24 de abril de 1884
"No sul da costa ocidental da África, limitando ao norte com a zona tropical, encontra-se a África do Sudoeste, que se originou da primeira colônia da Alemanha – Angra Pequena, um nome que desde 1884 é conhecido de todos."
Com essa inofensiva descrição começa o capítulo "Deutsch- Südwest", do manual Colônias da Alemanha, escrito em 1898 por Rochus Schmidt, um comandante das tropas imperiais.
Em comparação com as grandes potências coloniais como, por exemplo, o Reino Unido e a França, que se apoderavam de novos territórios com objetivos políticos e rudeza militar, a breve e modesta atuação alemã no além-mar foi atípica e, em se tratando do chanceler Otto von Bismarck, até bastante cautelosa. Pelo menos foi assim na atual Namíbia – a ex-África do Sudoeste.
Ideia de um comerciante
O coiniciador da delimitação do primeiro "protetorado alemão" foi Franz Adolf Eduard Lüderitz, comerciante de tabaco de Bremen. Ambicioso, Lüderitz atuara sem grande sucesso nos negócios com o sudoeste da África.
Fora dele a ideia de estabelecer uma base comercial nas costas daquela região desértica, para retomar o comércio de armas com os autóctones, iniciado pela Companhia das Missões Renanas. Além disso, ele pretendia burlar as taxas de importação cobradas pelos ingleses, que ocupavam a faixa costeira, a fim de controlar o comércio de armas.
Lüderitz sabia que logo seria barrado pelo britânicos, se a região que reivindicava para seus interesses econômicos não fosse colocada "sob proteção da bandeira alemã". Assim, fundamentou seu "pedido de proteção" com o argumento de que isso garantiria a exploração de enormes reservas minerais pela indústria alemã.
Receio da Inglaterra
Temendo atritos com a Inglaterra, Berlim relutou, inicialmente, dando a entender que Lüderitz deveria estabelecer a base comercial por conta própria.
O comerciante de Bremen acabou arrancando de Bismarck pelo menos a promessa verbal de uma proteção, mas com uma ressalva: era preciso conferir se a Inglaterra não tinha ou pretendia obter direitos de soberania sobre o território.
Bismarck não queria, de jeito nenhum, colidir com os interesses britânicos. Tanto maior sua irritação, ao saber através da imprensa em agosto de 1883, que a 12 de maio Lüderitz havia içado a bandeira alemã "em sinal de tomada de posse".
A colônia que a Alemanha não queria
Lüderitz chegou a dar a sua possessão caráter de soberania imperial, o que foi rejeitado por Berlim. Bismarck deixou claro que se tratava apenas de uma "propriedade particular de Lüderitz" na África do Sudoeste.
O "imperador de ferro" mandou verificar, mais uma vez, se a Inglaterra não tinha direitos sobre o território. "Caso a coroa britânica não tenha tomado posse, a soberania nacional pertence ao referido príncipe negro ou a Lüderitz, mas não ao Império Alemão", observou Bismarck.
Um dos princípios da política externa alemã do final do século 19 era respeitar o interesse de terceiros no fomento das relações comerciais com territórios do além-mar.
Apesar da impertinência de Lüderitz, o Ministério das Relações Exteriores deu-lhe proteção como a qualquer outro comerciante alemão no exterior, isto é, "proteção consular" para um alemão com propriedade particular fora do país.
Namíbia: colonizada e ocupada
A 24 de abril de 1884, Bismarck anunciou que enviaria o navio Nautilus, armado com canhões, a Angra Pequena. Foi o primeiro passo da Alemanha no sentido de tornar-se potência colonial.
Colonizada pelos alemães a partir de 1890, a Namíbia é um dos mais jovens países do mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial, foi ocupada pela África do Sul, que, em 1920, recebeu da Liga das Nações um mandato para administrar o território.
A luta pela libertação eclodiu em 1966 e se arrastou até 21 de março de 1990, quando a independência entrou em vigor.