União Africana condena morte de civis na Etiópia
3 de novembro de 2020A informação foi avançada pela Amnistia Internacional. De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos, que cita testemunhos de sobreviventes, pelo menos 54 pessoas morreram, no domingo (01.11), em consequência de um ataque de grupos rebeldes na região de Oromia.
O Governo, através da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, referiu pelo menos 32 mortos, mas adiantou que provas preliminares "indicam ser muito provável que esse número seja ultrapassado".
Numa declaração, esta terça-feira (03.11) presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, exortou às autoridades nacionais "para que assegurem que os autores destes crimes horrendos sejam encontrados e responsabilizados".
Assinalando um aumento da "violência interétnica" na Etiópia, o presidente da Comissão da UA apelou para que "todos os intervenientes evitem a retórica inflamatória" e trabalhem para "uma desescalada da tensão no país".
Apelo ao diálogo
Por outro lado, Moussa Faki Mahamat encorajou os atores políticos a promoverem um "diálogo nacional inclusivo" e a construírem um "consenso nacional em torno das questões fundamentais".
"O falhanço nestas questões terá graves impactos, não apenas no país, mas em toda a região", advertiu.
As autoridades regionais de Oromia acusaram o Exército de Libertação de Oromo (OLA)de levar a cabo o ataque, afirmando que estes têm por objetivo criar caos e exercer pressão psicológica sobre os cidadãos.
Sobreviventes do ataque, citados pela Amhara Mass Media Agency, afirmaram que a etnia amara era o alvo. "O grupo armado reuniu 200 pessoas e depois começou a disparar contra elas. Várias pessoas foram mortas em resultado disso", disse um dos sobreviventes, acrescentando que uma escola e cerca de 120 casas foram queimadas. Os amara são o segundo grupo étnico mais populoso da Etiópia, depois dos oromo.
Outro sobrevivente, citado pela agência France-Presse (AFP), contou que o ataque teve lugar depois de soldados estacionados na área se terem retirado subitamente sem explicação. "Contei mais de 50 corpos e sei que outros [pessoas] foram atingidos por balas", disse.
Governo condena ataques
Numa publicação na sua página na rede social Facebook, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, denunciou o que classificou de assassínios com base na etnia. Entretanto, o Exército de Libertação de Oromo não comentou as alegações de ataque, tendo já no passado negado relatos semelhantes.
O OLA é uma fação dissidente da Frente de Libertação Oromo (OLF), que renunciou à luta armada desde que os seus líderes regressaram do exílio depois de Abiy ter chegado ao poder em 2018. O Governo responsabiliza o OLA por uma série de assassínios, bombardeamentos, assaltos a bancos e raptos em Oromia.
Segundo o Movimento Nacional Amara (NAMA), um partido da oposição, o ataque parece ter visado membros do grupo étnico amara, o segundo maior da Etiópia depois dos oromo.
Dessalegn Chanie, um membro do NAMA, disse que "pelo menos 200 amara foram cruelmente mortos" no ataque de domingo, embora tenha admitido que era difícil estabelecer um número preciso de mortos.
"Falha do Governo"
O político considerou ainda que o "Governo falhou no seu dever de proteger a segurança dos cidadãos" e que o sistema federal etíope baseado na língua é a principal causa das mortes. "Os amara residentes fora da região de Amara estão a ser rotulados como forasteiros e expostos a ataques repetidos", disse.
Sob este sistema, os falantes oromo vivem maioritariamente em Oromia e os falantes amáricos vivem principalmente na região de Amara, uma estrutura organizativa que dá aos habitantes locais de cada região mais voz nos seus assuntos, gerando conflitos.
Os acontecimentos na Etiópia motivaram uma reação da União Europeia, que numa declaração do alto-representante para a Política Externa, Josep Borrell, manifestou "profunda preocupação" com os recentes desenvolvimentos no país.
"Todas as partes devem agir para reduzir a tensão, eliminar a linguagem inflamatória e abster-se de destacamentos militares provocatórios. Se não o fizerem, corre-se o risco de desestabilizar o país, bem como a região em geral", disse.