22 de junho de 2007
21 de junho de 2008Bernd Becher nasceu em Siegen, em 1931. Até sua morte em Rostock, em 2007, o fotógrafo inventariou as paisagens abandonadas da era pós-industrial na Alemanha. Lacônicos e contundentes, seus trabalhos, ao lado da mulher Hilla, criaram uma obra que prima pelo rigor formal num work in progress incessante.
Bernd Becher participou da restauração de igrejas e foi aluno, em Stuttgart, de Otto Rössing, um representante pouco conhecido da Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit). Em 1957, começou a estudar na Academia de Artes de Düsseldorf.
Demolição e abandono
Nos arredores de Siegen, a indústria metalúrgica começava a desaparecer nos anos 50, quando era substituída por siderúrgicas na região do Vale do Ruhr. Neste momento, Bernd Becher tentou inicialmente reproduzir as paisagens da região em desenhos. Em 1957, o artista resolveu "congelar", em fotografias feitas com uma câmera de pequeno formato, as imagens de demolição e abandono das minas desativadas.
A idéia inicial era usar estas imagens como ponto de partida para seus desenhos. Gradualmente, Bernd Becher passou, porém, a fotografar cada vez mais, revelando a tipologia da arquitetura da era industrial. Um trabalho de documentação aperfeiçoado através da estética e do método de Hilla Becher, com quem se casaria em 1961.
Missão arqueológica
Naquele ano, os dois comprariam a primeira câmera profissional e um carro, com o qual iriam fazer viagens "arqueológicas" por paisagens da era pós-industrial não somente na Alemanha, mas também na França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e, mais tarde, nos Estados Unidos.
Em 1963, fariam a primeira exposição fotográfica numa livraria de Siegen. Três anos mais tarde, viria a idéia de tranformar a Kombi dos dois em um laboratório fotográfico improvisado em viagens pela Inglaterra e País de Gales. Era o início do projeto dos Becher de constituição de um verdadeiro inventário arqueológico-industrial da Alemanha e do mundo.
Lacônicos, mas contundentes
As imagens reproduzidas pelos dois fotógrafos têm pouco de espetacular. Uma das acusações que os artistas foram obrigados a ouvir rotulava o trabalho deles de "fotografia industrial monótona". Isso antes que o observador detectasse a contundência da estética lacônica das imagens e a técnica usada para produzi-las.
Um procedimento que acabou se estendendo pelos próximos 40 anos – décadas durante as quais Hilla e Bernd Becher fotografaram sempre sob as mesmas condições: céu nublado, luz opaca, muita profundidade de campo e perspectiva frontal para registrar em preto-e-branco as edificações. Fornos industriais, torres, reservatórios de gás e silos de carvão. Obejtos que aparecem solitários, mesmo quando as reproduções fotográficas são expostas sistematicamente em série ou impressas em livro.
Esculturas
O trabalho do casal Becher é o de escultores. Pelo menos na opinião do júri da Bienal de Veneza, que em 1990 concedeu o Leão de Ouro da Escultura a Hilla e Bernd Becher. No pavilhão alemão daquele ano, foram expostas as séries em preto-e-branco de instalações de fábricas, fornos enormes, silos e reservatórios de gás. Esculturas, contudo, os Becher nunca produziram. Eles simplesmente fotografam as paisagens industriais abandonadas. Sem eles, elas não teriam passado de "esculturas anônimas".
O que os dois fotógrafos alemães fizeram foi fechar os olhos para a funcionalidade destas edificações, extraí-las do seu contexto original e ordená-las em série, transformando-as em "construções", "estruturas", "objetos". A suposta objetividade das imagens captadas e a encenação criada pelos fotógrafos fizeram dos dois verdadeiras estrelas da fotografia contemporânea.
Trabalho a quatro mãos
Para Hilla e Bernd Becher, não importava qual dos dois fotografava, pois a composição era definida detalhadamente pelo casal anteriormente, em conjunto. E a decisão sobre o que modificar posteriormente também era comum.
Uma das preocupações dos dois fotógrafos sempre foi evitar cortes radicais ou distorções. Em alguns casos, eles chegaram a esperar dias a fio pela luz exata – por pura rejeição do acaso, dizem. E nunca viram qualquer razão para interferir numa imagem "que pode falar por si mesma", avisam. E isso mesmo em momentos nos quais o que se considerava "fotografia pura" era tida como algo ultrapassado, sinônimo de monotonia.
O trabalho dos Becher foi criticado inicialmente por não ser "artístico o suficiente". Mais tarde, as acusações eram de que eles tentavam estetizar a paisagem industrial. Posteriormente, apontou-se uma falta de crítica social no vazio documentado pelas imagens. E, por fim, os fotógrafos chegaram a ser acusados de reproduzir uma estética fascista com a suposta monumentalidade de suas imagens.
Reconhecimento tardio
Por muito tempo, o trabalho de Hilla e Bernd Becher não recebeu na Alemanha a atenção devida, nem seus princípios estéticos foram realmente compreendidos. O início do reconhecimento oficial aconteceu no começo dos anos 70, quando os dois participaram de exposições de arte conceitual nos EUA e passaram a ser automaticamente enquadrados neste gênero pelo mercado de artes.
A originalidade do trabalho, porém, ainda continuava ignorada. Uma primeira tentativa de reconhecimento dentro da Alemanha aconteceu em 1976, quando Bernd Becher foi nomeado professor da Academia de Artes de Düsseldorf. Ao contrário de Hilla, que, mesmo assim, acompanhou os alunos de fotografia da Academia por mais de 20 anos ao lado do marido.
Fazendo escola
Hoje, o nome dos fotógrafos se tornou uma verdadeira instituição no país e a morte de Bernd Becher em 2007 foi lamentada por especialistas e pela mídia. O trabalho dos dois inspirou, entre outros, os conceituados artistas Thomas Struth, Candida Höfer, Thomas Ruff e Andreas Gursky.
Além disso, os Becher foram responsáveis pela introdução na cena de artes plásticas de vários artistas jovens. O estilo aliado à Nova Objetividade dos dois fez escola, afirmou-se no mercado e ganhou atualidade.