271211 Kim Jong Il
28 de dezembro de 2011A morte do ditador norte-coreano Kim Jong Il foi mantida em sigilo durante dois dias. Nem mesmo o serviço secreto sul-coreano suspeitou de alguma coisa. Isso mostra o quão pequeno é o volume de informações que vaza das barreiras hermeticamente fechadas da Coreia do Norte.
"Tudo é possível e as coisas são difíceis de serem previstas", diz o especialista Hanns Günther Hilpert, do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP, na sigla em alemão), sobre o futuro do governo norte-coreano.
Kim Jong Un é o "grande sucessor"
Certo é que Kim Jong Un é o nome indicado para suceder Kim Jong Il. Logo após a morte do pai, ele foi apontado pela mídia como seu "grande sucessor". No sábado passado (24/12), foi também nomeado "comandante supremo" das Forças Armadas.
Kim Jong Un encontra apoio na família, sobretudo de sua tia Kim Kyong Hui, que é membro do Politburo, e de seu tio Jang Song Thaek, que dirige o departamento administrativo do partido do governo, supervisiona o serviço secreto e é vice-presidente da Comissão Nacional da Defesa.
A China, por sua vez, na condição de vizinho mais poderoso do país, parece estar de acordo com a sucessão, afirmam os especialistas. O pesquisador Patrick Köllner, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), sediado em Hamburgo, lembra: "A China já manifestou sua aprovação frente à tomada do poder por Kim Jong Un".
Mas isso não significa que a questão do poder na Coreia do Norte esteja finalmente esclarecida. "A sucessão de Kim Jong Il por Kim Jong Un já foi conduzida, mas não pode ser considerada de forma alguma como algo implementado", completa Köllner.
Principalmente a juventude é um empecilho a que Kim Jong Un consolide a sua ascensão ao poder, já que tanto a idade quanto a experiência são quesitos importantes para um líder na sociedade norte-coreana.
Divergências nos círculos internos de poder
Lutas pelo poder nos círculos internos do governo tornam a situação ainda mais difícil. Há duas facções: a primeira defende reformas econômicas seguindo o modelo chinês; a outra se opõe amplamente a essas reformas.
Os defensores das reformas econômicas encontram-se, contudo, já há alguns anos em posição de minoria, constata Köllner. Uma oposição que possa ser levada a sério não existe no país. "Quem, na Coreia do Norte, se opõe à família Kim, não tem chances de sobrevivência", diz Hilpert, do SWP.
Em meio a todas as divergências, o regime norte-coreano aposta na continuidade política, visando, entre outros, a manutenção do programa nuclear, já que as armas atômicas são consideradas meios eficazes para assustar os países ocidentais. "No fim, as lideranças permanecem num mesmo barco. Mesmo que nem todos remem na mesma direção, é comum a todos o interesse pela perpetuação do regime", relata Köllner.
Irritação entre vizinhos
Os países vizinhos, principalmente a Coreia do Sul, observam a situação política na Coreia do Norte com tensão e grande preocupação. A relação entre as duas Coreias ficará nebulosa por algum tempo, avaliam os especialistas, até porque o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung Bak, mantém uma linha dura frente à Coreia do Norte.
Segundo Köllner, não há nenhum canal aberto de diálogo entre os dois países. "As relações estão totalmente suspensas. Só espero novos impulsos neste sentido depois que o mandato de Lee Myung Bak chegar ao fim, em 2013", diz Köllner.
Nem mesmo a visita de duas delegações sul-coreanas a Pyongyang, para o funeral de Kim Jong Il, que começou nesta quarta-feira (28/12), contribui para mudar algo nesta situação.
Segundo declarações oficiais, as visitas das duas delegações ao país são de natureza privada, tendo sido lideradas pela viúva do ex-presidente sul-coreano Kim Dae Jung, defensor de uma política de aproximação com a Coreia do Norte, e também por Hyun Jeong Eun, presidente do grupo Hyundai, que mantém relações comerciais com o país comunista. Outras visitas de condolência além dessas duas não foram permitidas pelo governo norte-coreano.
China: "proteção da Coreia do Norte"
O especialista Hilpert diz ver na China a grande protetora da Coreia do Norte. Pequim, segundo ele, apoia o regime norte-coreano por temer uma avalanche de refugiados, que poderiam levar a uma instabilidade nas províncias ao norte da China, nas quais também vivem minorias coreanas.
"A consequência a médio prazo de uma derrocada da Coreia do Norte poderia ser a reunificação do país, sob a égide capitalista pró-americana. Neste caso, tropas norte-americanas poderiam ficar estacionadas na fronteira com a China – a pior de todas as hipóteses, sob a perspectiva chinesa", completa Hilpert.
A consolidação do poder na Coreia do Norte sobrepõe-se a todos os outros temas, fazendo com que questões de política externa sejam dominadas pela definição de posições na política interna. "Questões de sucessão em regimes autoritários são basicamente períodos com risco de grande instabilidade. De forma que as energias, no momento, voltam-se muito para dentro", analisa Hilpert.
Ele compara o atual clima político no Sudeste Asiático à calmaria que antecede a tempestade, mesmo que ninguém possa realmente dizer se e quando a tempestade vai, de fato, começar.
Autor: Rodion Ebbighausen (sv)
Revisão: Alexandre Schossler