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CulturaUcrânia

Ucrânia: A música como refúgio da guerra

Nelson Camuto (São Paulo)
10 de junho de 2022

Segiy Anastasyev, refugiado ucraniano, vive atualmente na Alemanha por causa da guerra. A música tem sido "o seu refúgio e a sua salvação", disse à DW África o cantor de ópera que todos os dias sonha em regressar a casa.

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Ukraine/Deutschland Musik als Zuflucht vor dem Krieg
Sergiy Anastasyev no concerto do coro da Universidade de Bona Foto: Inês Cardoso/DW

Dados divulgados pelas Nações Unidas indicam que a guerra da Rússia contra a Ucrânia fez perto de sete milhões de refugiados.

Um dos muitos refugiados do conflito armado na Ucrânia é Sergiy Anastasyev.  O cantor de ópera veio para Bona, na Alemanha, no início de março, depois da sua casa, em Kiev, ter sido bombardeada três vezes.

Sergiy Anastasyev, de 65 anos, está a caminho de mais uma atuação. É cantor de ópera e tem levado as suas canções a vários países da Europa. Algo de que se orgulha. Mas desde que se mudou para a cidade de Bona, na Alemanha, por causa da guerra na Ucrânia, já só conta o número de possíveis atuações que faltam até regressar a casa, Kiev.

Hoje prepara-se para atuar com o coro da Universidade de Bona. Decidiu juntar-se ao grupo para evitar pensar na guerra e fazer aquilo que mais o apaixona: cantar. Já fizeram o último ensaio. Falta uma hora para o espetáculo começar. Sergiy está calmo, já não fica nervoso. Pelo menos não quando o assunto é música.

"A guerra não é de agora e eu tenho perdido muitos amigos nos últimos anos. Muitos mesmo. A música tem sido o meu refúgio, deixa-me relaxado e dá-me esperança. Leva-me os maus pensamentos, ainda que a minha mente e o meu coração estejam sempre com os que estão a lutar na linha da frente", indica.

Ucrânia: A música como refúgio da guerra

Fugir da guerra duas vezes

Não é a primeira vez que Sergiy é obrigado a fugir. Em 2014, quando os ataques da Rússia contra a Ucrânia começaram, teve de deixar a sua cidade natal, Donetsk. Na altura, para além de músico, Sergiy assumia um cargo político e, por isso, corria um risco ainda maior. Mudou-se para Kiev, e começou uma nova vida. Em 2022, a história repete-se.

Chegou à Alemanha no início de março. Veio sozinho com o objetivo de reunir as condições necessárias para mais tarde trazer a família. Não podiam continuar na Ucrânia.

"A guerra começou a 24 de fevereiro. Nos primeiros dez dias, eu e a minha família ainda estivemos em Kiev. Mas ao décimo dia a nossa casa foi bombardeada três vezes. Foi aí que resolvi levar a minha mulher e os meus dois filhos para Vinnytsia, a sudoeste de Kiev, onde ainda hoje estão. Apesar de querer, eu já não podia servir na guerra por causa da idade", conta.

Desde que a guerra começou que Sergiy não consegue cantar a música "Sepultura dos Irmãos". Um tema que fala dos soldados que vão para a guerra e que não voltam, escrito pelo artista russo Vladimir Vysotsky, que sempre admirou. Sergiy diz que quando ouve esta música, as lágrimas lhe veem aos olhos, inundando as memórias que tem dos amigos que já partiram.

"Eu vou voltar para casa brevemente, quer a guerra acabe ou não", diz o cantor
"Eu vou voltar para casa brevemente, quer a guerra acabe ou não", diz o cantorFoto: Inês Cardoso/DW

Comunidade ucraniana na Alemanha 

O que o mantém motivado é a música e a possibilidade de, mesmo na Alemanha, poder cantar para a sua nação.

"A adaptação à Alemanha foi fácil. Eu já cá tinha vindo cantar várias vezes. Por causa da guerra há uma grande comunidade ucraniana aqui em Bona. Quando vou cantar há sempre público ucraniano, há até eventos de integração onde só cantamos músicas ucranianas. Isso faz-me sentir um bocadinho mais em casa."

A família de Sergiy já não o ouve cantar há quatro meses, desde que deixou a Ucrânia. Por isso, a DW África resolveu desafiá-lo a ligar à mulher, Viktoria Anastasyev. O telefonema durou pouco tempo porque o espetáculo estava prestes a começar, mas foi o suficiente para Sergiy "regarregar as energias".

O concerto decorreu e o público aplaudiu de pé. Menos uma atuação até Sergiy regressar a casa, a Ucrânia.

"Eu vou voltar para casa brevemente, quer a guerra acabe ou não. E a música vem comigo, ela anda sempre comigo."

Antes de se refugiar na Alemanha,  Sergiy Anastasyev, estava a trabalhar numa academia de música em Kiev, onde reparava pianos. Agora espera ansiosamente o sinal da academia para voltar e reviver alguma normalidade.

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