Chupeta faz aniversário
2 de julho de 2009Alimento, calor e proteção. Tudo isso um bebê encontra no peito da mãe. E o que acontece quando ela não está por perto?
Longe do seio materno, a carência desses três itens gera um desconforto que os bebês expressam nas constantes choradeiras que atormentam os pais ao longo dos primeiros meses de vida. É por isso que existe a chupeta. Escavações na Itália, no Chipre e na Grécia sugerem que, há mais de 3 mil anos, a humanidade já buscava alternativas para tranquilizar as crianças, mantendo-as ocupadas com algo que pudessem sugar enquanto o peito da mãe não estivesse disponível.
No Antigo Egito, os objetos dados aos pequenos da época eram simples figuras de animais feitas com barro e adoçadas com mel. Mais tarde, tornou-se comum mergulhar linho grosso em mel, leite, extrato de papoulas, conhaque ou em láudano, um medicamento feito à base de ópio, antes de levá-los à boca das criancinhas. Como se nota, a ideia da chupeta já é antiga, mas o conceito do formato atual, com bico, escudo e argola, surgiu apenas no século 19, acabando, então, com o risco de que bebês engasgassem ou mesmo engolissem esses objetos.
Debate sobre vantagens e desvantagensApesar da grande evolução por que passou o produto, o substituto para o peito materno ainda estava longe do ideal. Feito à base de borracha, o bico ainda era muito duro e também podia ser tóxico. Mães e profissionais da área de saúde seguiram, portanto, debatendo as vantagens e desvantagens do hábito de sucção desses materiais.
O problema de banir os "brinquedos calmantes" era que os bebês passavam naturalmente a chupar o polegar. Em meados do século 20, o dentista alemão Adolf Müller concluiu que chupar o dedo por muito tempo também não era bom, já que o hábito causa má formação dos dentes – o que não acontece com a amamentação.
Em 1949, Müller criou, com a ajuda do ortodontista compatriota Wilhelm Balters, um objeto que eles chamaram de "chupeta calmante ortodôntica", um nome que soa ainda mais complicado em alemão: "kiefergerechter Beruhigungssauger". Foi assim que surgiu a chupeta moderna, com bico feito de látex ou silicone e modelado de tal forma que os movimentos de sucção de um bebê se assemelhem aos que eles fazem no peito da mãe.
A invenção alemã faz sucesso há seis décadas, mas o professor de Fonoaudiologia Heinrich Pfaar diz que nem tudo é motivo de festa. Um dos problemas vistos por ele é o antigo costume de dar sabor ao objeto de sucção. "Ainda hoje, algumas pessoas frequentemente mergulham a chupeta no mel ou passam um pouco de geléia ou alguma outra coisa nela, o que leva ao surgimento de cáries", explica o professor.
Má formação dentária é associada à chupeta
Pfaar também enfatiza que, apesar da qualidade dos materiais empregados na produção de chupetas e das frequentes adaptações feitas pela indústria desse ramo, problemas de má formação dos dentes ainda continuam sendo associados ao uso da chupeta. Segundo o professor, isso acontece porque, conforme o tempo passa, a pressão da língua nos dentes frontais os acaba afastando, o que gera uma precoce má formação da arcada dentária.
Por isso, Heinrich Pfaar sugere que crianças não usem mais chupetas a partir dos 2 anos de idade. Pais e mães do mundo todo sabem que isso não é fácil. Na Alemanha, um método considerado duro é o de passar mostarda no bico até a criança ficar com aversão do objeto.
Muitos pais preferem adotar medidas menos drásticas, como chamar a "Fada da Chupeta" para que, em uma visita misteriosa, ela leve o objeto embora e deixe um presente como substituto.
Será que a chupeta moderna ainda é motivo de orgulho aos seus criadores? Segundo estudiosos estadunidenses, sim. Por regular a respiração e ajudar os bebês a despertarem em caso de falta de oxigênio, peritos afirmam que o uso da chupeta pode reduzir em até 90% o risco de morte súbita de bebês.
EH/dw
Revisão: Roselaine Wandscheer