Verdadeiro "golpe de Estado" é colapso iminente da Sonangol
23 de junho de 2015A petrolífera angolana, Sonangol, está à beira do colapso, segundo um relatório interno da companhia veiculado pelo semanário Expresso do último sábado (20.06).
O presidente da multinacional, Francisco de Lemos, terá assumido há um mês, em reunião interna, que o modelo operacional que a empresa angolana segue "fracassou e está falido". De acordo com as conclusões da reunião, reveladas pelo jornal português, "as alterações de gestão criaram uma mossa gigante" na empresa "e o único segmento que atualmente funciona é o de upstream, gerido pelas companhias estrangeiras, sem qualquer intervenção da Sonangol".
O sociólogo angolano, Manuel dos Santos, lembra que a petrolífera sempre teve uma gestão particular, autónoma ao Orçamento Geral do Estado.
"O dinheiro da Sonangol não desapareceu como o perfume no ar", diz. "Há uma razão de 'ordem superior', como se costuma dizer em Angola. Permitiu-se que quantidades imensas de dinheiro fossem saindo das contas da petrolífera, afetando a sua própria gestão e colocando-a em risco de falência técnica."
Trata-se de uma matéria de natureza económica de impacto profundamente social e que afeta a imagem e o funcionamento do Estado: "É preocupante", afirma Manuel dos Santos. "Isso vai mexer, mais uma vez, com o estado da economia angolana. Representa também um novo peso para os cidadãos."
Desviar de atenções?
Na perspetiva do sociólogo angolano, a revelação do relatório, por via não oficial, relaciona-se com os acontecimentos do último fim-de-semana na capital angolana.
"As prisões das pessoas em Luanda são um claro desvio em relação ao verdadeiro problema, que me parece ser o verdadeiro 'golpe de Estado' que o país está a viver: a forma como a empresa chegou ao estado de falência técnica", diz. "Ninguém, em pleno gozo das suas faculdades, acredita que um grupo de jovens, sem generais ou soldados, pode dar um golpe de Estado no país."
Para Manuel dos Santos, é crucial saber como, no futuro, será feita a gestão das empresas estatais a partir do que estará a acontecer com a Sonangol. "Talvez seja altura de se começar a clarificar muitos aspetos que a priori não eram claros", adianta em declarações à DW África.