UNITA é acusada de censurar Rádio Despertar em Angola
15 de janeiro de 2014
Segundo observadores, os métodos de censura e interferência de que o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder, é constantemente acusado de utilizar na imprensa pública e nalgumas órgãos privados, são igualmente aplicados pela UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) na Rádio Despertar. Esta emissora comercial está afeta a um grupo empresarial maioritariamente detido por acionistas que representam a UNITA, o maior partido da oposição em Angola.
A título de exemplo, cerca de 80% dos 30 minutos de noticiário dizem respeito informações relacionadas com atividades da UNITA. O Governo do MPLA e os restantes partidos da oposição praticamente não têm espaço naquela emissora.
Alguns jornalistas daquela rádio, que falaram à DW África na condição de anonimato, admitiram que sofrem pressões frequentemente, principalmente no decurso de reuniões, onde são constantemente reafirmadas ideias como: a Rádio Despertar é da UNITA, o patrão é a UNITA, quem paga o salário é a UNITA e quem não estiver de acordo com a linha editorial que abandone a rádio.
Rádio Despertar não é modelo em democracia, segundo jornalistas
Na opinião de João Marcos, jornalista do semanário A Capital, “a prestação da Rádio Despertar não serve de modelo” de um meio comprometido com a democracia e com o interesse público, pois “há uma forte carga partidária naquilo que é informação”, acrescenta.
Em vez disso, o jornalista entende que “a Rádio Despertar, que tem criticado vezes sem conta a prestação dos colegas afetos aos órgãos públicos, devia marcar a diferença, pautando-se pelo princípio do equilíbrio, que infelizmente não se tem observado”.
Na mesma perspectiva, Constantino Eduardo, jornalista do jornal Manchete, defende que a estação “deve servir a nação, o interesse coletivo e não o interesse que satisfaça mais a própria direção do partido mentor da Rádio Despertar, a UNITA, em detrimento de outros partidos”.
Perante este cenário e ainda que a UNITA se afirme como “um partido com ideais assentes na democracia”, há “uma incógnita” quando se coloca em cima da mesa a hipótese de, no futuro, a UNITA chegar ao poder, avalia João Marcos.
“A comunicação social é um ramo que tem grande importância na democratização, na consolidação de um processo democrático”, pelo que “nada garante que, se amanhã o quadro político vier a sofrer alguma alteração, vamos ter órgãos públicos ao serviço da democracia, do interesse público, o que não se vê atualmente”, afirma o jornalista do semanário A Capital.
A DW África procurou ouvir, sem sucesso, o diretor da Rádio Despertar, Emanuel Malaquias, e o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala.