Terceira força política de Moçambique diz sofrer com intimidação do governo
O caso mais recente foi a vandalização da recém-inaugurada sede do MDM em Chókwè, em Gaza, província sulista considerada o baluarte da FRELIMO, o partido governista de Moçambique.
O MDM apresentou uma queixa à Procuradoria da República denunciando que mais de 150 pessoas munidas de armas brancas cercaram a sua sede no Chókwè, há uma semana (21.01) para tentar impedir a instalação a terceira força política moçambicana na região.
"A população viu os políticos da FRELIMO - são chefes dos bairros que estavam lá presentes", disse Alcinda da Conceição, parlamentar pelo Movimento Democrático de Moçambique, em entrevista à DW África.
No incidente, foi necessária a intervenção da polícia que teve de fazer disparos para o ar para dispersar os atacantes, disse ainda a política. "E mais: o vereador da urbanização de Chókwè também esteve lá. Então significa que este é um jogo combinado: 'vocês vão à frente, mas nós não sabemos nada'", afirmou Alcinda da Conceição. "Porque eles dizem que nenhum partido pode lá estar senão a FRELIMO", completou.
Alcinda da Conceição disse à DW África que se confrontou com a situação quando se deslocou a Chókwè, na sequência de uma ação de vandalismo protagonizada na sexta-feira anterior (18.01) por desconhecidos que rasgaram a bandeira do MDM, provocaram danos nas instalações da sede do partido e destruíram o respectivo imobiliário.
Partido governista nega envolvimento
A FRELIMO nega qualquer envolvimento no incidente de Chókwè, segundo Moisés Nhassave, secretário provincial de Mobilização e Propaganda do partido governista em Gaza: "Quem vandalizou a sede não é nenhum membro nem simpatizante do partido FRELIMO", afirmou Nhassave. "A própria população residente na zona onde ele [o MDM] instalou a sua sede é que não gostou de ver a sede deles na zona, porque não tiveram nenhuma informação de que queria-se instalar a sede do MDM naquela zona", disse o político.
Nhassave ainda explicou que a região "é uma zona residencial". Ele também disse que o seu partido nunca tentou inviabilizar a atividade da oposição na província de Gaza, e exemplificou que a RENAMO, maior partido da oposição do país, tem as suas sedes a funcionarem em Xai e Chókwé.
Entretanto, o analista político Salomão Moyana recordou que, no passado, quando o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, tentou fazer campanha em Chókwè, foi apedrejado por militantes da FRELIMO.
Moyana acredita que a FRELIMO possa estar por detrás destes atos, que, segundo disse, "não abonam a favor da idade e da maturidade do partido governista", se estas ações forem tentar inviabilizar a atividade política da oposição no alegado bastião da FRELIMO (a província de Gaza).
"Tem sido quase recorrente que o partido FRELIMO, ao nível da província de Gaza, tem-se comportado de forma primitiva em relação a outros partidos, tem defendido uma ideia irracional, estúpida até, de dizer que a província de Gaza é um baluarte do partido FRELIMO e que outros partidos não terão [portanto] direito de fazer política na província de Gaza", disse Moyana em entrevista à DW África. "A Constituição preconiza a liberdade de prática de política em todo o território nacional, independentemente do local onde esses partidos queiram funcionar", lembrou.
Nos últimos tempos, o MDM tem acusado repetidamente a FRELIMO de tentar impedir o seu trabalho político no país, e denunciou casos em que autoridades locais nas províncias centrais de Manica e Tete retiraram as bandeiras do partido nas respectivas sedes.
Para Alcinda da Conceição, os recentes acontecimentos de Chókwè constituem mais um ato para tentar intimidar o MDM , numa altura em que os partidos políticos já se encontram no terreno a preparar as eleições autárquicas do corrente ano e gerais de 2014.
Segundo a agência noticiosa LUSA, o MDM disse que vai concorrer com "as suas próprias forças" nas eleições autárquicas deste ano, a serem realizadas nos 43 municípios de Moçambique. "Falar de coligação é um pouco caricato. O MDM não precisa de se coligar com nenhum outro partido", disse Rachade Carvalho, delegado provincial de Nampula do MDM.
Nesta segunda-feira (28.01), o MDM também acusou o governo de Maputo de "burocratizar a assistência humanitária" às vítimas das cheias que assolam o país. O MDM enfrentou dificuldades para entregar ajuda em Maputo, ainda segundo a LUSA.
Autor: Leonel Matias (Maputo)/RK/LUSA
Edição: António Rocha