Venezuela: Nicolás Maduro cada vez mais isolado
5 de fevereiro de 2019Dezanove Estados-membros da União Europeia assinaram, esta segunda-feira (04.02), um documento conjunto, declarando Juan Guaidó, rival do Presidente Nicolás Maduro, como "Presidente interino da Venezuela".
O objetivo, segundo o documento, é convocar "eleições presidenciais livres, justas e democráticas", depois de Maduro ter ignorado o prazo de oito dias dado pelos europeus para marcar um novo escrutínio.
"Não aceitamos ultimatos de ninguém", afirmou Maduro. "É como se eu dissesse à União Europeia que lhe dou uns dias para reconhecer a República da Catalunha."
Maduro vai rever relações com países da UE
A Alemanha foi um dos dezanove países signatários da declaração, que reconhece o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como Presidente interino.
"Guaidó é a pessoa com quem falamos e esperamos que dê início ao processo eleitoral assim que possível. Ele é o Presidente interino legítimo para esta tarefa, do ponto de vista da Alemanha e de vários países europeus", anunciou na segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.
Apesar da pressão internacional, Nicolás Maduro mantém-se resoluto. Esta segunda-feira, o seu Governo anunciou que vai "rever integralmente" as relações bilaterais com os membros da União Europeia que reconheceram Juan Guaidó como Presidente interino.
O líder venezuelano apelou ainda ao papa Francisco para mediar o diálogo no país e condenou o que classifica como apoio europeu "à estratégia da administração norte-americana para derrubar o Governo legítimo do Presidente."
"Há uma ameaça que começou em agosto de 2018, a primeira vez em que [o Presidente norte-americano] Donald Trump falou numa intervenção militar na Venezuela. A Europa e o mundo têm de saber que a Casa Branca foi tomada pelo setor extremista, os 'supremacistas'", disse Maduro.
"Precisamos de ajuda humanitária"
A oposição venezuelana não reconhece as eleições de 2018, que deram a vitória ao líder chavista.
A crise política agravou-se a 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e prometeu organizar eleições livres, contando de imediato com o apoio de Washington. Maduro disse que a iniciativa de Guaidó era uma tentativa de golpe de Estado, engendrada pelos Estados Unidos da América.
A Venezuela enfrenta uma grave crise económica e social que, segundo dados das Nações Unidas, já levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015.
Esta segunda-feira, numa conferência de imprensa em Caracas, depois de agradecer aos europeus que reconheceram a sua liderança, Juan Guaidó pediu apoio internacional urgente.
"Precisamos que a ajuda humanitária entre na Venezuela, porque entre 250 mil a 300 mil venezuelanos correm perigo de vida. Se a ajuda não entrar, estaremos a condená-los à morte", disse Guaidó.
O Canadá já prometeu 40 milhões de dólares em ajuda humanitária aos venezuelanos. A Alemanha anunciou também um apoio de cinco milhões de euros. Mas não se sabe quando e como é que estes fundos poderão entrar no país sem o apoio do Exército, que está do lado de Nicolás Maduro.
O Presidente venezuelano recusa quaisquer doações, afirmando que o país não vai tornar-se "uma colónia de pedintes".
Maduro conta com o apoio da China e da Rússia. Em comunicado, Moscovo acusou os países da União Europeia que reconheceram Guaidó como Presidente interino de ingerência "direta e indireta" nos assuntos internos da Venezuela.
A semana deverá continuar a ser marcada por intensos esforços diplomáticos para a resolução da crise venezuelana: na quinta-feira (07.02), realiza-se em Montevideu, no Uruguai, uma conferência de países e organizações com "uma posição neutral". No mesmo dia, também em Montevideu, tem lugar a primeira reunião ministerial do Grupo de Contacto internacional para a Venezuela, criado pela União Europeia.