Özil explica por que não canta o hino alemão
21 de junho de 2018Mesut Özil defende a seleção alemã há quase dez anos e, antes dos jogos, a mesma imagem se repete. Os jogadores perfilados cantam o hino nacional, ele permanece em silêncio. Uma questão que o acompanha há tempos, mas que voltou a gerar debate após a polêmica em torno da fotografia tirada com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Por que Özil não canta o hino nacional?
"Enquanto é tocado o hino, eu rezo. E tenho certeza de que esse meu retiro dá força e confiança a mim e à minha equipe para conquistar a vitória", disse Özil em entrevista dada a uma publicação da Federação Alemã de Futebol (DFB) antes da Copa do Mundo, mas que chegou à imprensa alemã nos últimos dias.
O ritual tem uma longa tradição para o jogador e remonta aos seus dias de infância. "Mesmo quando era menino, eu rezava antes de jogar futebol. E isso eu mantenho até os dias de hoje", explicou o meia de 29 anos.
Özil nasceu em Gelsenkirchen, no oeste da Alemanha, surgiu para o futebol no Schalke 04 e percorreu as seleções alemãs de base Sub-19 e Sub-21.
O ápice na sua carreira foi a conquista da Copa do Mundo de 2014 vestindo a camisa da Alemanha. Mas, especialmente por causa de suas raízes turcas, muitos o acusam de não se identificar com a Alemanha.
Na temporada 2008/09, Özil chegou a ser sondado pelo então técnico da Turquia para defender as cores do país de seus pais. O jogador acabou negando (abrindo mão inclusive da cidadania turca). No ano seguinte a sua estreia na seleção alemã, em 2009, rechaçou a crítica em relação a não cantar o hino numa entrevista ao semanário alemão Die Zeit.
"Embora eu não cante junto, eu me identifico 100% com a Alemanha", disse. Na época, no entanto, não justificou a razão pela qual não canta o hino nacional.
Ao longo dos quase dez anos com a camisa da Nationalelf, Özil recebeu muitas críticas, mas que invariavelmente eram ofuscadas pelos bons resultados da seleção alemã. Agora, elas voltaram com vigor. A mais recente foi do ex-jogador Stefan Effenberg.
"Se Özil defende a Alemanha, então ele também deve cantar o hino nacional", disse o vice-campeão europeu de 1992 numa mesa redonda do canal esportivo Sport1. A plateia aplaudiu efusivamente.
Aplausos que certamente carregam na memória a polêmica gerada por Özil e Ilkay Gündogan, jogadores de ascendência turca e que tiraram uma fotografia com o presidente da Turquia. O gesto causou indisposição na política. Os dois atletas chegaram a conversar com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. Até a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pronunciou-se sobre o tema. Nas redes sociais, os torcedores pediram que ambos sejam cortados da seleção.
No último amistoso preparatório, contra a Arábia Saudita, em Leverkusen, Gündogan foi vaiado toda vez que tocava na bola. O meia do Manchester City ao menos atendeu à imprensa e chegou a se desculpar e justificou a fotografia, mas Özil tem fugido dos jornalistas.
O silêncio de Özil incomodou muita gente. "Isso [o silêncio] mostra que Özil não entendeu por que há tão grandes discussões sobre ele na Alemanha", disse o ex-meia Lothar Matthäus, que não exclui a aposentadoria de Özil da seleção após a Copa.
"Tenho a sensação de que ele não se sente bem vestindo a camisa da Alemanha, como se nem quisesse jogar. Ele está sem fogo: não tem coração, nem alegria, nem paixão."
E aliado a atuações apagadas, Özil virou o bode-expiatório dos problemas na seleção alemã e, principalmente, da derrota na estreia para o México.
"Tenho que me repetir toda vez: a linguagem corporal de Özil é a de um sapo morto. Isso é patético", disse Mario Basler, ex-jogador da seleção e há anos crítico declarado do meia. "Ele é superestimado como jogador de futebol."
A Nationalelf tem os duelos com Suécia e Coreia do Sul para evitar um fiasco que tem se repetido com frequência nos últimos Mundiais – a eliminação de um atual campeão já na fase de grupos.
Nas últimas quatro Copas, apenas o Brasil, em 2006, superou a primeira fase como detentor do título: em 2002, a França sucumbiu perante Dinamarca, Senegal e Uruguai; em 2010, a Itália alcançou a façanha de não vencer Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia; em 2014, a Espanha foi superada por Holanda e Chile.
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