A aventura "criança"
5 de agosto de 2003As roupas de gestante são cada vez mais justas, as grávidas já não precisam esconder a barriga. Na impossibilidade de realizar muitos sonhos de carreira, sobretudo com o colapso do mercado de novas tecnologias, a geração acima dos 30 passou a dar cada vez mais valor ao projeto família. Na televisão alemã, o que não falta são minisséries e novelas sobre bebês. Todos esses são sinais de conjuntura.
“A maioria das pessoas quer ter filhos”, diz Hans Bertram, presidente da comissão federal responsável pelo próximo relatório sobre a família. Na Alemanha, no entanto, conciliar vida profissional com família é bem mais difícil do que em outros países europeus, como a França e a Grã-Bretanha. Segundo Bertram, professor da Universidade Livre de Berlim, pessoas de formação universitária precisam de cinco a sete anos, depois de formadas, para se estabelecer profissionalmente. Atualmente, só 40% das mulheres com curso superior chegam a ter filhos.
Esterilidade aumenta, população diminui
A maioria das pessoas quer ter estabilidade na profissão e no relacionamento antes de ter filhos. Este sonho é difícil de ser realizado, segundo nota Walter Bien, do Instituto da Juventude, em Munique: “Apesar de as pessoas estarem valorizando mais as crianças, há cada vez menos nascimentos. É que, devido à longa espera, a fertilidade de homens e mulheres diminui.”
De acordo com a revista Geo, um em cada seis casais deixa de ter filhos a contragosto. No ano passado, 46 mil casais casais alemães apelaram para ajuda médica, a fim de resolver este problema. O despertador biológico também toca para os homens: já se fala até de uma “crise de esperma”.
Apesar de aproximadamente 80% das alemãs terem filhos, a taxa de natalidade no país não é suficiente para evitar a redução da população e o aumento da idade média. De acordo com o Instituto Federal de Estatística, o atual número de 730 mil nascimentos anuais deverá cair para 560 mil no ano de 2050. A metade da população teria, então, mais de 48 anos.
Criança, causa de pobreza?
Casamento e vida matrimonial continuam, no entanto, em conjuntura. A “sociedade de singles” nunca foi uma denominação apropriada. Cerca de 80% das pessoas casam, uma proporção que variou muito pouco nos últimos anos. Por isso, a ministra da Família, Renate Schmidt (SPD), tem razão ao afirmar que a família tem futuro. No entanto, na sociedade e nas empresas falta uma certa solidariedade com gestantes e crianças. Estudos comprovam que as empresas alemãs são bem menos solidárias do que seria possível.
De acordo com um estudo da Universidade de Giessen, ter filhos ainda é uma das causas de empobrecimento das famílias. Quem sai sofrendo com isso são as próprias crianças. A única garantia para não se cair na pobreza são os rendimentos da mãe. No entanto, as condições para mães ativas no mercado de trabalho não são das melhores. No ano 2000, 54% das mães com filhos pequenos tinham um emprego, apesar de apenas 5,5% das crianças abaixo de três anos terem vaga nos jardins de infância da parte ocidental do país. Isso sobrecarrega sobretudo as mães, obrigadas a arrumar um jeito de ganhar dinheiro extra.