O momento de instabilidade que Moçambique atravessa está a aumentar o receio e a indignação dos moçambicanos, afetando a circulação rodoviária e ferroviária. Após o descarrilamento de um comboio de carga, na linha de Sena, foi suspensa a circulação de comboios de passageiros. E depois da morte de três pessoas em ataques na Estrada Nacional 1, no troço entre o Rio Save e Muxúnguè, na província central de Sofala, a circulação na região é feita em colunas militares.
Mesmo assim, com medo, muitas pessoas não se atrevem a fazer-se à estrada. Segundo José Mucote, diretor da Rádio Save em Nova Mambone, "já se sente alguma redução no abastecimento de bens nas regiões próximas do Save, por exemplo nos distritos de Govuro, Inhassoro, na província de Inhambane". Contudo, relativamente à população residente nas zonas onde se vive instabilidade, esta "está a levar a vida com tranquilidade", embora adiante que "as pessoas têm medo de pôr as suas viaturas na estrada".
O turismo sofre…
Também o setor do turismo já sente sinais do ambiente de crispação política entre o Governo e a RENAMO, principal partido da oposição. De acordo com informações obtidas pela DW África, após os ataques de homens armados (na última sexta-feira e esta segunda-feira), turistas que se encontravam no Parque Nacional da Gorongosa foram levados para a cidade da Beira.
E mais a sul, na província de Inhambane, também o administrador do Parque Nacional de Bazaruto, Luís dos Santos Namanha, lamenta que "a atual situação já [esteja] a afetar o movimento turístico do parque". Entretanto, diz Namanha, muitos turistas já cancelaram as suas viagens e "foram já cancelados dois casamentos porque os turistas ficaram com medo do que poderia acontecer".
… e outros setores também
Caso os ânimos entre o Governo e a RENAMO continuem exaltados, José Mucote, diretor da Rádio Save - que transmite, há algumas semanas, as emissões da DW África - teme consequências mais graves na região centro do país: "A escassez de produtos, em determinadas regiões, também terá um impacto negativo na economia" moçambicana, tal como a redução de investimento "e isso", continua Mucote, "terá impacto também na criação de emprego".
Algumas obras que estao a ser desenvolvidas em diferentes partes que dependem das movimentações de materias-primas neste troço poderão, segundo o diretor da Rádio Save, ser interrompidas. "Então", resume Mucote, "é a economia do país que está a ser afetada pela instabilidade".
Mas também há questões sociais: "alguns distritos fazem a transferência de doentes para Muxúnguè, portanto, este clima de medo poderá afetar a saúde pública", já que "poucos poderão optar por esta rota".
Quanto mais tempo perdurar o atual clima de instabilidade, maior será o impacto negativo sobre a economia moçambicana. Assim sendo, a população apela ao diálogo e a cedências das duas partes. José Mucote ausculta diariamente a população local e nota que cresce a indignação. "O sentimento geral da população é de medo, de repúdio e de indignação".
A dúvida, diz Mucote, prende-se com o que está por detrás do impasse nas negociações entre o Governo e a RENAMO, que, ao fim da sétima ronda negocial, realizada esta segunda-feira (24.06.), continuam sem avanços. No entanto, esta terça-feira (25.06.), dia em que se comemorou o 38º aniversário da independência de Moçambique, o Presidente Armando Guebuza garantiu que está determinado em dialogar com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.