24 de maio de 1543
Até 1543, a teoria do geocentrismo, segundo a qual a Terra era o centro do universo, permaneceu incontestada. Essa visão de mundo baseava-se na obra Almagesto (A Maior Composição Matemática), escrita no século 2º a.C. pelo grego Ptolomeu e que foi aceita como uma verdade por mais de um milênio.
Ptolomeu previu com precisão razoável a posição dos planetas visíveis a olho nu, mas errou ao considerar que a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno giravam ao redor de uma Terra estacionária. Seu modelo de cosmo correspondia à teoria de Aristóteles, de que o movimento dos corpos era circular e uniforme – uma explicação plenamente compatível com os ensinamentos da Bíblia.
Os gregos foram também os primeiros a afirmar que a Terra é esférica, que ela realiza um movimento de rotação em torno do Sol e que a Lua apenas reflete a luz solar. Eles organizaram vários catálogos de estrelas e afirmaram o heliocentrismo 15 séculos antes de Copérnico. Aristarco de Samos (310-230 a.C.) desenvolveu o primeiro modelo heliocêntrico do Universo, retomado mais tarde pelo astrônomo polonês.
Trabalho incansável para comprovar sua tese
Nascido em Torum, na Polônia, em 1473, Nicolau Copérnico ingressou na Universidade de Cracóvia em 1491 para cursar Medicina, mas estudou também Filosofia, Matemática e Astronomia. Foi para a Itália em 1497 para aprender grego clássico e Direito Canônico em Bolonha. Voltou à Polônia em 1501 e ordenou-se padre, ocupando por um breve período o cargo de cônego da Catedral de Frauenburg. Retornou logo à Itália, onde freqüentou as universidades de Pádua e Ferrara.
Depois de aprofundar suas observações astronômicas em Bolonha, voltou em 1506 a Frauenburg, onde construiu um pequeno observatório e começou a estudar o movimento dos corpos celestes. Em 1514, presenteou os amigos mais próximos com o primeiro esboço de seu modelo cosmológico, escrito já em 1507.
Inicialmente, suas ideias não tiveram nenhuma repercussão. Ele buscou incansavelmente, até a morte, uma prova irrefutável para a sua tese. Demorou quase quatro décadas para divulgá-la por temer a reação da Igreja Católica.
"Sol é o centro do universo"
Exatamente em 1543 foi publicado o primeiro dos seis volumes de sua obra Das Revoluções dos Corpos Celestes, que estabeleceu as bases científicas da astronomia moderna. "Todos os planetas – inclusive a Terra – giram em torno do Sol, que é o centro do universo", concluiu. Para Copérnico, a revolução diária do firmamento devia-se ao giro da Terra sobre seu próprio eixo, enquanto o movimento anual resultava do fato de a Terra e os planetas circularem ao redor do Sol.
Como Aristóteles, ele também partia do princípio de que as órbitas planetárias eram esféricas. Seus críticos, porém, não aceitavam a refutação da interpretação bíblica do universo e falta de uma explicação para a rotação terrestre. A Igreja Católica incluiu Das Revoluções dos Corpos Celestes no Índex – a lista dos livros proibidos por heresia. O temor de Copérnico diante da censura eclesiástica não tinha sido infundado: o dogmatismo da igreja era tão forte, que questionar a perfeição divina era uma temeridade.
Quem defendesse as ideias de Copérnico pecava por imprudência. A Igreja Católica e o geocentrismo dominavam o pensamento na Idade Média. As grandes descobertas, porém, começavam a mudar essa visão de mundo. A viagem de circunavegação do globo, capitaneada por Fernão de Magalhães entre 1519 e 1522, comprovara a teoria da esfericidade da Terra, já aceita por muitos matemáticos e astrônomos.
Comprovação definitiva 150 anos depois
Galileo Galilei (1564-1642) foi o primeiro a comprovar o sistema heliocêntrico de Copérnico. Mas, em 1633, sob ameaça de excomunhão e morte pela Santa Inquisição, teve de negar formalmente as suas descobertas. Quase 150 anos após a morte de Copérnico, Isaac Newton (1642-1727) desenvolveu uma base física para a gravitação dos planetas ao redor do Sol. Foi a comprovação definitiva do heliocentrismo.
Apesar de ser irrefutável, a teoria de Copérnico só seria aceita pelo Vaticano em 1835. O papa Gregório 16 admitiu o erro dos seus antecessores. Quase 300 anos após sua publicação, a obra Das Revoluções dos Corpos Celestes foi retirada da lista dos livros censurados pela Santa Sé.
A essa altura, Copérnico não só havia revolucionado a astronomia, como também a ideia que o homem da sua época fazia de si mesmo: um ser feito à imagem e semelhança de Deus e, portanto, centro do universo.