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PolíticaTurquia

Vitória histórica da oposição: Turquia em viragem política

Lusa
1 de abril de 2024

A Turquia, dominada durante mais de duas décadas pelo Presidente e seu partido, acordou num "ponto de viragem", como o próprio chefe de Estado admitiu, após uma vitória histórica da oposição nas eleições autárquicas.

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Partido Popular Republicano
Líder do Partido Popular Republicano (CHP), Ozgur OzelFoto: Evrim Aydin/Anadolu/picture alliance

Os resultados da contagem de votos, quase definitivos, dão o Partido Popular Republicano (CHP, social-democrata), principal grupo da oposição, como claro vencedor da eleição, mesmo nas províncias da Anatólia, detidas até agora pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islâmico e conservador) de Recep Tayyip Erdogan..

O CHP, que ficou chocado com a derrota do seu candidato presidencial em maio de 2023, foi um sucesso nas maiores cidades do país, como Istambul, Ancara, Izmir, Adana, Antalya e até Bursa, vista como um reduto conservador, bem como em várias outras províncias da Anatólia.

Para os observadores, este foi o pior desastre eleitoral do Presidente Erdogan desde que o seu partido chegou ao poder, em 2002.

Durante a noite de domingo para hoje, enquanto continuava a contagem dos votos das urnas, o Presidente reconheceu estar perante um “ponto de viragem”, prometendo “respeitar a decisão da nação”.

Os jornais diários pró-governo Hürriyet e Yeni Safah apresentam hoje manchetes sobre “a mensagem” que os turcos, confrontados com uma grave crise económica, quiseram enviar ao Governo.

O colunista do Hürriyet Abdulkadir Selvi, conhecido por ser próximo do poder, reconhece que “sopra um novo vento” sobre a Turquia e que isto “só pode ser explicado pela economia”.

Erdogan enfrenta "nova equação política"

Erdogan, reeleito no ano passado, enfrenta, segundo este colunista, “uma nova equação política”.

Recep Tayyip Erdogan
Recep Tayyip Erdogan, reeleito no ano passado, enfrenta, segundo um colunista, "uma nova equação política"Foto: Emin Sansar/Anadolu/picture alliance

“Revolução nas urnas”, é a manchete do Sözcü, um diário nacionalista secular, hostil ao chefe de Estado, enquanto o principal jornal da oposição, o Cumhuriyet, saúda, em letras brancas sobre fundo vermelho – as cores da bandeira turca – uma “vitória histórica”.

A mudança foi antecipada em Ancara e Istambul, capitais políticas e económicas que o partido do Governo perdeu em 2019, mas, nestas eleições, a vitória da oposição apanhou de surpresa os observadores pela sua escala, considerada sem precedentes desde 1977 e vista como uma remodelação da geografia eleitoral do país.

Líder da oposição desde a sua vitória em Istambul, há cinco anos, o presidente da câmara da megacidade turca, Ekrem Imamoglu, do CHP, e muito popular em todo o país, é visto agora como um dos preferidos à corrida presidencial de 2028.

O presidente da Câmara de Ancara, Mansur Yavas, reeleito pelo CHP com uma vantagem de 30 pontos sobre o seu rival do AKP, também saiu extremamente fortalecido desta eleição.

“Vamos assistir a uma corrida entre Imamoglu e Yavas” nas eleições presidenciais de 2028, acredita o colunista do Hürriyet.

Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2003, primeiro como primeiro-ministro e depois, desde 2014, como Presidente, afirmou, no início de março, que as eleições municipais seriam “as últimas” organizadas sob a sua autoridade, sugerindo uma possível retirada política.

Na noite de domingo para hoje, perante apoiantes desanimados, o chefe de Estado, de 70 anos, apelou, no entanto, a que “não se desperdice” os quatro anos que faltam até às presidenciais.

Cerca de 61,4 milhões de eleitores foram chamados às urnas nas 81 províncias da Turquia, das quais 30 são classificadas como “macro-urbanas”, o que significa que o presidente da câmara da capital da província governa os destinos de toda a província, o que lhe confere grande relevância política.

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