a 25% da população está desempregada.
Ainda no auge do verão, começa a operação natalina em Seiffen. Nas centenas de oficinas artesanais, a maioria de propriedade familiar, torneiros dão forma aos enfeites e as mulheres colorem os detalhes finais com minúsculos pincéis.
São figuras de madeira que dão vida a qualquer árvore de Natal, mas não só isso: candelabros, quebra-nozes e incensários que decoram lares em diversos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. A Glaesser – com 130 empregados uma das maiores fabricantes da cidade – envia 20% de sua produção ao exterior, segundo seu diretor-geral, Klaus Huebsch.
Maratona natalina
Na corrida para o 24 de dezembro, cerca de 200 mil turistas visitam o tradicional mercado de Natal a céu aberto. Ônibus de turismo levam multidões ao Museu do Brinquedo, que conta a gradual transformação de Seiffen ao longo de quatro séculos de um velho centro de mineração na meca do artesanato natalino.
Na Glaesser, turistas podem observar um grupo de mulheres vestidas com aventais floridos imprimindo os últimos detalhes aos homenzinhos de madeira, que chegam às vitrines com vestimentas típicas da Baviera, no sul do país. "Eles adoram esses bonecos nos Estados Unidos. Os americanos pensam que todos os alemães vestem roupas desse tipo", diz Huebsch.
Além do mais, mostrar o amor com que são feitos os enfeites também é uma maneira de incentivar a venda: "As pessoas entendem melhor por que cobramos tanto pelos produtos".
Longo caminho desde o comunismo
Seiffen passou por uma verdadeira metamorfose desde o fim do ciclo de mineração. Durante a ditadura comunista, todos os artesãos eram agrupados em cooperativas e a produção era inteiramente destinada ao mercado interno. Foi só quando aumentou a dependência do regime de moeda estrangeira que se passou a produzir para exportação.
Com a queda do Muro, os artesãos reclamaram o controle sobre os negócios. "Não foi fácil. Tivemos de nos reestruturar completamente e encontrar novos clientes", explica Matthias Schalling, que relançou a fábrica fundada por seu bisavô em 1904.
Desde a reunificação em 1990, seis hotéis foram erigidos, a maior parte da vila foi restaurada e turistas invadem as ruelas – mesmo que quase exclusivamente durante a época de Natal. O prefeito fala em "um crescimento surpreendente".
Fiel ao espírito de Natal
Uma das maiores preocupações dos artesãos é a manutenção do curso de formação em artesanato de brinquedos em madeira oferecido pela escola técnica local. Em 2004, cerca de 20 jovens artesãos completaram o programa de três anos. Mas o programa, que gozava do reconhecimento oficial das autoridades comunistas, corre agora risco de sumir do currículo da escola.
Além do mais, a crescente comercialização está alterando o caráter dessa arte secular. O prefeito Schreiter disse estar disposto a evitar a qualquer custo que Seiffen se torne "uma espécie de Las Vegas".
"Estamos tentando impedir que as coisas vão longe demais", confirmou Huebsch, da Glaesser. A começar por guirlandas de cores berrantes – luzes brancas e bonecos de madeira, disse, são mais fiéis ao verdadeiro espírito de Natal.