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PolíticaEtiópia

UA acredita em oportunidade para fim do conflito em Tigray

tms | com agências | Mohamed Negash | Isaac Kaledzi
9 de novembro de 2021

A União Africana e os Estados Unidos acreditam que há sinais de um possível cessar-fogo na Etiópia, onde o conflito com os rebeldes de Tigray se arrasta há um ano. Vizinhos Quénia e Sudão do Sul estão em alerta máximo.

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Foto: Ben Curtis/AP Photo/picture alliance

Após encontros no último fim de semana com as lideranças rebeldes em Tigray, há sinais de um possível cessar-fogo, mas ainda é preciso garantir condições para que o diálogo seja estabelecido entre Adis Abeba e as forças separatistas do norte etíope. A posição foi apresentada esta segunda-feira (08.11) numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Etiópia.

O Alto Representante da União Africana (UA) para o Corno de África, o ex-Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, que no último domingo (07.11) se encontrou com as lideranças da Frente de Libertação de Tigray, garantiu que há uma oportunidade para que o conflito seja resolvido através do diálogo.

"Todos os líderes aqui em Adis Abeba e no norte concordam que as diferenças entre eles são políticas e requerem uma solução política através do diálogo. Isto constitui, portanto, uma janela de oportunidade", disse. O representante da UA ressaltou, porém, que "é tempo de ações coletivas para encontrar uma solução duradoura, a fim de evitar uma escalada da situação".

O Departamento de Estado norte-americano anunciou que Washington acredita nesta "janela de oportunidade" e que pretende trabalhar com a UA para a resolução do conflito.

As exigências da Frente Popular

Após o encontro que a Frente Popular de Libertação de Tigray teve com o representante da UA no fim de semana, a DW ouviu o porta-voz do movimento e membro do Bureau Político, Getachew Reda, que deixou claro quais são as intenções do grupo: "Não temos qualquer compromisso em Adis Abeba. Esse é o nosso objetivo. Não há dúvidas quanto a isso."

Äthiopien | Treffen Getachew Reda, Olusegun Obasanjo und Debretsion Gebremichael
Encontro entre Getachew Reda, Olusegun Obasanjo e Debretsion GebremichaelFoto: Privat

"Se as nossas exigências forem atendidas, não temos qualquer interesse em lutar. O que queremos é alcançar o nosso objetivo, levantar o bloqueio nas áreas controladas de Tigray. Se conseguirmos, cumpri-lo-emos por meios pacíficos, se não, será pela força'', avisou. 

Falando durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU esta segunda-feira (08.11), o representante permanente da Etiópia nas Nações Unidas, Taye Atske, recordou que não há duas partes.

"Há um governo que representa a vontade do povo etíope e representa o Estado etíope, e há um grupo que faz avançar a sua causa criminosa através de atrocidades. Qualquer tentativa para branquear a Frente de Libertação de Tigray e diminuir o horror contra o povo etíope será apenas contraproducente", sublinhou.

Riscos de uma guerra civil

A subsecretária-geral da ONU para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, avançou quais são os riscos de a Etiópia entrar numa espiral de guerra civil, cujas consequências seriam devastadoras.

"Há muita especulação sobre a forma como esta crise se vai desenrolar durante as próximas semanas. Num país com mais de 110 milhões de pessoas, mais de 90 grupos étnicos diferentes e 80 línguas, ninguém pode prever o que a luta contínua e a insegurança irão trazer. Mas o que é certo é que o risco de a Etiópia cair numa guerra civil em expansão é demasiado real. Isso provocaria uma catástrofe humanitária e consumiria o futuro de um país tão importante", alertou.

Äthiopien | Erneuter Luftangriff auf Hauptstadt von Tigray
Ataque aéreo contra Mekele, capital do Tigray, em outubroFoto: AP Photo/picture alliance

O conflito em Tigray começou em novembro do ano passado, após uma ofensiva governamental contra a Frente de Libertação de Tigray, acusada de atacar bases militares do Governo. Os combates têm sido cada vez mais frequentes, milhares de pessoas foram mortas, outras milhares já se deslocaram da região e a ajuda humanitária passou a ser cada vez mais escassa devido à violência.

Quénia e Sudão do Sul em alerta máximo

Os rebeldes conseguiram nas últimas semanas avançar para outras regiões e perante uma alegada ameaça de invasão da capital Adis Abeba, o Governo declarou estado de emergência em todo o país há uma semana.

À medida que o conflito se intensifica, aumentam também os receios nos vizinhos Quénia e Sudão do Sul, onde as comunidades locais e o governo temem um afluxo de refugiados etíopes. É no Quénia que ficam dois dos maiores campos de refugiados do mundo: Kakuma, no noroeste, e Dadaab, no nordeste.

Refugiados etíopes encontram amparo no Sudão

O governo queniano anunciou o reforço da segurança ao longo dos 800 quilómetros de fronteira com a Etiópia. A polícia também tem estado a controlar o movimento de armas de fogo e de estrangeiros que possam tentar entrar ilegalmente no Quénia.

O conflito na Etiópia também parece ter enfraquecido indiretamente a implementação do acordo de paz no vizinho Sudão do Sul. Nos últimos anos, a Etiópia tem desempenhado um papel de mediação entre as fações rivais do Presidente Salva Kiir e o antigo líder da oposição Riek Machar. Os dois principais acordos de paz, assinados em 2015 e 2018, foram ambos negociados na Etiópia.

Agora, a comunidade internacional está a desviar tempo e energia para a Etiópia, diz o analista político Boboya James, do Instituto de Política Social e Investigação, com sede em Juba. "A comunidade internacional costumava instar o governo do Sudão do Sul a implementar plenamente o acordo de paz, mas agora parece que a sua atenção tem sido desviada para a resolução do conflito na Etiópia", disse à DW.