Zona de Livre Comércio em África: O maior mercado do mundo
22 de março de 2018O acordo foi assinado esta quarta-feira (21.03), na cimeira extraordinária da União Africana (UA), que terminou esta quarta-feira em Kigali, a capital ruandesa. "Este acordo não é apenas um documento: tem importantes implicações económicas para a população africana", salientou a ministra dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Louise Mushikiwabo.
"Abrirá o mercado a 1,2 mil milhões de pessoas com a possibilidade de gerar grande riqueza para o continente, acelerando o investimento, diversificando a economia e aumentando o comércio", explicou.
No entanto, o emblemático projeto da UA, que está já a ser negociado desde 2015, não conta com o apoio de todos os países: 11 dos 55 membros da União Africana mostraram-se céticos em relação às vantagens do livre comércio no continente e não assinaram o acordo. Entre eles estão a Nigéria e a África do Sul, as duas maiores economias do continente.
Ceticismo nigeriano
O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, que nem esteve presente na cimeira, disse que precisava de mais tempo para analisar o documento, após lhe terem chegado críticas de líderes empresariais e sindicatos do seu país.
Sani Yan Daki, da Associação Nigeriana de Câmaras de Comércio, Indústria, Minas e Agricultura, é um dos que partilha o ceticismo de Buhari em relação à assinatura deste acordo.
"A Nigéria ainda é uma economia em desenvolvimento. Os países que estão a fazer pressão para a criação da Zona de Livre Comércio, como Marrocos, Egito ou Tunísia, são menores que a Nigéria em termos de recursos nacionais, mas em termos de desenvolvimento estão muito mais à frente", explica em entrevista à DW África.
Uma opinião que não é partilhada pelo economista Tope Fasua, que entende que a Nigéria devia assinar o acordo. "A Nigéria é considerada a maior economia de África. A Alemanha, a maior economia da União Europeia (UE), defende a criação de um mercado comum naquele continente. E a Nigéria devia fazer o mesmo em África", defende.
Maior mercado do mundo
"Como continente, no seu todo, a vantagem [deste acordo] é muito grande porque dá para reunir esforços" nas negociações com outros blocos comerciais, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicano, José Pacheco, quem declarações à Rádio Moçambique. Entre os países africanos de língua portuguesa, apenas a Guiné-Bissau não assinou o acordo.
Apesar da assinatura do documento, desconhece-se quando será válido o acordo. O passo seguinte é a ratificação interna dos Estados signatários - serão necessárias pelo menos 22 confirmações para que entre em vigor. "A assinatura fará bem a África, mas apenas no papel, pois levará ainda muito tempo a entrar em vigor e vai encontrar ainda muitos contratempos", considerou o consultor nigeriano Sola Afolabi.
Se todos os 55 membros da UA concordassem com o acordo, o livre comércio no continente abrangeria 1,2 mil milhões de pessoas. A Zona de Livre Comércio Continental tem potencial para se constituir como o maior mercado do mundo: os 55 Estados-membros da UA representam um produto interno bruto (PIB) de 2.500 mil milhões de dólares (2.030 mil milhões de euros).