Trabalhadores da SEMOC sem salários há 18 meses
8 de abril de 2022Por causa do não pagamento de salários há um ano e seis meses, os trabalhadores da Sementes de Moçambique (SEMOC) dizem não ter condições de colocar pão na mesa, bem como não conseguem atender outras necessidades das suas famílias. A situação levou à paralisação das atividades desde finais de março.
Falando à DW, na condição de anonimato, um dos trabalhadores lamenta a situação e diz que está a viver da ajuda de amigos.
"Eu sou trabalhador da SEMOC, estamos há 18 meses sem salários. Na minha casa já acabei de vender mobílias, meus filhos já não têm uniforme [escolar], e estou a viver de ajuda. O chefe [da SEMOC] ameaça as pessoas dizendo que quem despoletar o caso poderá perder emprego e direitos. Nossos colegas saíram sem nada e já estão fora do emprego", relata o funcionário.
"É preciso comer"
Outro trabalhador grevista, que também fala sob anonimato, afirma que a situação já tem barbas brancas, e nenhuma palha se mexe quando o assunto chega aos ouvidos dos gestores da empresa.
"Então como podemos fazer para sobreviver e a comer o quê? Para nós trabalharmos, para irmos ao serviço, é preciso comer. O dia a dia aqui na cidade requer dinheiro. Então havemos de comprar com o que se não estamos a auferir nossos salários", questiona o trabalhador desesperado.
Os funcionários da SEMOC dizem ainda que já não consomem água canalizada e energia elétrica em casa, porque as empresas fornecedoras cortaram esses serviços nas suas residências por falta de pagamento das taxas mensais.
Empresa garante estar a gerir problema
Gonçalves Canivete, representante da Sementes de Moçambique em Manica, reconhece a ausência de salários, mas que a empresa está a envidar "esforços no sentido de que a breve trecho se possa resolver" o problema.
Canivete diz, porém, que a empresa não está contemplada no Orçamento Geral do Estado, o que dificulta a obtenção de recursos.
"Na verdade está-se a receber sem se fazer nada, o que existe é que o trabalhador deve receber e nós não estamos contemplados pelo Orçamento Geral do Estado. Nós recebemos a partir da nossa própria produção, então não havendo produção é natural que não haja pagamentos. Nós estamos a sensivelmente 4 ou 5 anos que não estamos a produzir", afirma o representante da SEMOC em Manica.
Procurado pela DW, o delegado provincial da Inspeção de Trabalho em Manica, Eusébio Mateus, disse não ter o conhecimento da falta de salários há 18 meses dos trabalhadores da SEMOC, mas prometeu procurar meios de dirimir o conflito instalado naquela firma que se dedica à produção de sementes melhoradas no país.