Barril de pólvora
2 de julho de 2012O Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO) controla agora todos os pontos estratégicos, depois de ter expulsado os combatentes tuaregues das cidades de Gao e de Timbuctu. Na capital, Bamako, no sul, onde quase todos os dias há manifestações, os nervos estão no limite.
A tensão era de se esperar, uma vez que, em finais de março, um golpe de Estado levado a cabo por uma junta militar derrubou o presidente Amadou Toumani Touré. Poucas semanas mais tarde, o país estava dividido em dois. O sul é agora controlado pelo governo. No norte intensifica-se a luta entre rebeldes islamitas e tuaregues, cuja aliança foi, entretanto, desfeita.
Muitas pessoas no sul estão preocupadas com o que os diplomatas chamam de "integridade territorial", ou seja, com a soberania do Estado do Mali. E temem por membros da família que estão no norte.
"Queremos que o governo do Mali assuma finalmente a sua responsabilidade! O governo deve equipar-nos para podermos ir para a guerra. Estamos aqui para formar as nossas próprias unidades, um exército de civis. Os nossos irmãos do norte têm de se defender de mãos vazias! Eles lutam com paus e pedras contra armas Kalashnikov", revolta-se um manifestante.
Em março, depois do golpe de Estado, o caos político ajudou os rebeldes tuaregues no norte. Com armas pesadas, provenientes da Líbia, eles derrotaram com facilidade o exército republicano e conquistaram o vasto território de Azawad, no deserto. Só que agora o território de Azawad continua em disputa interna: nos últimos dias, o grupo extremista Ansar Dine e o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO) intensificaram a luta contra os tuaregues.
Crise humanitária
Por todo o norte esvoaça agora a bandeira negra dos islamitas. Eles querem introduzir a Sharia, a lei islâmica, e destruir os túmulos de santos muçulmanos em Timbuktu, patrimônio mundial da humanidade tombado pela UNESCO. Muitas pessoas fugiram com medo da violência, e as agências de ajuda falam numa catástrofe humanitária.
"Há mais de três meses que estamos nesta situação", conta outro manifestante. "Mulheres das nossas famílias estão a ser violadas lá em cima, no norte. E agora há crianças a morrer. Se o exército não fizer nada contra essas pessoas, então nós próprios e os nossos filhos iremos combater na frente da batalha!"
Os ataques contra a população civil devem ser resolvidos com urgência. No entanto, devido à situação tensa, não se deve brincar com o fogo, adverte o especialista Mathieu Guidère, da Universidade de Genebra, que classifica o Mali como um barril de pólvora e adverte para o perigo de uma guerra civil.
"Todos os que agora falam em guerra e vingança se arriscam a ver ainda mais refugiados e muitas mais vítimas do que as que já resultaram deste conflito. Definitivamente, primeiro é preciso um governo estável em Bamako, que lidere as negociações políticas com o norte. Mas ainda não temos um governo desse tipo. As consequências de uma entrada à força no norte seriam dramáticas, pelo menos enquanto a situação na capital não for estável."
No entanto, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) parece não querer esperar. Os líderes da CEDEAO pediram ao Conselho de Segurança da ONU que apoie uma resolução de envio de uma força de intervenção regional. A CEDEAO quer mandar mais de três mil soldados para o Mali, o mais breve possível. O grupo extremista Ansar Dine já ameaçou retaliar no caso de uma ação militar.
Autores: Alexander Göbel/Madalena Sampaio
Edição: Francis França/António Rocha