África do Sul: Polícia detém suspeitos de tiroteio em bar
11 de julho de 2022Vários ataques armados em diferentes localidades mataram pelo menos 21 pessoas no último fim de semana na África do Sul. Quinze pessoas morreram e nove ficaram feridas num ataque em Orlando East, logo nas primeiras horas da manhã de domingo (10.07).
Este ataque ocorreu poucas horas depois de um tiroteio semelhante, que deixou quatro mortos e oito feridos numa taberna em Pietermaritzburg, a 500 km de Soweto.
Mais duas pessoas também foram mortas durante um suposto roubo numa outra taberna em Katlehong, nos arredores de Joanesburgo.
Suspeitos detidos
Nesta segunda-feira (11.07), a polícia disse ter detido duas pessoas relacionadas com pelo menos um dos tiroteios do fim de semana. A polícia disse ainda, sem avançar detalhes, que as detenções foram "um primeiro passo para levar a julgamento todos aqueles que orquestraram um dos fins de semana mais sangrentos do país".
O comissário de polícia de Gauteng, Elias Mawela, descreveu como "horrível" a onda de criminalidade, sobretudo o ataque em Soweto, onde foram encontrados corpos das vítimas caídos uns sobre os outros, cercados por cartuchos de balas usados.
"Pela maneira como os corpos foram colocados, podia ver que essas pessoas estavam a tentar fugir da taberna", disse o comissário de polícia de Gauteng.
Um dos sobreviventes que se escondeu debaixo da mesa, fingido estar morto, até que os criminosos fossem embora, contou à DW que viu corpos desfigurados.
"Criminosos serão detidos"
As autoridades sul-africanas prometeram justiça e mais segurança para a comunidade de luto em Soweto. O ministro da Polícia Bheki Cele disse à população local que todos os envolvidos nos tiroteios serão detidos e anunciou mais meios para o reforço da segurança.
"Temos de reagir. Temos de trabalhar com as pessoas, temos de devolver a esperança e a estabilidade", disse Cele aos repórteres após o seu discurso perante uma multidão de mais de 200 pessoas, algumas em lágrimas, outras visivelmente zangadas.
Mas os residentes locais afirmam que são as mesmas promessas de sempre, que depois não são cumpridas. Por isso, já não acreditam mais nas autoridades.
"Como de costume, (estão) a fazer-nos promessas vazias que nunca foram cumpridas", diz Tim Thema, de 50 anos, um líder comunitário na colónia onde o tiroteio teve lugar. "Ele está apenas a tentar marcar pontos políticos baratos".
Promessas não cumpridas
Soweto, uma das maiores cidades de Joanesburgo e que costumava ser um viveiro do ativismo anti-apartheid, conheceu um renascimento nos últimos anos, mas muitas áreas permanecem empobrecidas.
Tim Thema afirma que os funcionários governamentais normalmente visitam a área onde o tiroteio teve lugar antes das eleições e depois das tragédias, prometendo eletricidade, água e outros recursos - apenas para que as coisas permaneçam na mesma.
A criminalidade violenta tem vindo a aumentar no país, com uma média de 67 pessoas assassinadas todos os dias nos primeiros quatro meses de 2022 - a taxa mais alta dos últimos cinco anos.
A violência surge quando a África do Sul enfrenta desafios sociais e económicos agravados, com o desemprego a 34,5% e o desemprego juvenil a quase 64%.
"A pobreza está entre as causas disto", disse Siyabonga Sam, 32 anos, outro residente de Orlando East que perdeu o seu emprego durante a pandemia do novo coronavírus. "Se o Governo não criar empregos, esta coisa nunca mais acabará".
Aumenta consumo de álcool
Por seu turno, o presidente da Câmara de Joanesburgo, Mpho Phalatse, disse aos jornalistas que o elevado número de tabernas e lojas de bebidas está na origem de problema da violência na África do Sul, acrescentando que tais locais superam frequentemente "escolas, clínicas, igrejas e tudo o resto combinado".
O álcool é uma grande preocupação no país, com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas a aumentar, de acordo com relatórios de saúde do Governo.
Phalatse disse que o Governo, juntamente com a administração de bebidas alcoólicas, precisava de encontrar uma forma de intervir.
Mas os residentes não vêem as tabernas como a fonte da violência. "Não é uma questão de tabernas... O problema [é a falta de] atividades económicas e sociais, algo que possa manter ocupados estes jovens, para ter algo na vida", diz Tim Thema.
Com a área desprovida de iluminação pública, parques e habitações adequadas, Sipho Khwinda, 49 anos, um pastor com quatro crianças diz que as infraestruturas básicas iriam contribuir em muito para melhorar a segurança da comunidade.
Artigo atualizado às 20h48 de 11.07.22