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"Venâncio Mondlane tem de provar que é alternativa credível"

4 de junho de 2024

Venâncio Mondlane será candidato independente à Presidência de Moçambique. Analista diz que o político está com a "imagem desgastada" e devia criar o seu próprio partido - até para contrariar quem o acusa de narcisismo.

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Político moçambicano Venâncio Mondlane
Foto: Marcelino Mueia/DW

Horas depois de anunciar a sua renúncia à militância na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Venâncio Mondlane reiterou que pretende disputar a Presidência de Moçambique em outubro próximo, como independente. O político, de 50 anos de idade, deverá entregar a candidatura ao Conselho Constitucional já na próxima quinta-feira (06.06).

O candidato pela RENAMO nas últimas autárquicas, em 2023, à autarquia de Maputo começou a recolher em maio as 10 mil assinaturas necessárias para concorrer à Presidência da República nas eleições gerais de outubro, depois de não ter conseguido concorrer à liderança do maior partido da oposição no congresso realizado no mesmo mês.

Mondlane prepara-se agora começar uma carreira política mais "a solo", após sair do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e mais recentemente da RENAMO, por divergências políticas e até ideológicas.

À DW África, o académico moçambicano José Malaire diz que Mondlane incompatibiliza-se com os partidos por ser ele próprio um "problema".

DW África: Como analisa a decisão de Mondlane de avançar para uma candidatura independente?

José Malaire (JM): É uma decisão muito inteligente por parte dele. Ainda assim, peca muito provavelmente por ser tardia, porque Venâncio Mondlane já tinha os sinais e elementos mais do que suficientes para saber que não poderia continuar a fazer a sua luta dentro dos partidos tradicionais em Moçambique, nomeadamente partidos como a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Ele também já tinha feito um ensaio em falso no Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

Académico moçambicano José Malaire
José Malaire diz que Mondlane deve parar de saltar de partido em partido e "estruturar-se"Foto: Privat

DW África: Mas por que diz que ele fez bem em sair da RENAMO?

JM: Fez bem, porque, como ele próprio diz, quer partir para um projeto de alternativa mais ética e de princípios democráticos. Então, agora tem a oportunidade de fazer isso.

Mas penso que é preocupante que ele se queira associar a um novo partido político. O que eu defendo é que Venâncio, tendo o capital político que se supõe ter, terá de formar um partido político à luz do seu pensamento, dos seus princípios, da sua ideologia e, mais do que isso, para contrariar um pouco a corrente [de críticas] em Moçambique que diz que, muito provavelmente, Venâncio está na flor do narcisismo. Se questionou se teria toda aquela confusão para sair da RENAMO não seria narcisismo.

DW África: Mondlane saiu do MDM, foi para a RENAMO e agora abandonou o partido e vai se juntar a uma outra formação política. Não será o próprio Venâncio o problema?

JM: O Venâncio Mondlane tem de reconhecer que ele também é um problema. Porque ele não quis resolver os problemas político-partidários no fórum partidário e partiu logo para um modelo mais supostamente democrático, mais jurídico. Mas os partidos políticos em Moçambique não agem na esfera dos tribunais, e nunca vimos decisões judiciais a serem efetivamente acatadas por algum partido.

Depois de ensaiar o MDM e ensaiar a RENAMO, a pergunta que [se fez] é se não [tentaria] também a FRELIMO? Chegou a hora de Venâncio Mondlane parar de fazer ensaios, de partido em partido.

Nesta fase, penso que ele será apoiado por um partido, que vai querer [aproveitar] um pouco esta avalanche em torno de Mondlane, este suposto apoio popular. Por outro lado, Mondlane sabe que as candidaturas independentes sem algum movimento por trás, nomeadamente um partido político, têm pouca possibilidade de chegar ao poder.

DW África: Mas ele ainda vai a tempo de se capacitar antes das eleições para "roubar" votos a RENAMO?

Venâncio Mondlane à DW: "Não sou vendedor de sonhos"

JM: Mondlane perdeu muito tempo. Já deveria ter iniciado com um projeto mais próprio, por via de outro partido ou como líder de um novo movimento. Isso devia ter sido feito. Desde o início do ano para cá, perdeu quase seis meses e, por isso, perde um pouco o crédito. Parte para esse projeto depois de uma grande confusão com a RENAMO.

Em segundo lugar, penso que ele não será uma ameaça para a RENAMO. Mondlane ainda tem de potencializar o seu capital político a nível nacional. Não podemos esquecer que ele perdeu as eleições autárquicas, e não será agora nas eleições gerais que vai virar o jogo do avesso contra a FRELIMO ou contra a RENAMO.

DW África: Ou seja, o braço de ferro com a RENAMO desgastou a sua imagem?

JM:  Sim, desgastou a imagem. Ele fez muita confusão com a RENAMO. Embora possa pensar que ganhou, ele perdeu muito crédito porque tinha muitos membros da RENAMO de alto escalão e outros atores políticos de outros partidos que admiravam a sua coragem e, sobretudo, o seu discurso, que era mesmo de alternativa e democracia, sobretudo nas eleições autárquicas.

Com esta confusão, perdeu um pouco o mérito. Mondlane tem de se estruturar se quiser derrotar a RENAMO ou a FRELIMO. Precisa provar que ele é uma alternativa credível para Moçambique. Tem de provar, com projetos originais, com projetos próprios, com discurso e ações concretos, que vai além de atirar pedras e entrar na casa do outro para fazer confusão.

DW Mitarbeiterportrait | Braima Darame
Braima Darame Jornalista da DW África