1925: Josephine Baker estreia em Paris
Publicado 2 de outubro de 2012Última atualização 2 de outubro de 2019Na estreia da "Revue Nègre" em Paris, dia 2 de outubro de 1925, Josephine Baker tinha 19 anos de idade. Ela vinha das favelas de St. Louis, no Missouri. Aos 8 anos, teve de começar a trabalhar como empregada doméstica. Com 13, juntou-se a um grupo teatral de terceira classe. Ela não nada, além de um talento artístico excepcional e a vontade férrea de vencer na vida.
Aos 16 anos, Josephine Baker foi para Nova York, onde conquistou um lugar no grupo das dançarinas do Music Hall. Não demorou para que a produtora Caroline Reagan enviasse Josephine Baker a Paris. Começou assim uma carreira ímpar.
Josephine Baker mesma conta: "Deixei os Estados Unidos num dia de neblina, em setembro, e desembarquei com o sol da França no coração. Eu decidi vir pois sabia através dos meus pais – oriundos de Martinica – que na França eu encontraria opiniões liberais, liberdade de pensamento e uma visão mais natural do corpo."
Protestos até de Paris
Josephine tinha razão. Inicialmente, mesmo na liberal Paris, ouviram-se alguns protestos após as suas primeiras apresentações. Mas foi muito mais forte o entusiasmo pela forma inteiramente nova de dançar. Ela se contorcia sensualmente, dançava com movimentos de êxtase, cantava com voz de passarinho tropical. E não estava vestida com roupa nenhuma, a não ser uma saia de bananas.
Jean Cocteau a descreveu como "um ídolo de aço escuro e bronze, ironia e ouro". Seguiram-se apresentações nos Folies Bergères e no cassino de Paris. No Chez Josephine, ela mostrava todas as noites uma dança que trouxera do sul dos EUA e que ninguém ainda conhecia na Europa: o Charleston.
A popularidade de Josephine Baker era ilimitada. Ela tornou-se o símbolo da decadente década de 1920 em Paris. Seus cabelos curtos, grudados na cabeça com brilhantina, à guisa de um capuz laqueado, tornaram-se moda para toda uma geração.
Josephine Baker mandou estofar os assentos do seu carro esporte com couro de cobra. Seu animal doméstico era um leopardo. Seus cachês milionários lhe permitiam todo tipo de extravagância. Através do diretor de teatro Max Reinhard, a estrela exótica passou a apresentar-se também em Berlim.
Estrela nômade
Josephine Baker conta que era muito jovem quando chegou a Berlim: "Queria aproveitar tudo na vida. Então, logo deixei Berlim e fui para Paris. Mal cheguei lá, comecei a sentir saudades de Berlim. Fiquei numa enorme indecisão entre esses dois amores."
Em Berlim, Josephine Baker teve o seu primeiro contato com o racismo na Europa. Os nazistas começavam a ganhar terreno. Os simpatizantes do nazismo impediam, com vaias, as suas apresentações. Em alguns jornais, ela era difamada como "macaca".
Como penitência "pelos graves delitos contra a moral, cometidos por Josephine Baker", a cidade de Viena mandou celebrar missas especiais durante as suas apresentações. Josephine buscou então refúgio nos Estados Unidos. Em Nova Iorque, a artista negra foi expulsa de um restaurante "só para brancos". Decepcionada, ela retornou a Paris.
Résistance e 12 órfãos
O seu engajamento no movimento de resistência durante a Segunda Guerra Mundial valeu a Josephine Baker altas condecorações do Estado francês. No pós-guerra, ela realizou um dos seus desejos mais ardentes: como não tivesse filhos próprios, Josephine Baker adotou doze crianças órfãs de diversos países. E passou a dedicar-se exclusivamente à sua nova família. Mas a falta de dinheiro acabou levando-a de volta ao palco.
Baker: "É o mesmo problema no mundo inteiro! Agora eu tenho uma grande família e preciso de muito dinheiro!" Ela atuou no palco até quase os 70 anos de idade. Em Paris, em abril de 1975, ela celebrou os seus 50 anos de vida artística com uma grande espetáculo: "Agora, tenho de dizer adeus e envio um grande beijo a todos!" Dois dias depois, sofreu um derrame cerebral: morria assim a estrela que também era chamada "Vênus Negra".