Yasuke Kurosan, o primeiro samurai africano
No século XVI, um africano originário de Moçambique tornou-se o único samurai negro na história do Japão. É o tema da peça do coreógrafo franco-maliano Smaïl Kanouté, apresentada ao público em Lisboa.
O primeiro samurai africano
Com estreia única em Portugal este domingo (25.09), a performance "Yasuke Kurosan", sobre o primeiro samurai africano no Japão, foi apresentada ao público no "Grande Auditório" da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Os ingressos esgotaram cedo!
Espetáculo único em Portugal
Os holofotes apagam-se no Grande Auditório. O som dos batuques emerge sutilmente como música de fundo. No palco, os bailarinos ensaiam para a imprensa antes do espetáculo único em Portugal. Os atores corporizam o primeiro samurai negro concebido pelo mentor do projeto.
História de afirmação da identidade
A peça questiona a condição de comunidades negras em diferentes épocas e locais. Aborda também a persistência dos ritos ancestrais para a afirmação da identidade. Convicto de que "a imagem do samurai africano é um 'bug' na história do Japão", Smaïl conta a história da transformação dos corpos curvados e oprimidos, em corpos orgulhosamente erguidos.
Encontro entre África e Ásia
Recorrendo às artes marciais, danças guerreiras africanas e danças urbanas, Kanouté cria um espetáculo de dança, luz e música que, por intermédio de sete bailarinos étnica e culturalmente mestiçados em palco, celebra o encontro sensível e estético entre a África e a Ásia.
Kanouté enaltece a multiculturalidade
O espetáculo é sobre o encontro de dois continentes. Não é uma história de samurais japoneses, como aquelas que já conhecemos, frequentemente contadas nos cinemas. É a história da identidade que criamos, reunindo atores de diferentes culturas, explicou Smaïl Kanouté.
O simbolismo da mestiçagem
O propósito é enfatizar o simbolismo da mestiçagem cultural, algo que o coreógrafo Kanouté integra no seu projeto, composto por dançarinos afroeuropeus e afroasiáticos, originários do Togo, do Gabão, da Serra Leoa, do Mali, Camarões e de Taiwan. O mais relevante para ele é a componente multicultural.
A luz domina o espetáculo
O recurso à luz ao longo do espetáculo tem um propósito. "A luz simboliza os nossos antepassados, assim como as estrelas que acompanham os que ainda vivem", explica o coreógrafo franco-maliano. Daí ter usado a luz – que faz a ponte entre o mundo visível e o invisível – como objeto gráfico para compor a cenografia.
Samurai negro na Netflix
Yasuke Kurosan é a segunda peça de uma trilogia, depois de "Never Twenty One", que reflete sobre casos de jovens negros assassinados. A terceira, "So Ava", é uma reinterpretação das danças vudu no Benin. Agora, a performance que estreou a 11 de junho, em Paris, inspirou Hollywood a criar uma série para a Netflix - tendo como protagonista um samurai negro.