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À espera do G8

5 de julho de 2009

Para os habitantes da cidade italiana devastada por um terremoto, a presença dos líderes das nações mais poderosas do planeta chamará a atenção do mundo para os esforços de reconstrução.

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Meses após o terremoto, moradores continuam abrigados em barracasFoto: picture-alliance/ dpa

De forma surpreendente, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, anunciou em abril que o encontro de cúpula do G8, previsto inicialmente para a ilha de Sardenha, seria transferido para a cidade de Áquila, fortemente afetada por um terremoto.

O anúncio causou surpresa em todo o mundo, mas fez todo o sentido para os habitantes de Áquila, que ainda sofrem as consequências do tremor. A partir de 7 de julho, os líderes das nações mais poderosas do mundo poderão ver de perto os estragos.

A mudança de local deixa, porém, uma questão em aberto: como é possível organizar um encontro dessa magnitude numa cidade destruída por um terremoto?

Holofotes do mundo

Até hoje Áquila, cidade rica em monumentos arquitetônicos, não voltou à normalidade. Ao todo, foram evacuadas 54 mil pessoas e outras 36 mil vivem em barracas.

Também o escritório do prefeito Massimo Cialente foi destruído. O difícil trabalho que ele tem pela frente é realizado de casa, no carro ou visitando prédios atingidos. "É uma cidade que precisa se reorganizar. Ainda estamos procurando locais para instalar os escritórios de administração."

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Destruição em ÁquilaFoto: AP

Ele lembra que o terremoto destruiu não apenas uma cidade, mas a capital de uma região da Itália, Abruzzo. "Temos agora a esperança de que os holofotes de todo o mundo se voltem para nós, porque as pessoas ainda não entenderam a dimensão da tragédia que nos afetou", diz Cialente.

Líderes na caserna

Os líderes do G8 e de outros países, como China, Brasil, Egito e África do Sul, serão alojados nas instalações de uma escola de formação militar da Polícia Financeira, nos arredores de Áquila. Segundo Cialente, todos os chefes de Estado concordaram com a escolha do local.

Além deles, muitos assessores também ficarão hospedados ali. Os demais serão alojados em hotéis às margens do Mar Adriático.

Os habitantes de Áquila esperam obter a empatia e a compreensão dos líderes do G8. E, claro, propostas concretas de ajuda. "Os poderosos do mundo terão a chance de apadrinhar a reconstrução de um dos monumentos do centro histórico, a exemplo da Espanha, que patrocina a reconstrução de um castelo do século 15", argumenta o presidente do sindicato de jornalistas da região de Abruzzo, Stefano Pallota.

Ele lembra que Áquila possui um dos mais importantes centros históricos da Itália. "Por isso a presença dos chefes de Estado é tão importante para a reconstrução", avalia.

Os ricos foram embora

A restauração de 1.800 prédios históricos custará 13 bilhões de euros. O temor dos moradores é que a cidade não recupere sua atmosfera anterior e acabe virando um museu a céu aberto devido a uma reconstrução pouco cuidadosa.

Muitos se perguntam se o encontro do G8 poderá reanimar a economia local. O engenheiro Vincenzo Gattulli, professor na Universidade de Áquila, se mostra cético. Ele argumenta que uma grande parte da população – principalmente a classe média alta – se mudou para a costa do Mar Adriático. Com ela foram médicos, farmacêuticos, professores, administradores, advogados e vários outros profissionais.

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Catedral da cidade em ruínasFoto: AP

Gattulli afirma que a universidade de Áquila foi duramente afetada com o êxodo de mão-de-obra qualificada. "A universidade desempenhava um papel muito importante na cidade. Com 27 mil estudantes, tinha uma grande importância cultural, social e econômica", afirma.

Cidade vai recuperar sua atmosfera?

Para piorar ainda mais a situação, cresce na região de Abruzzo o temor de que novos terremotos aconteçam. Em 22 de junho, um tremor de 4,6 graus na escala Richter afetou novamente a região. Ele não causou danos, mas muitos desabrigados abandonaram suas barracas, assustados.

Muitas ruas ainda estão bloqueadas por entulhos e destroços de prédios históricos. A visão triste das ruínas da cidade torna a vida dos habitantes ainda mais difícil. A moradora Sonia Alessini vive há meses numa barraca com seus filhos e os pais. Ela não vê mais esperanças em Áquila.

"A vida aqui se tornou insuportável, estamos vegetando. O governo prometeu 3 mil casas de madeira até novembro. Sem abrigo, não teremos como sobreviver ao inverno, que é muito rigoroso. E mesmo que ganhemos as casas, como será daqui para frente, quem irá nos devolver nossa cidade?"

Para Sonia, a cidade e seu cotidiano jamais voltarão a existir. Mesmo que os líderes do G8 ajudem a salvar os famosos monumentos de Áquila, muitos outros moradores já terão deixado a cidade até que os trabalhos de reconstrução estejam concluídos.

Autora: Andreina Bonanni
Revisão: Roselaine Wandscheer